Roteiro Homilético – Batismo do Senhor – Ano C

RITOS INICIAIS

 Mt 3, 16-17

ANTÍFONA DE ENTRADA: Depois do Baptismo do Senhor, abriram-se os Céus. Sobre Ele desceu o Espirito Santo em figura de pomba e fez-Se ouvir a voz do Pai: Este é o meu Filho muito amado, no qual pus as minhas complacências.

 

Diz-se o Glória.

 

Introdução ao espírito da Celebração

 

A celebração do Baptismo do Senhor, inserida no contexto de Natal é também um apelo ao mistério pascal de Jesus Cristo.

Jesus Cristo é apresentado como Filho amado do Pai; como O ungido pelo Espírito Santo. E Ele mesmo se apresenta numa docilidade total ao projecto do Pai, e que se faz oferta total a todos.

Celebrar a Eucaristia é ser responsável por uma vida cristã dinâmica, chamada a ser comunhão plena com Deus e com os irmãos.

 

ORAÇÃO COLECTA: Deus eterno e omnipotente, que proclamastes solenemente a Cristo como vosso amado Filho quando era baptizado nas águas do rio Jordão e o Espírito Santo descia sobre Ele, concedei aos vossos filhos adoptivos, renascidos pela água e pelo Espírito Santo, a graça de permanecerem sempre no vosso amor. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

ou

 

Deus omnipotente, cujo Filho Unigénito Se manifestou aos homens na realidade da nossa natureza, concedei-nos que, reconhecendo-O exteriormente semelhante a nós, sejamos por Ele interiormente renovados. Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

 

LITURGIA DA PALAVRA

 

Primeira Leitura

 

Monição: Ser dom. Ser servo. Eis a revelação de Cristo Jesus. Eis o apelo que nos é feito.

 

Isaías 42, 1-4.6-7

Diz o Senhor: 1«Eis o meu servo, a quem Eu protejo, o meu eleito, enlevo da minha alma. Sobre ele fiz repousar o meu espírito, para que leve a justiça às nações. 2Não gritará, nem levantará a voz, nem se fará ouvir nas praças; 3não quebrará a cana fendida, nem apagará a torcida que ainda fumega: 4proclamará fielmente a justiça. Não desfalecerá nem desistirá, enquanto não estabelecer a justiça na terra, a doutrina que as ilhas longínquas esperam. 6Fui Eu, o Senhor, que te chamei segundo a justiça; tomei-te pela mão, formei-te e fiz de ti a aliança do povo e a luz das nações, 7para abrires os olhos aos cegos, tirares do cárcere os prisioneiros e da prisão os que habitam nas trevas».

 

Este texto pertence ao primeiro dos quatro «cantos do Servo de Yahwéh», dispersos pelo Segundo Isaías (Is 40 – 55), mas que, na origem, talvez fizessem parte de um único poema.

«Eis o meu servo». Trata-se de um mediador através do qual Deus levará a cabo o seu plano de salvação. Torna-se difícil determinar quem é designado em primeiro plano, se é uma personalidade individual (um rei de Judá, o profeta, ou o messias), ou uma colectividade (todo o povo de Israel ou parte dele), ou um indivíduo como símbolo de todo o povo. O nosso texto deixa ver uma personagem deveras misteriosa, humilde (vv. 2-3) e poderosa (v. 4.7), escolhida por Deus e com uma missão universal (v. 1.6). Pondo de parte a complexa e discutida questão da personalidade originária deste magnífico poema, o certo é que o Novo Testamento está cheio de ressonâncias deste texto, vendo mesmo nesta figura singular um anúncio do Messias, com pleno cumprimento na pessoa de Jesus (v. 1: cf. Mt 3, 17 e Lc 9, 35; vv. 2-4: cf. Mt 12, 15-21; v. 6: Lc 1, 78-79 e 2, 32 e Jo 8, 12 e 9, 5; v. 7: Mt 11, 4-6 e Lc 7, 18-22). É evidente que foi escolhida esta leitura para hoje porque, assim Deus, pelo Profeta, apresenta o seu servo «enlevo da minha alma», sobre quem «fiz repousar o meu espírito»; é assim que também no Jordão Jesus é apresentado (cf. Evangelho de hoje e paralelos).

