Homilia do Mons. José Maria – XXV Domingo do Tempo Comum – Ano B

Luta contra as paixões, defeitos…

No Evangelho (Mc 9, 30-37), Jesus anuncia pela segunda vez aos discípulos a sua Paixão, Morte e Ressurreição e lhes dá uma lição de humildade e serviço.

Dizia-lhes com toda a clareza: “O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão, e Ele ressuscitará ao terceiro dia”. Mas os discípulos, que tinham formado outra ideia acerca do futuro reino do Messias, não compreendiam estas palavras e temiam interrogá-lo. Enquanto Jesus anuncia a sua paixão, um fato que nos chama a atenção é atitude dos discípulos que discutem entre si “qual deles era o maior.”

Por isso, ao chegarem a Cafarnaum, quando estavam em casa, Jesus questiona o assunto da conversa: “o que vocês estavam discutindo pelo caminho? Eles, porém, ficaram calados, pois pelo caminho tinham discutido quem era o maior.”

Como naquele momento com os apóstolos, hoje também, Jesus precisa colocar diante de nós uma criança e dizer-nos sempre de novo: “Se alguém quiser ser o primeiro, seja o último e aquele que serve a todos. Aquele que receber uma destas crianças por causa de meu nome, a mim recebe” (Mc 9, 35-36).

O que nos diz tudo isto? Recorda-nos que a lógica de Deus é sempre “outra” em relação à nossa, como o próprio Deus revelou pela boca do Profeta Isaías: “Os meus pensamentos não são os vossos, e o vosso modo de agir não é o meu” (Is 55, 8). Por isso, seguir o Senhor exige sempre do homem uma profunda conversão – de todos nós – uma mudança do modo de pensar e de viver, requer que abramos o coração à escuta, para nos deixarmos iluminar e transformar interiormente. Um ponto – chave em que Deus e o homem se diferenciam é o orgulho: em Deus não há orgulho, porque Ele é toda a plenitude e está totalmente propenso para amar e dar vida; em nós homens, ao contrário, o orgulho está intimamente arraigado e exige vigilância e purificação constantes. Nós, que somos pequeninos, aspiramos a parecer grandes, a ser os primeiros; enquanto Deus, que é realmente grande, não tem medo de se humilhar e de se fazer último.

 Jesus não nega o desejo existente no coração humano de ser grande, de ser o primeiro. Dá, porém, a chave para consegui-lo. Trata-se de imitar o Filho do Homem no seu mistério pascal. Morrer e ressuscitar, entregando-se por amor. Para ser o primeiro devemos ser o último, aquele que serve a todos. E para servir a todos é preciso morrer a si mesmo, aos próprios interesses, aos critérios de poder e de grandeza humanos.

Servir a todos é acolher a uma criança pelo valor que nela existe, é empregar tempo no serviço àqueles que como uma criança no tempo de Cristo, e hoje, não têm importância, não podem dar recompensa, não têm meios de compensar as nossas ações feitas.

Quem entendeu realmente este ensinamento de Jesus Cristo, começa a ver as coisas de modo diferente. Não mais na visão meramente humana. Em vez de pensar em si mesmo, começa a ver a necessidade do próximo. É urgente que lutemos para superar nossas limitações humanas, que sejamos mais dedicados, pacientes, perseverantes, capazes de escolher umas coisas e desistir de outras.

E nós, o que fazemos para sermos melhores diante de Deus? Há diariamente combates no nosso coração. Cada qual luta na sua alma contra uma turma da pesada. Os inimigos são: soberba, vaidade, avareza, gula, sensualidade, preguiça. E todos temos defeitos e misérias, uns nisso, outros naquilo. O Apóstolo São Tiago ensina: “Onde há inveja e rivalidade, aí estão as desordens e toda espécie de obras más” (Tg 3, 16). “De onde vêm as guerras entre vós? De onde vêm as brigas entre vós? Não vêm, justamente, das paixões que estão em conflito dentro de vós?” (Tg 4, 1). Precisamos lutar para tirar os obstáculos e permitir que Deus atue. Já dizia Santo Agostinho: Deus que nos criou sem a nossa participação, não nos salvará sem a nossa participação.

Assim, como nos esforçamos para deixar a vida de Deus crescer em nós? Como lutamos contra as paixões, os defeitos, o pecado, o mau gênio? A luta será concreta se mantivermos os momentos diários de oração, sem nos deixarmos levar pelo gosto; em viver a caridade, corrigindo as formas duras do nosso mau caráter; em realizar bem o trabalho e oferecê-lo a Deus; em cuidarmos da nossa formação cristã; em cumprir com pontualidade o dever; em praticar a justiça. 

Para alcançarmos essa meta, para termos a visão sobrenatural das coisas, dos acontecimentos, precisamos da virtude da humildade. O que considera pouca coisa diante de Deus, o humilde, vê; o que está contente com o seu próprio valor não percebe o sobrenatural.

A humildade não é mais uma virtude. É a virtude básica! “Pela senda da humildade vai-se a toda parte…, fundamentalmente ao Céu.” (Sulco, 282).

Acredito ser oportuno meditar, fazer um exame de consciência para saber como estamos vivendo a virtude da humildade.

Os santos nos ensinam a adquirir a virtude básica de nossa vida cristã!

“Deixa-me que te recorde, entre outros, alguns sinais evidentes de falta de humildade:

— pensar que o que fazes ou dizes está mais bem feito ou dito do que aquilo que os outros fazem ou dizem; – querer levar sempre a tua avante;

– discutir sem razão ou – quando a tens – insistir com teimosia e de maus modos;

– dar o teu parecer sem que to peçam, ou sem que a caridade o exija;

– desprezar o ponto de vista dos outros;

– não encarar todos os teus dons e qualidades como emprestados;

– não reconhecer que és indigno de qualquer honra e estima, que não mereces sequer a terra que pisas e as coisas que possuis;

– citar-te a ti mesmo como exemplo nas conversas;

– falar mal de ti mesmo, para que façam bom juízo de ti ou te contradigam;

– desculpar-te quando te repreendem;

– ocultar ao Diretor algumas faltas humilhantes, para que não perca o conceito que faz de ti;

– ouvir com complacência quando te louvam, ou alegrar-te de que tenham falado bem de ti;

– doer-te de que outros sejam mais estimados do que tu;

– negar-te a desempenhar ofícios inferiores;

– procurar ou desejar singularizar-te;

– insinuar na conversa palavras de louvor próprio ou que deem a entender a tua honradez, o teu engenho ou habilidade, o teu prestígio profissional…;

– envergonhar-te por careceres de certos bens… (São Josemaria Escrivá, Sulco, 263).

Deus resiste aos soberbos! “… dispersou os que têm planos orgulhosos… e exaltou os humildes” (Lc 1, 51-52).

Peçamos continuamente: “Jesus manso e humilde de coração fazei o nosso coração semelhante ao vosso”.

“Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos” (Mc 9, 35).

Maior é aquele que serve! Na comunidade cristã, a única grandeza é a grandeza de quem, com humildade e simplicidade, faz da própria vida um serviço aos irmãos.

Aquilo que nos deve mover é a vontade de servir e de partilhar com os irmãos os dons que Deus nos concedeu.

Mons. José Maria Pereira

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