Roteiro Homilético – Solenidade da Epifania do Senhor

RITOS INICIAIS

cf. Mal 3, 1; 1 Cron 19, 12

Antífona de entrada: Eis que vem o Senhor soberano. A realeza, o poder e o império estão nas suas mãos.

Diz-se o Glória.

Introdução ao espírito da Celebração

A Segunda Pessoa da Santíssima Trindade – o Verbo – encarnou para salvar todas as pessoas, sem excepção de raça, nação, cor ou idade.

Este chamamento universal à salvação, na à Igreja de Jesus Cristo, é manifestado – Epifania quer dizer manifestação – pela vinda destes homens famosos na ciência e nas virtudes humanas que visitaram Jesus recém-nascido em Belém.

Acompanhemo-los em espírito, para adorarmos Jesus que Se fez Menino por nosso Amor.

Preparação penitencial

Aproveitemos esta nossa presença junto de Jesus que preside a esta Celebração para Lhe pedirmos perdão dos nossos pecados e faltas de generosidade, e prometamos emenda de vida.

Oração colecta: Senhor Deus omnipotente, que neste dia revelastes o vosso Filho Unigénito aos gentios guiados por uma estrela, a nós que já Vos conhecemos pela fé levai-nos a contemplar face a face a vossa glória. Por Nosso Senhor…

Liturgia da Palavra

Primeira Leitura

Monição: O profeta Isaías dirige-se à cidade de Jerusalém, destruída e humilhada pelos babilónios, para lhe anunciar a restauração que lhe trará o Messias.

Ele ilumina a cidade, situada no alto de um monte e, por isso, iluminada pelos primeiros raios de sol, enquanto as multidões, ainda mergulhadas na escuridão da noite, caminham ao seu encontro.

Isaías 60, 1-6

1Levanta-te e resplandece, Jerusalém, porque chegou a tua luz e brilha sobre ti a glória do Senhor. 2Vê como a noite cobre a terra e a escuridão os povos. Mas sobre ti levanta-Se o Senhor e a sua glória te ilumina. 3As nações caminharão à tua luz e os reis ao esplendor da tua aurora. 4Olha ao redor e vê: todos se reúnem e vêm ao teu encontro; os teus filhos vão chegar de longe e as tuas filhas são trazidas nos braços. 5Quando o vires ficarás radiante, palpitará e dilatar-se-á o teu coração, pois a ti afluirão os tesouros do mar, a ti virão ter as riquezas das nações. 6Invadir-te-á uma multidão de camelos, de dromedários de Madiã e Efá. Virão todos os de Sabá; hão-de trazer ouro e incenso e proclamarão as glórias do Senhor.

O texto canta a glória da Jerusalém renovada, figura da «Jerusalém nova descida do Céu» (cf. Apoc 21, 2.23-24). A visão universalista que o poema apresenta corresponde à realidade da Igreja, que é católica, universal.

3 «As nações caminharão à tua luz, e os reis ao esplendor da tua aurora». Não há dúvida de que se pode adaptar perfeitamente este texto isaiano ao mistério hoje celebrado: os «magos» – este texto terá contribuído para se lhes chamar «reis» –, que seguem a «luz» da estrela, são os pioneiros de entre os povos gentios a acorrer ao encontro do Messias.

6 A menção de povos do Oriente – «Madiã e Efá» –, dos ricos comerciantes de «Sabá», a sul da Arábia (Yémen) e, sobretudo, os produtos que trazem – «ouro e incenso» – fazem lembrar o que nos relata o Evangelho: a vinda dos Magos do Oriente que trazem «oiro, incenso e mirra».

Salmo Responsorial Salmo 71 (72), 2.7-8.10-11.12-13(R. cf. 11)

Monição: Na sequência da profecia de Isaías, proclamada na primeira leitura, o salmo 71 descreve o Reino de Deus como um reino de justiça para os pobres e humildes.