 

Salmo Responsorial

Sl 28 (29), 1a.2.3ac-4.3b.9b-10 (R. 11b)

 

Monição: O Senhor desce às águas para nos fazer ressurgir pessoas novas. Cantemos a glória de Deus que se reflecte em Cristo e em cada cristão.

 

Refrão:         O SENHOR ABENÇOARÁ O SEU POVO NA PAZ.

 

Tributai ao Senhor, filhos de Deus,

tributai ao Senhor glória e poder.

Tributai ao Senhor a glória do seu nome,

adorai o Senhor com ornamentos sagrados.

 

A voz do Senhor ressoa sobre as nuvens,

o Senhor está sobre a vastidão das águas.

A voz do Senhor é poderosa,

a voz do Senhor é majestosa.

 

A majestade de Deus faz ecoar o seu trovão

e no seu templo todos clamam: Glória!

Sobre as águas do dilúvio senta-Se o Senhor,

o Senhor senta-Se como Rei eterno.

 

Segunda Leitura

 

Monição: Deus ama a todos. A todos quer salvar. O coração de Deus é espaço onde nenhuma barreira é colocada.

 

Actos dos Apóstolos 10, 34-38

Naqueles dias, 34Pedro tomou a palavra e disse: «Na verdade, eu reconheço que Deus não faz acepção de pessoas, 35mas, em qualquer nação, aquele que O teme e pratica a justiça é-Lhe agradável. 36Ele enviou a sua palavra aos filhos de Israel, anunciando a paz por Jesus Cristo, que é o Senhor de todos. 37Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do baptismo que João pregou: 38Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos pelo demónio, porque Deus estava com Ele».

 

Temos aqui uma pequenina parte do discurso de Pedro em casa do centurião Cornélio em Cesareia. Quando recebeu directamente na Igreja os primeiros gentios, sem serem obrigados a judaizar. É surpreendente que um discurso dirigido a não judeus contenha alusões (não citações explícitas) ao Antigo Testamento: v. 34 – «Deus não faz acepção de pessoas» (cf. Dt 10, 17); v. 36 – «Ele enviou a sua palavra aos filhos de Israel» (cf. Salm 107, 20); «anunciando a paz» (cf. Is 52, 7); v. 38 «Deus ungiu com… Espírito Santo» (cf. Is 61, 1). Isto corresponde a que se está num ponto crucial da vida da Igreja, em que ela entra decididamente pelos caminhos da sua universalidade intrínseca, em confronto com o nacionalismo judaico; por isso era importante recorrer àquelas passagens do A. T. que se opõem a qualquer espécie de privilégio de raça ou cultura: «a palavra aos filhos de Israel» deixa ver como Deus é o «Senhor de todos», imparcial, «não faz acepção de pessoas» e que a «paz», a súmula de todos os bens messiânicos, Deus a destina a toda a humanidade. O discurso tem um carácter kerigmático evidente; e Lucas – o historiador-teólogo – ao redigi-lo, quaisquer que possam ter sido as fontes utilizadas, terá tido em vista, mais ainda do que a situação concreta em que foi pronunciado, o efeito a produzir nos seus leitores. Convém notar que, no entanto, ao redigir os discursos – o grande recurso de Actos –, Lucas não os inventa; embora não sejam uma reprodução literal, considera-se que correspondem aos temas da pregação primitiva.

