Homilia do Padre Françoá Costa – Domingo de Páscoa

Glória de Deus, vida do homem

A expressão acima é um resumo da frase de S. Irineu de Lyon: “a glória de Deus é o homem vivo e a vida do homem consiste em ver a Deus”. Vamos refletir nessas duas realidades nesse dia de festa e alegria, pois Cristo ressuscitou, aleluia!!!

Romano Guardini, famoso teólogo ítalo-alemão, afirmou no seu célebre livro “A essência do Cristianismo” que “Cristo fala não somente com palavras, mas com todo o seu ser. Tudo o que ele é, é revelação do Pai. Então é quando o conceito de revelação alcança toda a sua plenitude. O racionalismo, que tanto influenciou no pensamento cristão situa a essência da revelação no pensamento que se revela e na palavra que o expressa. A palavra que a boca fala não é, porém, mais que uma parte de uma palavra mais ampla, isto é, daquela palavra que consiste na plenitude do ser. Cristo é a palavra, inclusive quando “não abre a boca e quando não fala”. Toda a sua essência é palavra”.

Hoje, neste domingo de Páscoa, o Cristo glorioso manifesta de maneira excelente o seu ser e, desse modo, nos está revelando plenamente o poder do Pai nele e o quanto ele pode no Pai. Cristo se manifesta e a sua auto-manifestação é, para nós, e ao mesmo tempo revelação de Deus numa plenitude sem precedentes. Por outro lado, é também revelação da humanidade glorificada em Jesus na sua novidade mais radical.

Puxa vida, será que eu falei difícil? Vejamos: o Cristo ressuscitado manifesta, de maneira gloriosa, o poder de Deus em favor da humanidade. É Deus que irrompe mais uma vez neste mundo fazendo com que o corpo morto do Senhor passe, sem corromper-se, a um estado glorioso do qual participam todos os homens em Cristo. Deus, que veio revelando-se há séculos aos seres humanos e em favor deles, manifestou de maneira excelente qual era o fim das constantes preocupações de Deus pelo homem: o Senhor, no seu amor, o queria salvar. Essa salvação não é somente uma salvação temporal, dos males presentes. Trata-se de algo muito mais profundo: Deus desce até o abismo da morte, até o mais profundo das misérias humanas, para resgatá-lo e trazê-lo à vida. Como consequência desta profunda libertação vêm também as distintas libertações que redundam em bem de toda a sociedade temporal.

Contudo, a Ressurreição não é só a manifestação de Deus em favor do homem, mas também é a manifestação da glória à qual está chamada toda a natureza humana. O homem foi criado para a felicidade, para a imortalidade, para estar eternamente com Deus. Aquilo que o Concílio Vaticano II dissera de que só Cristo revela ao homem o que é o homem, se manifesta, de maneira plena, na glorificação de Jesus. Toda pessoa humana está chamada à plenitude de vida que Cristo manifesta em sua humanidade glorificada.

Dizíamos antes que a palavra é a plenitude do ser. Cristo, Palavra do Pai, é plenitude. Cada um de nós também está chamado a manifestar a plenitude do próprio ser em Cristo. Ser em outro poderia ser algo pobre; mas quando esse alguém no qual se é nada mais é que o próprio perfeito Deus e perfeito Homem, então ser em Cristo-Deus aparece como algo incomensuravelmente maior que ser em si mesmo e segundo os próprios critérios.

Afinal, quem pode fazer-se a si mesmo? É preciso começar a reconhecer essa verdade basilar: somo criaturas! Num segundo momento, precisamos dar-nos conta de outra verdade que enriquece toda a nossa vida: a nossa finalidade é a felicidade. Somos seres finalizados, destinados à bem-aventurança eterna, à felicidade sem fim. Ficaríamos verdadeiramente frustrados se não alcançássemos o fim para o qual somos feitos e para o qual nos propusemos.

Rezando hoje ao Todo-poderoso e Senhor Cristo Ressuscitado, nosso Deus e único Salvador, reafirmaremos também a nossa esperança nele e a nossa fé firmíssima de alcançar o fim para o qual ele nos criou. O dia de hoje foi feito para nós, para que exaltássemos o nosso Deus ressuscitado e contemplássemos nele a glória da nossa humanidade.

Vamos também felicitar Nossa Senhora com a oração que lhe dirigiremos durante todo o Tempo Pascal, o “Regina Coeli”:

V. Rainha do céu, alegrai-vos, aleluia.

R. Porque quem merecestes trazer em vosso seio, aleluia.

V. Ressuscitou como disse, aleluia.

R. Rogai a Deus por nós, aleluia..

V. Exultai e alegrai-vos, ó Virgem Maria, aleluia.

R. Porque o Senhor ressuscitou verdadeiramente , aleluia.

Oremos. Ó Deus, que vos dignastes alegrar o mundo com a Ressurreição do vosso Filho Jesus Cristo, Senhor Nosso, concedei-nos, vos suplicamos que por sua Mãe, a Virgem Maria, alcancemos as alegrias da vida eterna. Por Cristo, Senhor Nosso. Amém.


Feliz Páscoa!

Pe. Françoá Costa


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