Este Reino foi inaugurado pelo nascimento do Salvador, mas há-de chegar à sua plenitude, acolhendo povos de todas as nações. Cantemos, pois, com esperança:

Refrão: Virão adorar-Vos, Senhor,

todos os povos da terra.

 

Ó Deus, concedei ao rei o poder de julgar

e a vossa justiça ao filho do rei.

Ele governará o vosso povo com justiça

e os vossos pobres com equidade.

 

Florescerá a justiça nos seus dias

e uma grande paz até ao fim dos tempos.

Ele dominará de um ao outro mar,

do grande rio até aos confins da terra.

 

Os reis de Társis e das ilhas virão com presentes,

os reis da Arábia e de Sabá trarão suas ofertas.

Prostrar-se-ão diante dele todos os reis,

todos os povos o hão-de servir.

 

Socorrerá o pobre que pede auxílio

e o miserável que não tem amparo.

Terá compaixão dos fracos e dos pobres

e defenderá a vida dos oprimidos.

Segunda Leitura

Monição: S. Paulo fala do plano de salvação que nos trouxe Jesus Cristo, estabelecido pelo Pai, desde toda a eternidade.

Agora, este plano foi também revelado aos gentios, e também eles são herdeiros da promessa de Deus.

Efésios 3, 2-3a.5-6

Irmãos: 2Certamente já ouvistes falar da graça que Deus me confiou a vosso favor: 3apor uma revelação, foi-me dado a conhecer o mistério de Cristo. Nas gerações passadas, 5ele não foi dado a conhecer aos filhos dos homens como agora foi revelado pelo Espírito Santo aos seus santos apóstolos e profetas: 6os gentios recebem a mesma herança que os judeus, pertencem ao mesmo corpo e participam da mesma promessa, em Cristo Jesus, por meio do Evangelho.

Nesta passagem de Efésios, S. Paulo define em que consiste o «mistério de Cristo» (v. 4). Os gentios, que vêm à Igreja, estão no mesmo pé de igualdade que os judeus procedentes do antigo povo de Deus: não há lugar para cristãos de primeira e de segunda! O texto original é muito expressivo: os gentios vêm a ser «co-herdeiros» («recebem a mesma herança que os judeus», traduz, parafraseando, o texto português oficial), «com-corpóreos» (isto é, «pertencem ao mesmo Corpo» Místico de Cristo, que é a Igreja una), e «com-participantes na Promessa» («beneficiam da mesma promessa» de salvação). E é este o mistério que também se celebra na Festa da Epifania: Cristo igualmente Salvador de gentios e judeus.

Aclamação ao Evangelho Mt 2, 2

Monição: Brilha diante de nós a estrela da Palavra de Deus, proclamada todas as vezes que participamos na celebração da Eucaristia.

Também nós queremos acolhê-la com fé e procurar seguir esta estrela para caminharmos ao encontro do Salvador. Cantemos, pois:

Aleluia

Vimos a sua estrela no Oriente

e viemos adorar o Senhor.

Evangelho

São Mateus 2, 1-12

1Tinha Jesus nascido em Belém da Judeia, nos dias do rei Herodes, quando chegaram a Jerusalém uns Magos vindos do Oriente. 2«Onde está – perguntaram eles – o rei dos judeus que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-l’O». 3Ao ouvir tal notícia, o rei Herodes ficou perturbado e, com ele, toda a cidade de Jerusalém. 4Reuniu todos os príncipes dos sacerdotes e escribas do povo e perguntou-lhes onde devia nascer o Messias. 5Eles responderam: «Em Belém da Judeia, porque assim está escrito pelo profeta: 6‘Tu, Belém, terra de Judá, não és de modo nenhum a menor entre as principais cidades de Judá, pois de ti sairá um chefe, que será o Pastor de Israel, meu povo’». 7Então Herodes mandou chamar secretamente os Magos e pediu-lhes informações precisas sobre o tempo em que lhes tinha aparecido a estrela. 8Depois enviou-os a Belém e disse-lhes: «Ide informar-vos cuidadosamente acerca do Menino; e, quando O encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-l’O». 9Ouvido o rei, puseram-se a caminho. E eis que a estrela que tinham visto no Oriente seguia à sua frente e parou sobre o lugar onde estava o Menino. 10Ao ver a estrela, sentiram grande alegria. 11Entraram na casa, viram o Menino com Maria, sua Mãe, e, caindo de joelhos, prostraram-se diante d’Ele e adoraram-n’O. Depois, abrindo os seus tesouros, ofereceram-Lhe presentes: ouro, incenso e mirra. 12E, avisados em sonhos para não voltarem à presença de Herodes, regressaram à sua terra por outro caminho.