38 «Ungiu do Espírito Santo». Estamos aqui em face de uma expressão simbólica tipicamente hebraica, alusiva à união misteriosa com o Espírito Santo (algo que pertence ao mistério trinitário, o verdadeiro ser e missão de Jesus, que se torna visível na sua Humanidade, na teofania do Jordão). É clara a referência a textos do A. T. de grande densidade messiânica, como Is 11, 2; 61, 1 (cf. Lc 2, 18). Ver supra nota à 1ª leitura do 3º Domingo do Advento (nota ao v. 26).

 

Aclamação ao Evangelho            

Mc 9, 6

 

Monição: É bom quando se vive numa expectativa de perceber os sinais que revelam o Deus Verdadeiro, a Sua presença em Rosto Humano, em Seu Filho Jesus Cristo. E perceber o que significa ser e viver com e como Cristo.

 

ALELUIA

Abriram-se os céus e ouviu-se a voz do Pai: «Este é o meu Filho muito amado: escutai-O».

 

 

Evangelho

 

São Lucas 3, 15-16.21-22

Naquele tempo, 15o povo estava na expectativa e todos pensavam em seus corações se João não seria o Messias. 16João tomou a palavra e disse-lhes: «Eu baptizo-vos com água, mas vai chegar quem é mais forte do que eu, do qual não sou digno de desatar as correias das sandálias. Ele baptizar-vos-á com o Espírito Santo e com o fogo». 21Quando todo o povo recebeu o baptismo, Jesus também foi baptizado; e, enquanto orava, o Céu abriu-se 22e o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corporal, como uma pomba. E do Céu fez-se ouvir uma voz: «Tu és o meu Filho muito amado: em Ti pus toda a minha complacência».

 

Notar como na leitura litúrgica o texto não é seguido, para que fique claro que quem baptiza Jesus é João. Com efeito Lucas narra o baptismo já depois da prisão do Baptista, sem dizer por quem é Jesus baptizado, segundo a sua técnica de composição literária chamada «de eliminação» (acumular toda a actuação da personagem em cena, eliminando uma sua intervenção posterior; assim Maria regressa a casa antes de João nascer, o qual vai para o deserto antes do nascimento de Jesus, etc.). A maior brevidade do relato de Lucas (apenas dois versículos) parece indicar que todo o acento vai para a declaração da identidade de Jesus (v. 22). Na estrutura do III Evangelho o baptismo de Jesus aparece como a charneira entre o ministério do Baptista e o ministério de Jesus.

16 «Não sou digno…» Os criados (escravos) dos judeus, entre os seus trabalhos, tinham o de tirar («desatar», Mateus diz «transportar») as sandálias dos seus senhores, para eles entrarem no templo, para comerem, etc.; assim se entende bem a humildade que revela esta exclamação de João. (Ver a nota ao Evangelho do III Domingo do Advento).

21 «Enquanto orava»: é um pormenor exclusivo de Lucas, que gosta de mostrar Jesus em oração nos momentos importantes; é bem significativo que mostre o ministério de Jesus a começar com a oração, e assim como também os começos da Igreja (cf. Act 1, 14; 2, 42). Orar é, mais que tudo, abrir o coração à acção do Espírito Santo.

21-22 O que sucede no baptismo de Jesus é descrito com elementos do género apocalíptico, que continuam a ser expressivos para nós como sinais da inauguração da absolutamente nova relação de Deus com a Humanidade: «O Céu abriu-se»: a imagem parte de que o firmamento era tido como uma superfície esférica de cristal compacto, a separar a terra do céu, por isso, para o Espírito descer, o céu tinha que se abrir; mas já S. Jerónimo (in Math I, 3) advertia que «não são os elementos que se abrem, mas sim os olhos do espírito»; este «abrir dos Céus» é o prelúdio da nova relação de Deus com o homem. «O Espírito Santo desceu… como uma pomba»: no A. T. e no Antigo Médio Oriente sempre a pomba foi associada ao mundo divino, um símbolo bem adequado para indicar a inauguração dos novos tempos; o relato não quer dizer-nos que antes o Espírito Santo estaria ausente de Jesus, mas quer revelar-nos quem é Jesus, por isso: «Fez-se ouvir uma voz…», que identifica quem é Jesus: o Filho de Deus, em quem está presente o Espírito Santo. Desde a exegese patrística até a autores modernos, tem-se visto, no baptismo de Jesus, uma revelação do mistério trinitário.

