Homilia do Mons. José Maria – XIV Domingo do Tempo Comum – Ano C

Portadores de Paz

O Evangelho (Lc 10, 1-12. 17-20) apresenta Jesus que envia setenta e dois discípulos aonde Ele deveria ir, a fim de que preparassem o ambiente. Diz Jesus: “a messe é grande, mas os trabalhadores são poucos” ( Lc 10, 2 ). No campo de Deus, há trabalho para todos.  Com a sua passagem, multiplicam-se os milagres: cegos que recuperam a vista, leprosos que ficam limpos, pecadores que decidem fazer penitência. E vão levando por toda a parte a paz de Cristo. O próprio Senhor os encarrega disso, antes de deixá-los partir para essa missão apostólica: Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: A paz esteja nesta casa! Se ali morar um amigo da paz, a vossa paz repousará sobre ele… Esta mensagem será repetida pela Igreja até o fim dos tempos.

Depois de tantos anos, ainda vemos que o mundo não está em paz; anseia e clama por ela, mas não a encontra.

Poucas vezes como no nosso tempo se mencionou tanto a palavra paz, e talvez poucas vezes como no nosso tempo a paz esteja tão longe do mundo.

Talvez o mundo esteja buscando a paz onde não a pode encontrar; talvez a confunda com a tranquilidade; talvez a faça depender de circunstâncias externas e alheias ao próprio homem. A paz vem de Deus e é um dom divino “que supera todo entendimento” (Fil. 4,7), e que se concede somente aos homens de boa vontade (Lc 2,14), aos que procuram com todas as suas forças conformar a sua vida com o querer divino.

Ensinava São Josemaria Escrivá: “A paz, que traz consigo a alegria, o mundo não a pode dar.

– Os homens estão sempre fazendo pazes, e andam sempre enredados em guerras, porque esqueceram o conselho de lutar por dentro, de recorrer ao auxílio de Deus, para que Ele vença, e assim consigam a paz no seu próprio eu, no seu próprio lar, na sociedade e no mundo.

– Se nos comportarmos deste modo, a alegria será tua e minha, porque é propriedade dos que vencem. E com a graça de Deus – que não perde batalhas – chamar-nos-emos vencedores, se formos humildes” (Forja, 102).

Então seremos portadores da paz verdadeira, e a levaremos como um tesouro inestimável aos lugares onde estivermos: à família, ao local de trabalho, aos amigos…, ao mundo inteiro.

“A violência e a injustiça, frisa São João Paulo II, têm raízes profundas no coração de cada indivíduo, de cada um de nós.” Do coração procedem “todas as desordens que os homens são capazes de cometer contra Deus, contra os irmãos e contra eles próprios, provocando no mais íntimo das suas consciências uma ferida, uma profunda amargura, uma falta de paz que necessariamente se reflete no entrançado da vida social. Mas é também do coração humano, da sua imensa capacidade de amar, da sua generosidade para o sacrifício, que podem surgir – fecundados pela graça de Cristo – sentimentos de fraternidade e obras de serviço aos homens que como rio de paz (Is 66,12), cooperem para a construção de um mundo mais justo, onde a paz tenha foro de cidadania e impregne todas as estruturas da sociedade.” (Beato Álvaro Del Portillo, Homilia). A paz é consequência da graça santificante, como a violência, em qualquer das suas manifestações, é consequência do pecado.

A vida do cristão converte-se, então, numa luta alegre por rejeitar o mal e alcançar Cristo. Nessa luta, encontra uma segurança cheia de otimismo, mas quando pactua com o pecado e os seus erros, acaba por perdê-la, e converte-se numa fonte de mal-estar ou de violência para si próprio e para os outros.

O cristão que vive de fé, consciente da sua estirpe divina, é o homem de paz que contagia serenidade; passa-se bem ao seu lado, e todos procurarão a sua companhia.

Unicamente em Cristo encontraremos a paz de que tanto necessitamos para nós mesmos e para que os que estão mais perto. Recorramos a Ele quando as contrariedades da vida pretenderem tirar-nos a serenidade da alma. Recorramos ao Sacramento da Penitência (Confissão) e à direção espiritual se, por não termos lutado suficientemente, a inquietação e o desassossego entrarem no nosso coração.

A presença de Cristo no coração dos seus discípulos é a origem da verdadeira paz, que é riqueza e plenitude, e não simples tranquilidade ou ausência de dificuldades e de luta. São Paulo afirma que o próprio Cristo é a nossa paz (Ef 2,14); possuí-Lo e amá-Lo é a origem de toda a serenidade verdadeira.

Peçamos a Nossa Senhora, Rainha da Paz, que saibamos recorrer, com humildade, às fontes da paz: o Sacrário, a Confissão, a direção espiritual, se virmos que o desassossego, o temor, a tristeza ou o rancor querem penetrar no nosso coração e comprometer a nossa missão de paz.

Rainha da Paz, rogai por nós!

Mons. José Maria Pereira

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