O Evangelho da adoração dos Magos foi objecto das mais belas reflexões teológico-espirituais ao longo da história: já nos fins do séc. II, Tertuliano via nas ofertas dos Magos símbolos do reconhecimento de quem era Jesus: oferecem-lhe «ouro» como Rei, «incenso» como Deus, «mirra» (outra resina aromática, usada na sepultura) como Homem. Santo Ambrósio fixa-se em que os Magos vão por um caminho e voltam por outro, porque regressam melhores, depois do encontro com Cristo. Santo Agostinho vê nos Magos as primitiæ gentium, a par dos pastores que são as primícias dos judeus, etc. Mas ainda hoje os comentadores retomam e actualizam os temas do relato: Cristo como verdadeira luz, o caminho dos pagãos para Cristo, o simbolismo dos presentes, a fé e perseverança dos Magos, a busca do sentido da Escritura e o sentido de procura do caminho, etc..

O próprio relato encerra um grande alcance teológico: Jesus é o verdadeiro «rei» que merece ser procurado e adorado por todos; a Ele acorrem, vindas de longe, gentes guiadas por uma estrela e pela Escritura; ainda menino e sem falar, já divide os homens a favor e contra Ele; a homenagem que Lhe prestam os Magos é a resposta humana ao «Emanuel, Deus connosco»; n’Ele se cumprem as profecias que falavam da vinda de reis e de todos os povos a Jerusalém (Is 60 e Salm 72). Mais ainda, ao nível da própria redacção de Mateus, o relato ilustra a teologia específica do evangelista: sendo este Evangelho dirigido a judeo-cristãos, confrontados com a Sinagoga, que não aceita Jesus, o episódio dos Magos documenta bem a teologia do «messias rejeitado», pois Jesus, logo ao nascer, encontra a hostilidade do poder e a indiferença das autoridades religiosas; é também uma ilustração das palavras de Jesus, «virão muitos do Oriente…» (Mt 8, 11).

Em face de tudo isto, o estudioso não pode deixar de se interrogar se não estaremos perante um teologúmeno, uma criação de Mateus para dar corpo a uma ideia teológica. A verdade é que em toda a tradição cristã se deu grande valor à adoração dos Magos e à festa da Epifania. Se detrás disto não há realidade nenhuma, o significado de tudo fica privado da sua base mais sólida.