Esta narrativa é um convite para reconhecer quem é Jesus e para avaliar o valor do baptismo, semelhante ao de Jesus, mas diferente do de João; tenha-se em conta o paralelismo desta perícope com a fórmula baptismal trinitária do final de Mateus (28, 18). No baptismo de Cristo podemos apreciar como actua em nós o Sacramento, pois para nós se abrem os Céus fechados pelo pecado; desce o Espírito Santo com a sua graça, que nos renova e torna templos seus; ficamos a ser filhos de Deus muito amados.

Ninguém põe em dúvida que o baptismo de Jesus é um facto histórico. O relato não é uma invenção literária para transmitir uma ideia sobre Jesus: é algo que se encontra na tradição primitiva, bem documentado no N. T.: Act1, 21-22; 4, 27; 10, 38; Jo 1, 26-34; Mt 13, 17; Mc 1, 9-11; Lc 3, 21-22. O próprio facto de o baptismo de Jesus ser uma coisa difícil de compreender pelas primeiras comunidades abona a favor do seu valor histórico.

 

Sugestões para a homilia

 

O «Servo do Senhor».

Povo na «expectativa».

Vivência do Baptismo.

O «Servo do Senhor».

O «Servo do Senhor» apresenta-se como figura muito interessante. Fenómeno de liberdade, conhecimento, verdade, doação e entrega de vida. Servo sofredor não teme doar a vida, mesmo que a arranquem de uma forma brutal e desumana.

O seu estilo é de profunda mansidão, paz, comunhão com Deus e com os todos por quem se faz doação e construção de um mundo novo, livre, de vida, de dignidade humana e de serena e realizadora comunhão com Deus. O Seu agir é de bênção, de oferta de vida e de plena humanidade.

Os primeiros cristãos reconhecem na Pessoa de Jesus Cristo o «Servo do Senhor», sobretudo a partir do seu mistério pascal, ponto culminante da total doação de vida, amor, liberdade, comunhão com Deus e com os irmãos, a ponto de suportar todos os seus crimes e pecados.

Este texto escolhido na celebração do Baptismo do Senhor coloca-nos na revelação da Pessoa de Jesus Cristo e da Sua Missão. Ele é o Filho de Deus a quem o Pai apresentou, consagrou e ungiu com o Espírito Santo. Ele é Aquele se disponibiliza e se doa numa lógica de entranhável misericórdia e amor a favor de todos.

O cristão, outro Cristo, escolhido, consagrado e enviado deve sentir o apelo gritante a doar a vida, sem medo e com dinamismo e novidade.

Povo na «expectativa».

O Povo da Aliança esperou, por entre alegrias e dores, entre esperanças e pessimismos, o Messias. Esperou a intervenção de Deus, na sua história e na sua vida, de uma forma invulgar.

A literatura bíblica e o papel dos profetas foi fundamental para purificar e lançar perspectivas do verdadeiro Messias.

A resposta de João Baptista reflecte um pouco essa espera e expectativa. Austero, penitente, homem de palavra forte e de fogo, não se afasta muito de imagens e palavras de uma certa violência ao apresentar o Messias, bem diferente das imagens e palavras da 1ª Leitura sobre o «Servo do Senhor».

A revelação de Jesus Cristo destaca os sinais da sua bondade, paciência, despojamento e doação. O quadro do seu baptismo aponta a relação Trinitária esclarecedor da Sua condição divina. E aponta para a audácia de Deus, que mergulha com a humanidade pecadora, na morte de Seu Filho, mas com Cristo, ressurge homem novo pela água e pelo Espírito Santo.

