Homilia de D. Anselmo Chagas de Paiva, OSB – XI Domingo do Tempo Comum (Ano A)

Como ovelhas sem pastor

Mt 9,36-10,8

 

Caros irmãos e irmãs,

 

Neste domingo, a Palavra que vamos refletir recorda-nos a presença constante de Deus no mundo e a vontade que Ele tem de oferecer a todos a sua vida e a sua salvação. No entanto, a intervenção de Deus na história humana concretiza-se através daqueles que ele chama e envia, para serem sinais vivos do seu amor e testemunhas da sua bondade.

 

A primeira leitura nos apresenta o Deus da “aliança”, que elege um Povo para com ele estabelecer laços de comunhão e de familiaridade. A esse Povo é confiada uma missão sacerdotal: Israel deve ser o Povo reservado para ser um sinal de Deus no meio das outras nações.

 

O evangelho narra a missão dos doze apóstolos escolhidos por Jesus. Sensibilizado pela necessidade do “rebanho sem pastor” (9,35), Jesus manda seus discípulos como operários da colheita messiânica (9,36-38). Em um primeiro momento, a missão se restringe à região de Israel (10,5), sem entrar nos povoados e cidades dos gentios espalhados na terra da Palestina e na diáspora. Depois da Ressurreição, porém, a missão se estenderá ao mundo inteiro (cf. Mc 16,15). Os discípulos devem anunciar a chegada do Reino por palavras e sinais, ou seja, curas e prodígios, assim como Jesus o fez.

 

Os doze Apóstolos não eram homens perfeitos, escolhidos pela sua irrepreensibilidade moral e religiosa. Eram discípulos de Jesus cheios de entusiasmo e de zelo, mas, ao mesmo tempo, marcados pelos seus limites humanos, às vezes até graves. Portanto, Jesus não os chamou porque já eram santos, completos, perfeitos, mas para que fossem transformados em novos homens, para com o exemplo, pudessem transformar as pessoas e a também a história.

 

A missão que os apóstolos recebem é a de pregar e de curar. Eles serão os colaboradores e os continuadores da missão de Jesus e deverão levar a proposta de salvação de Deus a todo o mundo.  Eles responderam positivamente a esse chamamento e seguiram Jesus; durante a caminhada que fizeram com Jesus, escutaram os seus ensinamentos e testemunharam os seus sinais. Após serem instruídos por Jesus podem agora ser enviados ao mundo, a fim de anunciar a todos a chegada do “Reino de Deus”.

 

No texto evangélico São Mateus explica inicialmente que a missão dos apóstolos é uma expressão da solicitude de Deus, que quer a salvação ao seu povo. O texto usa a expressão “messe” para indicar que essa missão é urgente.  O pedido que deve ser feito ao Senhor da messe é um apelo para que a comunidade contemple a missão como uma obra de Deus, que deve ser sequenciada com os seus critérios, por isso, a importância da oração.

 

São Mateus também deixa claro que a iniciativa do convite é de Jesus: Ele os chamou (cf. Mt 10,1). Não há qualquer explicação sobre as razões que o levaram a essa escolha: falar de vocação e de eleição é falar de um mistério insondável, que depende de Deus e que o homem nem sempre consegue compreender e explicar. O texto ressalta ainda o número dos discípulos: “doze”. Trata-se de um número simbólico, que lembra as doze tribos de Israel que formavam o antigo Povo de Deus. Por isso, pondo os doze no centro da sua nova comunidade, Jesus faz compreender que veio para completar o desígnio do Pai celeste. Esses “doze” discípulos representam simbolicamente a totalidade do novo Povo de Deus.

 

Em seguida, São Mateus define a missão que Jesus lhes confiou: “Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. De graça recebestes, de graça deveis dar” (Mt 10,8). Os espíritos impuros, as doenças e as enfermidades representam tudo aquilo que escraviza o homem e que o impede de chegar à vida em plenitude. A missão dos discípulos é, pois, lutar contra tudo aquilo que destrói a vida e o impede de chegar a uma felicidade plena.  Essas orientações de Jesus querem ressaltar que a palavra de Deus a ser transmitida deve ser acompanhada por uma prática transformadora.

 

Também o texto nos traz os nomes dos doze apóstolos: Simão Pedro; André; Tiago, filho de Zebedeu; João; Filipe; Bartolomeu; Tomé; Mateus; Tiago, filho de Alfeu; Tadeu; Simão o cananeu e Judas Iscariotes. As listas apresentadas pelos vários evangelistas apresentam diferenças, seja na ordem dos nomes, seja nos próprios nomes. Em todo caso, Pedro encabeça sempre a lista e Judas a conclui.  O nome de Pedro  vem no início, talvez por ser um personagem forte e que, ao longo da caminhada com Jesus, assumiu um certo protagonismo no grupo dos discípulos.

 

A missão dos discípulos aparece como um prolongamento da missão de Jesus. O anúncio, que é confiado aos discípulos, é o anúncio que Jesus fazia; os gestos que os discípulos são convidados a fazer para anunciar o Reino de Deus são os mesmos que Jesus fez; os destinatários da mensagem que Jesus apresentou são os mesmos da mensagem que os discípulos apresentam.

 

Como cenário de fundo desta catequese sobre o envio dos discípulos está o amor e a solicitude de Deus pelo seu Povo. Deus nunca se ausentou da história dos homens. Ele continua a construir a história da salvação e a insistir em levar o seu Povo ao encontro da verdadeira felicidade.

 

O Senhor Jesus continua a dizer a todos nós, e muito especialmente neste tempo de tantas inquietações, que a “messe é grande, mas os operários poucos” (Mt 10,37).  E a messe que não se recolhe a tempo, perde-se.  Para que haja muitos operários que trabalhem lado a lado e com entusiasmo neste campo do mundo, o próprio Senhor nos ensina o caminho a seguir: “Pedi pois ao dono da messe que envie trabalhadores para a sua colheita!” (Mt 10 10,37).

 

Precisamos pedir com frequência ao Senhor para que possa, no povo cristão, ressurgir muitos homens e mulheres que descubram o sentido vocacional da sua vida; e sejam bons e santos operários no campo do Senhor e saibam corresponder generosamente a esse chamado.

 

Lancemos uma vez mais o nosso olhar para Maria, a Virgem de Nazaré, que correspondeu, mais do que qualquer outra pessoa, à vocação de Deus, que se fez serva e discípula da Palavra até conceber no seu coração e na sua carne o Cristo Senhor para oferecê-lo à humanidade. Que ela interceda sempre por nos, para que possamos permanecer no amor de Cristo e possamos dar frutos abundantes, para glória de Deus e para a salvação do mundo.  Assim seja.

 

 

D. Anselmo Chagas de Paiva, OSB

Mosteiro de São Bento/RJ

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