Nota sobre a questão da historicidade do relato: A crítica bíblica moderna tem proposto teorias bastante discordantes; por um lado, temos um grupo em que R. E. Brown reúne as objecções que se têm levantado contra a historicidade do relato, que denotam – diz – «uma inverosimilhança intrínseca»: o movimento da estrela de Norte para Sul (Jerusalém – Belém), a sua paragem sobre a casa, a consulta de Herodes aos escribas e sacerdotes, seus inimigos, a indicação de Belém como um dado desconhecido ao contrário de Jo 7, 42, a imperdoável ingenuidade de Herodes que não manda espiar os Magos, o facto de não se ter identificado o menino após a visita de homens de fora a uma pequena povoação, o silêncio de Lucas sobre a visita; estes autores concluem que se trata, então, de uma construção artificial feita com textos do Antigo Testamento. Por outro lado, temos autores mais recentes como R. T. France (The Gospel according to Mathew) que defendem a credibilidade histórica do relato, demonstrando que as dificuldades contra têm solução. Com efeito, embora estejam subjacentes no relato vários textos do A. T., apenas um é citado, podendo mesmo ser suprimido sem interromper o discurso (vv. 5b-6), o que é sinal de que a citação foi acrescentada a um relato preexistente, não sendo a citação a dar origem ao relato. Os pretensos traços duma lenda edificante, ou midraxe hagadá, nada têm de historicamente improvável, fora o caso da estrela que pára sobre a casa, mas já S. João Crisóstomo observava que a estrela não vinha de cima, mas de baixo, pois não era uma estrela natural e não é provável que a Igreja, que bem cedo entrou em conflito com a astrologia, tivesse inventado uma história a favorecê-la. O facto de Herodes não ter mandado espiar os Magos não revela ingenuidade, mas prudência para que os seus guardas não viessem a dificultar a descoberta do Menino, e também uma plena confiança em que os Magos voltassem; finge colaborar com eles, a fim de obter mais dados. Também René Laurentin sublinha a credibilidade histórica de certos pormenores, como a existência de astrólogos viajantes («magos») no Oriente, ou a astúcia e crueldade de Herodes (matou a maior parte das suas 10 mulheres, vários filhos e muitas pessoas influentes na política); e, sobretudo, Mateus revela «sensibilidade histórica», ao não fazer coincidir bem os factos que narra com as citações e alusões ao A. T.: se os factos fossem inventados, teriam sido forjados de molde a que se adaptassem bem às passagens bíblicas (a estrela da profecia de Balaão – Num 24, 17 – não é a estrela que indica o Messias, mas sim o próprio Messias, etc.). Também a propaganda religiosa judaica tinha despertado a expectativa do nascimento do Messias (ver, por ex., a IV écloga de Virgílio) e fervorosos aderentes entre os gentios, o que torna mais compreensível a visita destes estranhos. A. Díez Macho afirma que «a intenção de Mateus é narrar história confirmada com profecias ou paralelos vétero-testamentários», e descobre no episódio do Magos uma grande quantidade de «alusões» ao A. T. (o chamado rémez, figura retórica muito do gosto dos semitas e frequente na Bíblia). Este célebre biblista espanhol (assim também G. Segalla) diz que o fenómeno da estrela pode muito bem corresponder à conjunção de Júpiter e Saturno que se deu na constelação de Peixe, e que teve lugar três vezes no ano 7 a. C., data provável de nascimento de Cristo. Mas a verdade é que não se pode negar o carácter popular do relato, pouco preocupado com o rigor das coisas, pois até dá a entender que a estrela se deslocava de Norte para Sul até parar sobre a casa.

Sugestões para a homilia

A luz de Cristo brilha no rosto da Igreja

Jesus Cristo, alegria do mundo

Jesus Cristo, luz dos nossos olhos

Ajudemo-nos uns aos outros

A lição dos Magos

Um sentido para a vida

Generosidade e espírito de sacrifício

Humildade e perseverança

As nossas dádivas

Docilidade.

Entraram na casa

A luz de Cristo brilha no rosto da Igreja

Isaías dirige a sua profecia à Cidade Santa de Jerusalém, profundamente humilhada e destruída por Nabucodonosor, rei da Babilónia.

Anuncia que novos tempos vão surgir para a nova Jerusalém, a Igreja e, por isso, deve abandonar o luto e a tristeza, para se revestir de festa. «Levanta-te e resplandece, Jerusalém, porque chegou a tua luz e brilha sobre ti glória do Senhor.»

Jesus Cristo, alegria do mundo.

«Levanta-te e resplandece, Jerusalém, porque chegou a tua luz e brilha sobre ti a glória do Senhor.»