Em Cristo os céus abrem-se como «Tempo de graça e de misericórdia». Deus está atento, ama e quer partilhar vida e amor. O Espírito Santo desce em forma de pomba, traduzindo sinais de ternura, simplicidade, afecto e não com violência ou fogo aterrador. A voz do céu apresenta o Filho amado, surge voz vital, que jamais deixa de se ouvir como gesto de salvação e de aliança eterna. Escutar o Pai, sentir o dinamismo do Espírito Santo significa ver o Filho, e aceitá-Lo como proposta de Vida.

Cristo «orava», como atitude fundamental de escuta e de aceitar a missão. Ele mergulha nas águas com todo o povo. Faz-se um deles. Põe-se ao lado dos pecadores: não julga, não despreza, não cria aversão; não assusta.

Seus gestos e palavras são propostas de caminhar connosco no caminho que conduz á vida, à liberdade, à salvação.

Vivência do Baptismo.

A celebração de hoje deve fazer-nos vivenciar e comprometer com o nosso baptismo. Pelo baptismo fomos «enxertados» em Cristo e com Ele identificados como sacerdotes, profetas e Reis.

O Baptismo é uma realidade dinâmica. Ele cria relações intensas e dinamismos vitais com Deus e com os irmãos. Além de nos mergulhar na comunhão trinitárias mergulha-nos na comunhão com toda a Igreja e com a humanidade inteira. E impele-nos a prosseguirmos um caminho comprometido com o projecto de Jesus Cristo: Caminho, Verdade e Vida.

A vida cristã iniciada no baptismo está chamada a crescer até à comunhão plena com Deus e com os irmãos. Está chamada a ser mistério pascal: total doação a Deus e a todos.

Cada baptizado deve revelar os sinais do seu baptismo: viver o projecto de Jesus Cristo como algo dinâmico. Saber perceber os sinais dos tempos e responder com uma vida de entrega. Vida orientada na escuta de Deus, sua proposta de amor. Docilidade e empenho para receber a ternura e o afecto do Espírito de Deus e traduzir na relação com os irmãos o verdadeiro afecto de Deus. Consciência da fragilidade e a ousadia da conversão no mergulho do sacramento da reconciliação: «baptismo laborioso», segundo santo Agostinho. Projecto de santidade no amor ao mundo, às pessoas, à vida e a tudo o que faz parte do humano. Portadores da esperança, da misericórdia, da vida e da paz.

Maria de Nazaré, discípula predilecta de Seu Filho, referência de cada discípulo está disponível para nos fazer cristãos segundo o projecto de Deus.

 

Fala o Santo Padre

 

Hoje celebra-se a festa do Baptismo do Senhor, que encerra o tempo do Natal. A liturgia propõe-nos a narração do Baptismo de Jesus no Jordão, no texto de Lucas (cf. 3, 15-16.21-22). O evangelista narra que, enquanto Jesus estava a rezar, depois de ter recebido o Baptismo no meio de muitas pessoas que eram atraídas pela pregação do Precursor, abriu-se o céu e, sob a forma de uma pomba, o Espírito Santo desceu sobre Ele. Naquele momento, das alturas ouviu-se uma voz: «Tu és o meu Filho muito amado, em ti pus todo o meu agrado» (Lc 3, 22).

Embora de modo diverso, o Baptismo de Jesus no Jordão é recordado e posto em evidência por todos os Evangelistas. Com efeito, fazia parte da pregação apostólica, uma vez que constituía o ponto de partida de toda a série dos acontecimentos e das palavras de que os Apóstolos deviam dar testemunho (cf. Act 1, 21-22; 10, 37-41). A comunidade apostólica considerava-o muito importante, não somente porque naquela circunstância, pela primeira vez na história, houve a manifestação do mistério trinitário de maneira clara e completa, mas também porque a partir daquele acontecimento teve início o ministério público de Jesus pelos caminhos da Palestina. O Baptismo de Jesus no Jordão constitui a antecipação do seu baptismo de sangue na Cruz, e é também o símbolo de toda a actividade sacramental com que o Redentor realizará a salvação da humanidade. Eis por que motivo a tradição patrística dedicou muito interesse por esta festa, que é a mais antiga depois da Páscoa. «No Baptismo de Cristo canta a liturgia hodierna o mundo é santificado e os pecados são perdoados; na água e no Espírito tornamo-nos novas criaturas» (Antífona ao Benedictus, Ofício das Laudes).

