Homilia de D. Henrique Soares da Costa – XI Domingo do Tempo Comum – Ano B

Ez 17,22-24
Sl 91
2Cor 5,6-10
Mc 4,26-34
Tão simples o evangelho de hoje; tão doce, tão cheio de sabedoria! Estejamos atentos, porque o Senhor nos falado Reino de Deus, Reino que começa aqui, experimentado quando nos abrimos para o anúncio de Jesus; Reino que será pleno na glória, quando cada um de nós e toda a humanidade, com a sua história, entrar, um dia, na plenitude do coração da Trindade santa.
O que nos diz o Senhor? Diz-nos que o Reino de Deus não é daquelas coisas vistosas, midiáticas, de sucesso humano. O Reino vem de modo humilde e se manifesta nas coisas pequenas… Pequenas como um grãozinho jogado na terra, como uma semente de mostarda, como um brotinho frágil e sem aparente valor… Quantas vezes buscamos os sinais da força de Deus na força humana, nos grandes eventos, nas realidades grandiloquentes. Não, não é aí que se encontra o Reino. O Reino é como o próprio Jesus: aquele brotinho, retirado da ponta da grande árvore da dinastia de Davi… aquele brotinho pobre, da carpintaria de Nazaré, donde nada que prestasse poderia vir… Ah, irmãos! Os modos de Deus, a lógica de Deus, o jeito de Deus! Como tudo é tão diverso de nossas expectativas!
Outra lição de hoje: o Reino vem aos poucos. Inaugurado e plantado definitivamente no chão deste mundo pelo nosso Jesus, ele irá crescendo como a semente, como o grão de mostarda, aos poucos. Somos tão impacientes, gostaríamos tanto que Deus respeitasse nossos prazos. Mas, não! Se os pensamentos do Senhor não são os nossos, tampouco seus tempos são iguais aos da gente! Atentos, irmãos, porque somente perseverará na paciência aquele que souber adequar-se aos tempos de Deus. E Deus contempla o tempo na perspectiva da eternidade e não das nossas pressas… Assim vai o Reino, brotando humildemente na história e no coração do mundo, de um modo que somente quem reza e contempla pode perceber…
Ainda uma outra lição do Senhor: Nós, filhos de um mundo tão pragmático e autossuficiente, temos tanta dificuldade em perceber a ação de Deus. Coitados que somos! Pensamos que nós é que fazemos, que nós é que somos os sujeitos últimos do mundo e da história! Presunçosa ilusão! É Deus quem, humilde, forte e fielmente, faz o Reino desenvolver-se na potência do Espírito. Que diz o Senhor? “O Reino de Deus é como quando alguém espalha a semente na terra. Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece!” Que imagem doce, bela, delicada… Nós, com a graça de Deus, vamos plantando o Reino que Cristo trouxe. Como plantamo-lo? Plantamos quando nos abrimos à graça, plantamos com nosso exemplo, plantamos com nossa palavra, plantamos com nossa ação… Mas, cuidado! É o próprio Deus, com a energia do Santo Espírito, quem faz o Reino crescer: é obra dele, não nossa. São Paulo não nos dizia? Um é o que planta, outro, o que rega, mas é Deus quem faz crescer… É assim, caríssimos, que, num mundo aparentemente esquecido por Deus, Deus vai agindo, tomando nossas pobres sementes e fazendo-as desabrochar no seu Reino, vigor, paciência e suavidade…
Um dia, diz Jesus, chegará o momento da colheita. Haverá um fim na história humana, caríssimos e, então,“todos deveremos comparecer às claras ante o tribunal de Cristo, para cada um receber a devida recompensa – prêmio ou castigo – do que tiver feito na sua vida corporal”. Não adiante querer esquecer, de nada serve fingir que não sabemos: aqui estamos de passagem, aqui, vamos semeando o Reino que Jesus trouxe e que Deus mesmo faz crescer; mas, a colheita definitiva não será nesta vida, pois o Reino que começa no tempo, haverá de espraiar-se na eternidade; o Reino que deve fecundar a história somente será pleno e definitivo na glória. Quanta é grande a tentação, hoje em dia, de nos ocuparmos com tantas futilidades, esquecendo que aqui estamos de passagem e somente lá é que permaneceremos para sempre! Como seríamos mais livres, equilibrados, seremos, se recordássemos essa realidade. Como teríamos o cuidado de viver de tal modo, que não perdêssemos o Reino. Sim, caros, porque é possível ficar fora do Reino! Não entrará no Reino quem não permitir que o Reino entre em si. Em certo sentido, não somos nós quem entramos no Reino, mas o Reino que entra em nós! Abrir-se para o Reino, é abrir-se para o Cristo Jesus! Abramo-nos para ele e ele nos abrirá o seu Reino!
Uma última lição de Jesus para nós, hoje: o seu sonho é que todos entrem no seu Reino, naquela casa do Pai, na qual há muitas moradas! É por isso que, na primeira leitura, pousarão todos os pássaros à sombra da ramagem da árvore que é o Messias, e as aves aí farão ninhos. O mesmo Jesus diz do Reino, comparado ao pequeno grão de mostarda que germina e se torna arvora frondosa. Eis, caríssimos, o Senhor nos ama a todos, nos deseja a todos, nos chama a todos! Se lhe dermos ouvidos, se aprendermos o compasso do seu coração, experimentaremos a alegria do Reino já nesta vida, com provações, e, um dia, haveremos de saboreá-lo por toda a eternidade! – Senhor Jesus, dá-nos, pois, a graça de abrir as portas do nosso coração e do coração do mundo para o Reino do Pai que anunciaste e inauguraste! Venha o Reino na potência do teu Espírito que habita em nós e no coração da Igreja! E que através de nós, ele se faça sempre mais presente no mundo. Amém.

D. Henrique Soares da Costa

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