Ele veio trazer-nos a filiação divina que dá sentido a tudo quanto se passa na nossa vida. Em vez do medo, do pessimismo e da tristeza, podemos cantar com verdadeira alegria, como a criança que se abandona ao carinho dos pais.

Sabemos que quando pedimos ao Senhor que nos alivie de uma determinada preocupação, e Ele tarda – segundo nosso modo de ver – a atender-nos, ou procura ajudar-nos a crescer na fé e na intimidade com Ele, ao fazer-nos rezar mais tempo, ou tem outra coisa melhor para nos dar.

Deixemo-nos ganhar por esta alegria de caminhar ao encontro de Jesus Cristo, principalmente em cada Domingo, e agradeçamos ao Senhor o facto de o podermos fazer em inteira paz e liberdade e animados pelo calor de toda a comunidade cristã em que nos encontramos.

Jesus Cristo, luz dos nossos olhos.

«Vê como a noite cobre a terra e a escuridão os povos.» A doutrina de Jesus Cristo é a chave para compreender a vida, para encontrar o verdadeiro significado das coisas e dos acontecimentos.

A vinda de Cristo é definitiva e os Seus ensinamentos são imutáveis. Não há os «tempos novos» de que nos falam alguns, como se a Lei de Deus ou algumas verdades da fé tivessem caído em desuso.

Deus convida-nos a caminhar ao encontro desta luz que é Ele mesmo, e isto é um mimo do Senhor e um privilégio para nós. Quantos vivem na escuridão da ignorância, do pecado, porque perderam a fé!

Esta verdade é ainda mais actual em nossos dias. O Senhor disse: «Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus.» Sem o coração limpo, vivendo no meio da imundície, a luz da fé apaga-se. Começa-se por abandonar a oração, a participação na Missa Dominical, e lança-se mão da bruxaria e superstição para dar algum significado – falso! – à vida.

Ajudemo-nos uns aos outros.

«Olha em redor e vê: todos se reúnem e vêm ao teu encontro.» Contra esta corrente de egoísmo, as pessoa sentem necessidade de serem úteis aos mais carenciados, e assim se desenvolveu nestes dias o voluntariado.

«Os teus filhos vão chegar de longe e as tuas filhas serão trazidas nos braços.» É uma profecia que nos anima a ajudar os outros a encontrar sentido no que andam a fazer neste mundo, na defesa da vida.

Há uma cena no Antigo Testamento que nos dá a chave do que está a acontecer hoje. Numerosos inimigos, numa grande superioridade, vêm combater o Povo de Deus, no tempo dos juízes.

Deus protege o Seu Povo. De repente, apodera-se o medo dos inimigos, e aquele exército numeroso começa a combater entre si e matam-se uns aos outros. Perante um exército em que não escapou ninguém, os Israelitas não têm necessidade de combater para se livrarem do inimigo.

Hoje assistimos no mundo a um gesto semelhante. Os que se deixaram dominar pelo demónio, matam-se uns aos outros, programando a morte a partir já do seio materno, afastam as pessoas de idade como incómodas.

No final, uma grande solidão e tristeza cobre a terra. Acontece sempre isto, quando as pessoas vão contra a vontade de Deus.

A Epifania é um hino à luz, à vida, à alegria de viver.

Defendamos a vida e as outras verdades elementares da nossa fé, e tornar-se-á realidade aquilo que cantamos no salmo de meditação: Virão adorar-vos, Senhor, todos os povos da terra!

A lição dos Magos

O Evangelho fala-nos de um grupo de homens valentes que empreenderam uma grande e difícil viagem para visitarem Jesus no presépio.

Não sabemos quantos eram. A tradição fixou-se em três, fundada nos três presentes que ofereceram ao Menino: ouro, incenso e mirra. Mas podiam ser muitos mais, de tal modo que alguns chegam a falar em onze e apontam até o nome de alguns deles.

Nesta deslocação que fazem dão-nos um testemunho de vida que nos anima no meio desta tentação de desleixo e preguiça.