Existe uma estreita relação entre o Baptismo de Cristo e o nosso Baptismo. No Jordão os céus abriram-se (cf. Lc 3, 21) para indicar que o Salvador nos descerrou o caminho da salvação e nós podemos percorrê-lo precisamente graças ao novo nascimento «da água e do Espírito» (Jo 3, 5) que se realiza no Baptismo. Nele nós somos inseridos no Corpo místico de Cristo, que é a Igreja, morremos e ressuscitamos com Ele e revestimo-nos dele, como o Apóstolo Paulo salienta várias vezes (cf. 1 Cor 12, 13; Rm 6, 3-5; Gl 3, 27). Por conseguinte, o compromisso que brota do Baptismo consiste em «ouvir» Jesus: ou seja, em acreditar nele e em segui-lo docilmente, cumprindo a sua vontade. É deste modo que cada um pode tender para a santidade, uma meta que, como recorda o Concílio Vaticano II, constitui a vocação de todos os baptizados. Ajude-nos Maria, a Mãe do Filho predilecto de Deus, a ser sempre fiéis ao nosso Baptismo.

Bento XVI, Vaticano, 6 de Janeiro de 2007

 

Oração Universal

 

Caríssimos irmãos e irmãs:

Recordando o Baptismo de Jesus,

o Filho muito amado de Deus Pai,

oremos pelos homens e pelas mulheres de toda a terra,

dizendo com alegria (ou: cantando):

 

R. Ouvi-nos, Senhor.

Ou. Confirmai-nos, Senhor, no vosso Espírito.

Ou. Ouvi. Senhor, a nossa oração.

 

1.  Pela santa Igreja, mãe dos cristãos,

pelos ministros da Palavra e do Baptismo

e pelos que renascem da água e do Espírito,

oremos ao Senhor.

 

2.  Pelos que têm sede da água viva,

pelos que crêem em Jesus, Filho de Deus,

e por aqueles que não são iluminados pela fé,

oremos ao Senhor.

 

3.  Pelos homens perseguidos e humilhados,

pelos que perderam a coragem de lutar

e por aqueles que os defendem e animam,

oremos ao Senhor.

 

4.  Pelos doentes que perderam a esperança,

pelas crianças que perderam os seus pais

e por aquelas a quem falta o amor e um lar,

oremos, irmãos.

 

5.  Por todos nós que recebemos o Baptismo,

pelos que estão em graça e paz com Deus

e por aqueles que entre nós vivem nas trevas,

oremos ao Senhor.

 

 

Senhor, nosso Deus,

reavivai em nós, pelo Espírito Santo,

o dom e a alegria do Baptismo,

para que Vos chamemos nosso Pai

e nos sintamos, de verdade, vossos filhos..

Por Cristo Nosso Senhor. Amem.

 

 

LITURGIA EUCARÍSTICA

 

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS: Aceitai, Senhor, os dons que a Igreja Vos oferece, ao celebrar a manifestação de Cristo vosso Filho, para que a oblação dos vossos fiéis se transforme naquele sacrifício perfeito que lavou o mundo de todo o pecado. Por Nosso Senhor.

