Homilia do Padre Françoá Costa- X Domingo do Tempo Comum (Ano C)

Uma vida cheia de sentido

– Quem diria? O filho da viúva está vivo de novo.

– Vivo de novo? Que história é essa? Ele já morreu alguma vez?

– Você não sabe o que aconteceu? Foi incrível! Eu estava lá e vi quando Jesus lhe disse que se levantasse do caixão. Que susto! Eu nunca tinha visto coisa igual.

– Por mais estranho que pareça, o fato é que ele é um jovem fantástico: bem educado, cuida da mãe e é um rapaz trabalhador e serviçal.

Esse tipo de conversa, algum tempo depois da ressurreição do filho da viúva de Naim, seria bastante normal. O diálogo acima poderia ser de duas senhoras que, enquanto lavavam a roupa, comentariam o assunto, pois “a notícia deste fato correu por toda a Judéia e por toda a circunvizinhança” (Lc 7,17). E não é para menos! Um morto que já não está morto! Por outro lado, o que tem de estranho que aquele que se levantaria da região dos mortos na manhã do domingo que seguiria à sua morte na cruz, ressuscite a um jovenzinho?

A surpresa daquelas senhoras seria grande. Deve ter sido impressionante! Imagine se isso acontecesse com você? Num dia que você é incapaz de identificar, você se levanta de um caixão sem saber muito bem o que está acontecendo, tendo por todos os lados uma multidão pasmada, admirada, com medo, boquiaberta. É quase para morrer de susto! Eu acho que aquele jovem não se esqueceria dessa cena por todos os anos que durassem a sua segunda vida.

Logicamente, o rapaz não esperava ser ressuscitado. Jesus, “movido de compaixão” (Lc 7,13) para com a mãe do garoto, a viúva de Naim, foi quem o ressuscitou. Quão doloroso para uma mãe viúva ver sepultada a sua última esperança, o seu filho único! Pobre mulher! O que a esperaria se Jesus não houvesse ressuscitado o seu filho? Solidão, dor, noites entre lágrimas e, talvez, muita fome. O garoto que estava no caixão não era só a consolação daquela pobre mulher, mas também era a possibilidade de que ela levasse uma vida mais ou menos confortável durante os seus últimos anos de vida. Jesus compreende a situação das pessoas e não fica indiferente diante do sofrimento humano. O Senhor fez esse milagre por compaixão. Um amigo meu disse certa vez que Jesus fez esse milagre pensando na sua mãe, Maria, que dentro de pouco tempo estaria só: vendo o futuro da sua mãe sem o seu Filho único, se compadece da viúva de Naim e faz o milagre. Não sei se o meu amigo tem razão, mas é, sem dúvida, uma reflexão inteligente.

Talvez fosse mais confortável para aquele garoto continuar morto, pois ele “descansava em paz”. No entanto, ele era útil para outras pessoas. O Senhor quis que aquele jovem ficasse aqui na terra mais alguns anos. É importante que nós também compreendamos que a nossa vida só tem sentido em relação a Deus e aos demais, que nós não vivemos para nós mesmos. Deus espera que nós trabalhemos na salvação das pessoas. Morreremos somente quando Deus quiser depois de trabalhar muito pela sua glória e pela salvação dos irmãos. Deus espera que cada um de nós seja útil para o próximo, que a nossa vida seja colocada a serviço da humanidade, de cada pessoa que temos à nossa volta.

Anos mais tarde, depois de ajudar a sua mãe e de vê-la morrer em paz, o nosso jovem, que já não seria tão jovem, passaria novamente pela porta da cidade levado pelos outros. Tinha morrido pela segunda vez! Jesus já não apareceria para ressuscitá-lo pela terceira vez. E até hoje o nosso jovem continua esperando a ressurreição dos mortos que acontecerá nos últimos dias.

Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa

Facebook
Twitter
LinkedIn

Biblioteca Presbíteros