Homilia do Pe. Françoá Costa – XI Domingo do Tempo Comum – Ano B

Apostolado de filhos de Deus

 

Você sabe como é um grande jogo de futebol. Antes do jogo, há uma concentração para os atletas e uma preparação psicológica para os torcedores. A televisão dá notícias da situação histórica das duas equipes: pontos ganhos e pontos perdidos, titulares que vão começar jogando e reservas que vão para o banco.

De repente, as equipes entram em campo. Muitas palmas, rojões, bandeiras se agitam e a emoção toma conta de todos. Começa a partida. Bola na trave, a torcida vibra, grita, pula. Alguém aproveita o rebote, enche o pé… é gooool! Um mar humano se levanta e delira, agitando as mãos e gritando em coro. O artilheiro dá cambalhotas, cai de joelhos, jogadores se abraçam. É festa! Uma grande “celebração”, num rito solene de alegria expressado por todos os gestos. Caso seja o fim de campeonato, pode haver alguém atravessando o estádio de joelhos com as mãos erguidas para o céu, o povão invadindo o gramado e carregando os heróis.

Quanta emoção! Tudo aqui é esplendor, é festa. Parece bastante diferente do que acontece com a semente lançada à terra, comparada ao Reino de Deus, que o Senhor nos conta hoje. No entanto, apesar de a semente não crescer com um espetáculo comparado a um jogo de futebol, nós, apóstolos do Reino de Deus precisamos ter um entusiasmo semelhante para anunciá-Lo. Fá-lo-emos com grande alegria, com todo o entusiasmo, pois sabemos que essa semente vai crescer e produzir muitos frutos, frutos abundantes, frutos de vida eterna.

São Jerônimo explicava a parábola do grão que germina dizendo que a semente simboliza o Verbo da vida, Jesus Cristo; a terra, os corações dos homens. A semente cai na terra. O dormir do semeador é comparado à morte de Jesus Cristo, pois depois da morte de Cristo o número de fiéis cresce cada vez mais entre adversidades e bonanças.

A semente de mostarda, que tem um diâmetro aproximado de 1,6 milímetros, resultava numa árvore que às margens do lago da Galileia media entre 2 a 4 metros. Os primeiros cristãos começaram a lançar a semente do Reino de Deus. Curioso! Enquanto mais perseguidos, mais aumentava o número de cristãos. Tanto é assim que Tertuliano, um advogado que se converteu ao cristianismo no ano 197 e que depois passou a ser catequista na Igreja, dizia que “o sangue dos mártires é a semente de novos cristãos”. Hoje como outrora, não somos a maioria da população, mas continuamos chamados a conquistar o mundo para Cristo.

Olhemos mais uma vez para os nossos irmãos da aurora do cristianismo, agora através da epístola a Diogneto, um dos primeiros escritos cristãos: “Os cristãos, de fato, não se distinguem dos outros homens, nem por sua terra, nem por sua língua ou costumes. Com efeito, não moram em cidades próprias, nem falam língua estranha, nem têm algum modo especial de viver. Sua doutrina não foi inventada por eles, graças ao talento e a especulação de homens curiosos, nem professam, como outros, algum ensinamento humano. Pelo contrário, vivendo em casas gregas e bárbaras, conforme a sorte de cada um, e adaptando-se aos costumes do lugar quanto à roupa, ao alimento e ao resto, testemunham um modo de vida admirável e, sem dúvida, paradoxal. Vivem na sua pátria, mas como forasteiros; participam de tudo como cristãos e suportam tudo como estrangeiros. Toda pátria estrangeira é pátria deles, a cada pátria é estrangeira. Casam-se como todos e geram filhos, mas não abandonam os recém-nascidos. Põe a mesa em comum, mas não o leito; estão na carne, mas não vivem segundo a carne; moram na terra, mas têm sua cidadania no céu; obedecem as leis estabelecidas, as com sua vida ultrapassam as leis; amam a todos e são perseguidos por todos; são desconhecidos e, apesar disso, condenados; são mortos e, deste modo, lhes é dada a vida; são pobres e enriquecem a muitos; carecem de tudo e tem abundância de tudo; são desprezados e, no desprezo, tornam-se glorificados; são amaldiçoados e, depois, proclamados justos; são injuriados, e bendizem; são maltratados, e honram; fazem o bem, e são punidos como malfeitores; são condenados, e se alegram como se recebessem a vida. Pelos judeus são combatidos como estrangeiros, pelos gregos são perseguidos, a aqueles que os odeiam não saberiam dizer o motivo do ódio”.

Talvez o que impede sermos apóstolos entusiasmados da Boa-Nova seja o nosso comodismo: já têm muitas pessoas falando de Jesus, eu… para quê? Minha mãe já reza bastante, desse jeito todo o mundo se converterá, inclusive eu. Meu irmão já vai à Missa todos os domingos, para que irei eu?

Também a falta de fé impede a evangelização que devemos, como cristãos, realizar. Muitos católicos vivem aburguesados, estão tranquilos por falta de fé. Se a fé fosse viva, se a caridade ardesse em seus corações quereriam conquistar todos para Deus, fazendo apostolado com a sua vida e com a sua palavra de fogo em todos os ambientes dessa nossa sociedade.

A falta de estratégia as vezes nos deixa na inatividade: conversas vulgares, sempre as mesmas (além das piadas malsonantes, vocabulário baixo). É preciso saber elevar o nível, fazer-nos amigos de nossos conhecidos, atrai-los através da mansidão. Mãe, um segredo: não se consegue a conversão dos filhos aos gritos. Jovem, você não conseguirá a conversão daquele seu amigo sem rezar e sem se sacrificar por ele. É preciso viver a caridade através dos serviços que prestamos; fazer com que eles, através da nossa amizade, abram o coração; enfim, precisamos fazer um apostolado de amizade, esse dá certo em qualquer ambiente: no trabalho, na escola, na faculdade, nas fábricas, nos laboratórios etc. Como apóstolos dos tempos modernos, o que precisamos é ter uma grande confiança no Senhor. Com fé, esperança e caridade, seguiremos avante, por Cristo e com Cristo.

Pe. Françoá Costa

 

 

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