 

Prefácio

 

O Baptismo do Senhor

 

V. O Senhor esteja convosco.

R. Ele está no meio de nós.

 

V. Corações ao alto.

R. O nosso coração está em Deus.

 

V. Dêmos graças ao Senhor nosso Deus.

R. É nosso dever, é nossa salvação.

 

Senhor, Pai santo, Deus eterno e omnipotente, é verdadeiramente nosso dever, é nossa salvação dar-Vos graças, sempre e em toda a parte:

Nas águas do rio Jordão, realizastes prodígios admiráveis, para manifestar o mistério do novo Baptismo: do Céu fizestes ouvir uma voz, para que o mundo acreditasse que o vosso Verbo estava no meio dos homens; pelo Espírito Santo, que desceu em figura de pomba, consagrastes Cristo vosso Servo com o óleo da alegria, para que os homens O reconhecessem como o Messias enviado a anunciar a boa nova aos pobres.

Por isso, com os Anjos e os Santos do Céu, proclamamos na terra a vossa glória, cantando numa só voz:

 

Santo, Santo, Santo.

 

 

Monição da Comunhão

 

Aceitar o desafio de comungar Jesus Cristo, Filho de Deus e Filho de Maria, exige compreender a vida cristã como dinâmica.

Não é uma vida cómoda e mágica! É exigência a uma verdadeira comunhão com Deus e com irmãos.

Por isso implica a nossa existência, a nossa humanidade, a nossa responsabilidade para caminhar por entre desafios e propostas que Deus nos faz, muitas vezes radicalmente opostas ao estilo de vida das modernas sociedades.

 

Jo 1, 32.34

ANTÍFONA DA COMUNHÃO: Eis Aquele de quem João dizia: Eu vi e dou testemunho de que Ele é o Filho de Deus.

 

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO: Senhor, que nos alimentais com este dom sagrado, ouvi benignamente as nossas súplicas e concedei-nos a graça de ouvirmos com fé a palavra do vosso Filho Unigénito para nos chamarmos e sermos realmente vossos filhos. Por Nosso Senhor.

 

 

RITOS FINAIS

 

Monição final

 

Conscientes de que o baptismo gera dinamismo de entrega e doação vamos caminhar na proposta de Cristo Caminho Verdade e Vida.

Maria de Nazaré que caminha connosco em Natal, seja nossa companheira de viagem até ao Mistério Pascal de seu Filho, dinamismo de Morte e ressurreição em cada um de nós.

 

 

HOMILIAS FERIAIS

 

TEMPO COMUM

 

1ª SEMANA

 

2ª Feira, 14-I: A implantação do reino dos Céus na terra.

Sam 1, 1-8 / Mc 1, 12-20

Ao passar ao longo do mar da Galileia, viu Simão e seu irmão André. Disse-lhes Jesus: Vinde após mim e farei de vós pescadores de homens.

«Contra toda a esperança humana, Deus escolheu o que era tido por incapaz e fraco, para mostrar a sua fidelidade à promessa feita: Ana, mãe de Samuel (Leit), Débora, Rute…» (CIC, 489).

Para ajudar na sua missão, escolhe igualmente para Apóstolos os que são tidos como incapazes (Ev). Assim começa a implantação na terra do reino dos Céus, para «elevar os homens à participação da vida divina. E o Pai fá-lo reunindo os homens em torno de seu Filho. Esta reunião é a Igreja, que é na terra o ‘germe e o princípio’ do reino de Deus» (CIC, 541).

 

3ª Feira, 15-I: Colaboração na Redenção.

Sam 1, 9-20 / Mc 1, 21-28

Ana orou ao Senhor: Se vos dignardes conceder-lhe (à vossa serva) um filho varão, eu hei-de consagrá-lo ao serviço do Senhor.

Conforme prometera, Ana consagrou mais tarde o seu filho Samuel ao Senhor (Leit). Também Jesus consagra toda a sua vida ao serviço da Redenção, dando doutrina, expulsando espíritos impuros, etc. (Ev).

Todos somos chamados a ser corredentores, a colaborar na obra da Redenção. Imitando o exemplo do Senhor, procuremos dar boa doutrina aos mais ignorantes, curemos as doenças da alma aos nossos parentes e conhecidos, demos a conhecer a vida de Nosso Senhor, com o testemunho da nossa própria vida.