Um sentido para a vida.

Não eram pessoas ignorantes, fáceis de iludir. Observavam os astros e o Senhor manifestou-Se-lhes por um sinal. O Evangelho fala de um astro especial, de uma estrela.

Atentos aos sinais, e talvez porque tinha chegado até eles a promessa da vinda de um Redentor, puseram-se corajosamente a caminho. Talvez tenham vindo de diversos lados e o encontro entre eles se tenha dado ali perto. A estrela junto estes homens. A fé – a estrela – reúne-nos a todos na procura do mesmo Senhor.

Generosidade e espírito de sacrifício.

Não estamos perante uma viagem turística, em que as recordações são preferentemente boas.

Foi necessário abandonar a própria casa, empreender uma longa viagem cheia de incertezas e de insegurança – as quadrilhas de ladrões assaltam, de preferência, as pessoas ou grupos onde lhes parece que vão encontrar dinheiro e eles pertenciam a este número.

Fazem despesas e submetem-se ao desconforto com que se viajava nessa época.

Humildade e perseverança.

Quis o Senhor experimentá-los com uma prova: a estrela deixou de ser vista. Em que direcção caminhar agora? Não será melhor abandonar este projecto e voltar para trás?

Decidem, então, recolher informações na cidade de Jerusalém. Com o andar das buscas, foram ter ao palácio real, mais em conformidade com a condição social deles.

Pode haver momentos na vida em que nos parece que a vida perdeu todo o sentido, que a oração não tem valor e o esforço para amar a Deus é uma miragem

Quer isto dizer que se ocultou a estrela do nosso ideal. Não nos resta outra solução que a de orar e pedir ajuda a alguém.

Encontramos essa ajuda num conselho de pessoa com boa formação e bom critério e, principalmente, na confissão sacramental. Aí poderá ajudar-nos o sacerdote, com a formação recebida, com a prática que lhe dá o contacto com várias pessoas e, sobretudo, com a graça de estado, recebida no Sacramento da Ordem.

Por fim, esta tenacidade alcançou-lhes a alegria de se encontrarem com Jesus e Nossa Senhora.

As nossas dádivas.

Depois de uma viagem tão longa, de tantos sacrifícios e dúvidas, poderiam estes homens pensar que já tinham feito por Deus – para se encontrarem com Ele – mais do que o necessário.

No entanto sentem ainda a exigência de serem generosos. Lembramo-nos de agradecer ao Senhor a possibilidade de participar neste encontro com Ele em cada Domingo na Santa Missa? Ou não acontecerá que estamos à espera que Deus no-lo agradeça, como se Lhe tivéssemos feito um grande favor, sempre com uma queixa?

Estes homens ofertam ouro – como Rei –, incenso – como Deus – e mirra – como Homem.

Nós podemos ofertar ao Senhor, na Missa de cada Domingo:

– O ouro do nosso trabalho, feito com esmero, de cara alegre, e na harmonia com todos os que estão ligados pelo mesmo empreendimento. O nosso trabalho deve ser obra de Deus.

O donativo que depositamos no cesto, quando se recolhem os dons, é um sinal de gratidão. Damos ao Senhor um pouco daquilo que recebemos pelo nosso trabalho, porque foi Ele quem nos deu as forças para trabalhar.

– O incenso da nossa oração. Acreditamos na sua eficácia e necessidade, para chegarmos à intimidade com o Senhor? E praticamo-la todos os dias, individualmente e em família?

– A mirra dos nossos sacrifícios e cruzes de cada dia. Desde o peso do trabalho, às limitações de saúde, ao feitio das pessoas com quem trabalhamos ou que fazem parte da nossa família, tudo pode ser aproveitado para o nosso grande ofertório do Domingo.

Docilidade.

Estes homens mudam os seus projectos de imagem de regresso. Herodes tinha-lhes pedido que se informassem bem do lugar onde estava Jesus, porque também queria ir adorá-l’O.

