Homilia do Mons. José Maria – XXVII Domingo do Tempo Comum – Ano B

Futuro da Humanidade

As leituras bíblicas deste domingo levam à reflexão sobre o tema da família.

No Antigo Testamento, em Gn 2,18-24, lê-se que Deus faz desfilar perante o homem “todos os animais dos campos e todas as aves do céu”, para que desse o nome a cada um deles e visse se entre eles encontrava “uma auxiliar semelhante a ele.”

Adão põe o nome a cada um dos animais, mas nenhum deles satisfaz a sua necessidade de companhia e amor.

Então diz o Senhor Deus: “Não é bom que o homem esteja só. Vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele.” E Deus cria a mulher e quando esta é apresentada ao homem, este prorrompe numa exclamação de alegria, reconhecendo nela a companheira ideal: “Desta vez, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne!” O texto termina por afirmar: “Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e eles serão uma só carne”.  A indissolubilidade do matrimônio encontra nestas palavras o seu fundamento, a sua razão de ser profunda e sagrada.

O Evangelho (Mc 10, 2-16) apresenta os fariseus que se aproximam de Jesus para tentá-Lo, para fazê-Lo entrar em conflito com a Lei de Moisés. Perguntam a Jesus se era lícito ao marido repudiar a sua mulher. Jesus retoma o texto de Gn 2 (citado acima) e declara que o casamento é indissolúvel; isto desde a origem, conforme fora instituído por Deus, no princípio da criação.

Diz Jesus: Quem repudia sua mulher e se casa com outra comete adultério contra a primeira (Mc 10,11). Não há por que duvidar: Jesus com essas palavras exclui precisamente aquilo que nós chamamos de divórcio.

O divórcio! Não falar disso, neste caso, somente porque o assunto se tornou melindroso, seria fugir do Evangelho. Terríveis são os males do divórcio jurídico: mulheres condenadas à solidão, filhos destruídos psicologicamente pela escolha penosa que devem fazer entre a própria mãe e o próprio pai. Conheço crianças nesta situação; depois que vi seus olhos, não preciso ouvir mais conferências sobre os males do divórcio: os vi todos estampados naqueles olhos de passarinho ferido.

“O homem não separe” significa sim: a lei humana não separe; mas significa também, e antes de tudo: o marido não separe a mulher de si; a mulher não separe de si o marido.

Jesus lembra a unidade: “… e os dois formarão uma só carne.” (Mc. 10,8), isto é, quase uma só pessoa, com a concórdia nos mesmos projetos e sentimentos; implicitamente inculca a construir sobre a unidade e renová-la cada dia. Como? Procurando resolver logo que surgem os problemas, as incompreensões, as friezas. Depois a confiança recíproca; esta é como um lubrificante; falar, comunicar as próprias dificuldades e também tentações. Enquanto há confiança recíproca, o divórcio fica longe.

Devemos nos convencer de que tudo isto não basta e que são necessários os meios espirituais: sacrifício e oração. Se o matrimônio encontra tanta dificuldade de se manter unido, é porque enfraqueceu o espírito de sacrifício e se quer só receber do outro antes de dar ao outro.

A dignidade do matrimônio e a sua estabilidade é um dos temas que mais importa defender e fazer com que muitos compreendam. Pois, a saúde moral dos povos está ligada ao bom estado do matrimônio. Quando este se corrompe, podemos afirmar que a sociedade está doente, gravemente doente.

Por isso, todos temos que rezar e velar pelas famílias com tanta urgência!

Os que se casam iniciam juntos uma vida nova que devem percorrer na companhia de Deus. É o próprio Senhor que os chama para que cheguem a Ele por esse caminho, pois o matrimônio é uma autêntica vocação sobrenatural. Sacramento grande em Cristo e na Igreja (Ef. 5,32), diz São Paulo; sinal sagrado que santifica, ação de Jesus que se apossa da alma dos que se casam e os convida a segui-Lo, transformando toda a vida matrimonial num caminhar divino sobre a terra.