 

4ª Feira, 16-I: Oração: Dedicação e disponibilidade.

Sam 3, 1-0. 19-20 / Mc 1, 29-39

De manhãzinha, ainda muito escuro, Jesus levantou-se e saiu. Retirou-se para um sítio ermo e aí começou a orar.

Samuel não sabia distinguir a voz de Deus das vozes humanas. Por isso, o sacerdote Eli teve que ensiná-lo a dizer: «Falai, Senhor, que o vosso servo escuta» (Leit).

Jesus dá-nos exemplo de dedicação à oração logo de manhãzinha cedo (Ev). Vendo este exemplo do nosso Mestre, peçamos-lhe que nos aumente o desejo de orar. Procuremos dedicar alguns momentos à oração logo de manhã, para falarmos com Deus dos nossos trabalhos e preocupações. E, como Samuel, tenhamos mais disponibilidade: várias vezes se levantou de noite, sempre disposto a ouvir a Deus.

 

5ª Feira, 17-I: Os sinais da vitória e da cura.

Sam 4, 1-11 / Mc 1, 40-45

Vamos buscar a Silo a Arca da Aliança do Senhor: que ela venha para o meio de nós e nos salve das mãos dos nossos inimigos.

«Já no Antigo Testamento, Deus ordenou ou permitiu a instituição de imagens, que conduziriam simbolicamente à salvação pelo Verbo Encarnado: por exemplo, a serpente de bronze, a Arca da Aliança (Leit), os querubins» (CIC, 2130).

As curas operadas por Jesus (Ev) têm igualmente um significado: «As curas que fazia eram sinais da vinda do reino de Deus. Anunciavam uma cura mais radical: a vitória sobre o pecado e sobre a morte, mediante a sua Páscoa» (CIC, 1505). Os sacramentos são sinais sensíveis para curar as nossas doenças e nos revestirem da santidade de Cristo.

 

6ª Feira, 18-I: Jesus Rei e Médico divino.

Sam 8, 4-7. 10-22 / Mc 2, 1-12

Que é mais fácil, dizer ao paralítico: os teus pecados são-te perdoados, ou dizer levanta-te, pega na tua enxerga e anda?

Os anciãos de Israel manifestaram a Samuel o desejo de terem um rei. E o Senhor concedeu-lho (Leit). Jesus é Rei e Médico, pois as curas indicavam a proximidade do reino de Deus.

Ele veio curar o homem na sua totalidade, alma e corpo (Ev). «Ele dirige-se pessoalmente a cada um dos pecadores: ‘Meu filho, os teus pecados são-te perdoados’ (Ev). Ele é o médico que se inclina sobre cada um dos doentes. A confissão pessoal é, pois, a forma mais significativa da reconciliação com Deus e a Igreja» (CIC, 1484).

 

Sábado, 19-I: Os ungidos e a salvação.

Sam 9, 1-4-17-19; 10, 1 / Mc 2, 13-17

Eu não vim chamar os justos mas os pecadores.

Samuel ungiu Saul para uma missão de salvação dos inimigos: «tu é que hás-de reger o povo do Senhor e o salvarás das mãos dos inimigos» (Leit). Cristo é ungido para cumprir a sua missão divina: a salvação dos pecadores (Ev):

No Baptismo e na Confirmação recebemos uma unção, que nos capacita para nos salvarmos e salvarmos os outros. Como Jesus, que procura acompanhar todo o tipo de pessoas, convidemos os nossos amigos para uma conversão e assim poderem seguir o Senhor mais de perto: «Segue-me» (Ev).

 

 

 

 

 

Celebração e Homilia:          ARMANDO RODRIGUES DIAS

Nota Exegética:                     GERALDO MORUJÃO

Homilias Feriais:                   NUNO ROMÃO

Sugestão Musical:                 DUARTE NUNO ROCHA

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