Como não o conheciam nem sabiam das suas intenções, um anjo veio avisá-los em sonho, para que saíssem em segredo e fossem por outro caminho que não passasse em Jerusalém.

E da estalagem onde, certamente, se hospedaram, depois da visita ao Menino, seguiram contentes para suas casas.

Devemos estar atentos ao que O Senhor nos pede, porque será necessário, muitas vezes, mudar os projectos. A doença de um filho ou de outro familiar comprometeu as férias, ou impossibilitou um passeio de Domingo, Por que havemos e encarar sempre com má cara aquilo que nos exige mudar de planos?

«Entraram na casa, viram o Menino com Sua Mãe e, caindo diante de joelhos, prostraram-se diante d’Ele e adoraram-n’O.»

Duas coisas chamam a nossa atenção:

– José não estava lá. Logicamente, estaria a trabalhar, ganhando o sustento para a Sagrada Família.

– Entraram na casa. Jesus e Maria já não estavam na gruta. José não era homem para esperar que Deus, com milagres, lhe resolvesse os problemas e, por isso, procurou melhorar a situação da família.

Ora e trabalha, deve ser o nosso lema, levando para a Celebração da Eucaristia de cada Domingo o nosso ofertório, como resposta ao Senhor que Se nos dá.

Fala o Santo Padre

«Na adoração dos Magos, se começou a realizar a adesão dos povos pagãos à fé em Cristo.»

Queridos irmãos e irmãs!

A hodierna solenidade da Epifania celebra a manifestação de Cristo aos Magos, acontecimento a que Mateus dá grande relevo (cf. Mt 2, 1-12). Narra no seu Evangelho que alguns «Magos» provavelmente chefes religiosos persas chegaram a Jerusalém guiados por uma «estrela», um fenómeno luminoso celeste por eles interpretado como sinal do nascimento de um novo rei dos Judeus. Na cidade ninguém estava ao corrente, aliás, o rei reinante, Herodes, permaneceu muito perturbado com a notícia e concebeu o trágico desígnio do «massacre dos inocentes», para eliminar o rival acabado de nascer. Os Magos, ao contrário, confiaram nas Sagradas Escrituras, sobretudo na Profecia de Miqueias segundo a qual o Messias teria nascido em Belém, a cidade de David, situada a cerca de dez quilómetros a sul de Jerusalém (cf. Mq 5, 1). Tendo partido naquela direcção, viram de novo a estrela e, cheios de alegria, seguiram-na até quando ela parou sobre uma cabana. Entraram e encontraram o Menino com Maria; prostraram-se diante d’Ele e, como homenagem à sua dignidade real, ofereceram-lhe ouro, incenso e mirra.

»Vimos a sua estrela no oriente e viemos para adorar o Senhor» (Aclamação ao Evangelho, cf. Mt 2, 2). O que nos surpreende sempre, ao ouvir estas palavras dos Magos, é que eles se prostaram em adoração diante de um simples menino nos braços da sua mãe, não no quadro de um palácio real, mas na pobreza de uma cabana em Belém (cf. Mt 2, 11). Como foi possível? Que convenceu os Magos que aquele menino era «o rei dos Judeus» e o rei dos povos? Certamente persuadiu-os o sinal da estrela, que eles tinham visto «surgir» e que tinha parado precisamente ali onde se encontrava o Menino (cf. Mt 2, 9). Mas também a estrela não teria sido suficiente, se os Magos não fossem pessoas intimamente abertas à verdade. Ao contrário do rei Herodes, tomado pelos seus interesses de poder e de riquezas, os Magos propendiam para a meta da sua busca, e quando a encontraram, mesmo sendo homens cultos, comportaram-se como os pastores de Belém: reconheceram o sinal e adoraram o Menino, oferecendo-lhe os dons preciosos e simbólicos que tinham levado consigo.