Não esqueçamos que a primeira coisa que o Messias quis santificar foi um lar. O primeiro milagre que Jesus fez foi no Casamento, em Caná da Galiléia (Jo 2, 1-11). E que é precisamente nas famílias alegres, generosas, cristãmente sóbrias, que nascem as vocações para a entrega plena a Deus na virgindade ou no celibato. Todas elas representam um dom que Deus concede muitas vezes aos pais que rezam pelos filhos de todo o coração e com constância.

Que as famílias possam manter-se fiéis à sua vocação em cada época da vida, “na alegria e no sofrimento, na saúde e na doença”, como prometeram no rito sacramental. Conscientes da graça recebida, possam os cônjuges cristãos construir uma família aberta à vida e capaz de enfrentar unida os numerosos e complexos desafios deste nosso tempo. Hoje, há particularmente necessidade do seu testemunho. Há necessidade de famílias que não se deixem arrastar pelas modernas correntes culturais inspiradas no hedonismo e no relativismo, e estejam prontas a realizar com generosa dedicação a sua missão na Igreja e na sociedade

A família, tal como Deus a quis, é o lugar idôneo para tornar-se, com o amor e o bom exemplo dos pais, dos irmãos e dos outros membros do círculo familiar, uma verdadeira escola de virtudes em que os filhos se formem para serem bons cidadãos e bons filhos de Deus. É no meio da família firmemente voltada para Deus que cada um pode encontrar a sua própria vocação, aquela a que Deus o chama.

Numa época, em que muitos procuram destruir ou desfigurar a família, é urgente proclamar o Plano de Deus sobre o Matrimônio e a Família. Não é uma norma da Igreja, é Plano de Deus, reafirmado por Cristo.

A Missão dos pais é repetir o gesto das mães israelitas: levar seus filhos a Jesus, para que, abençoados por Ele e crescendo na sua escola, conservem a inocência e sejam um dia recebidos no reino dos Céus, preparado para eles.

O Documento de Aparecida diz: “Cremos que a família é imagem de Deus que em seu mistério mais íntimo não é uma solidão, mas uma família. Na comunhão de amor das Três Pessoas Divinas, nossas famílias têm sua origem, seu modelo perfeito, sua motivação mais bela e seu último destino” (434).

Na resposta aos fariseus, jesus acrescentou: “… Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe!” (Mc 10, 8-9). É este o projeto originário de Deus, como recordou também o Concílio Vaticano ll, na Constituição Gaudium et Spes:  “A íntima comunidade conjugal de vida e amor foi fundada e dotada de leis próprias pelo Criador; baseia-se na aliança dos cônjuges… o próprio Deus é o autor do Matrimônio” (n. 48 ).

Na Exortação Apostólica Familiaris Consortio, São João Paulo ll escreveu que o “Sacramento do Matrimônio constitui os cônjuges e os pais cristãos testemunhas de Cristo “até aos confins do mundo”, verdadeiros e próprios “missionários” do amor e da vida” (cf. n. 54 ). Esta missão é direta quer no interior da família – especialmente no serviço recíproco e na educação dos filhos – quer no exterior: de fato, a comunidade doméstica está chamada a ser sinal do amor de Deus para com todos. Trata-se de uma missão que a família cristã só pode realizar se estiver amparada pela Graça divina. Por isto é necessário rezar incessantemente e perseverar no esforço quotidiano para manter os compromissos assumidos no dia do Matrimônio.

A família é insubstituível para a serenidade pessoal e para a educação dos filhos.

A família é um dos tesouros mais importantes dos povos, é patrimônio da humanidade inteira. “O futuro da humanidade passa pela família” (São João Paulo II).

A oração, a melhor é aquela feita juntos, marido e mulher. Rezemos pelos casais e para aqueles que estão se encaminhando ao matrimônio; que o Senhor afaste deles o divórcio do coração e o divórcio jurídico. Sobre todas as famílias, especialmente sobre as que estão em dificuldade, invoquemos a proteção materna de Nossa Senhora e do seu esposo São José.

Maria, Rainha da família, rogai por nós.

Mons. José Maria Pereira

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