Por que é tão importante este acontecimento? Porque nele se começou a realizar a adesão dos povos pagãos à fé em Cristo, segundo a promessa feita por Deus a Abraão, sobre a qual refere o Livro do Génesis: «Todas as famílias da Terra serão em ti abençoadas» (Gn 12, 3). Portanto, se Maria, José e os pastores de Belém representam o povo de Israel que acolheu o Senhor, os Magos são ao contrário as primícias das Nações, chamadas também elas a fazer parte da Igreja, novo povo de Deus, baseado não já na homogeneidade étnica, linguística ou cultural, mas unicamente na fé comum em Jesus, Filho de Deus. Portanto, a Epifania de Cristo é ao mesmo tempo epifania da Igreja, isto é, manifestação da sua vocação e missão universal. […]

Queridos irmãos e irmãs, detenhamo-nos também nós idealmente diante do ícone da adoração dos Magos. Ele contém uma mensagem exigente e sempre actual. Exigente e sempre actual antes de tudo para a Igreja que, espelhando-se em Maria, está chamada a mostrar Jesus aos homens, nada mais do que Jesus. De facto, Ele é o Tudo e a Igreja existe unicamente para permanecer unida a Ele e dá-Lo a conhecer ao mundo. […]

Bento XVI, Vaticano, 6 de Janeiro de 2007

Liturgia Eucarística

Oração sobre as oblatas: Olhai com bondade, Senhor, para os dons da vossa Igreja, que não Vos oferece ouro, incenso e mirra, mas Aquele que por estes dons é manifestado, imolado e oferecido em alimento, Jesus Cristo, vosso Filho, Nosso Senhor, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Prefácio da Epifania: p. 460 [592-704]

No Cânone Romano diz-se o Communicantes (Em comunhão com toda a Igreja) próprio. Nas Orações Eucarísticas II e III faz-se também a comemoração própria.

Santo: J. Santos, NRMS 6 (II)

Saudação da Paz

Jesus Cristo é anunciado, ao longo do Antigo testamento, como o Príncipe da Paz.

A paz só se consegue pelo amor de Deus em todas as suas formas.

Procuremos viver na unidade e reconciliação, caminhos da verdadeira paz.

Saudai-vos na paz de Cristo!

Monição da Comunhão

O Senhor, depois de nos ter iluminado com a Sua Palavra, convida-nos agora – se estamos devidamente preparados – a recebê-l’O, vivo e real, como estava no Presépio, na Sagrada Comunhão.

Revistamo-nos da fé, amor e devoção de Maria Santíssima, para nos aproximarmos d’Ele com o Seu agrado.

Antífona da comunhão: Vimos a sua estrela no Oriente e viemos com presentes adorar o Senhor.

Cântico de acção de graças: A minha alma louva, M. Carneiro, NRMS 76

Oração depois da comunhão: Iluminai-nos, Senhor, sempre e em toda a parte com a vossa luz celeste, para que possamos contemplar com olhar puro e receber de coração sincero o mistério em que por vossa graça participámos. Por Nosso Senhor…

Ritos Finais

Monição final À imitação dos Reis Magos que, no regresso, terão anunciado aos familiares, amigos e conhecidos, o grande tesouro que encontraram em Belém, levemos também às pessoas com quem partilharmos a vida durante a semana, a notícia de que Jesus Cristo já veio e a todos nos espera.

Homilias Feriais

SEMANA DEPOIS DA EPIFANIA

2ª feira, 7-I: A primeira mensagem de Cristo: A conversão.

1 Jo 3, 22- 4, 6 / Mt 4, 12-17. 23-25

A partir de então, Jesus começou a dizer: Arrependei-vos, pois o Reino de Deus está próximo.

É esta a primeira mensagem de Jesus Cristo, ao começar o seu ministério público. «A primeira obra da graça do Espírito Santo é a conversão, que opera a justificação, segundo a mensagem de Jesus no princípio do Evangelho. ‘Convertei-vos, que está perto o Reino dos Céus’ (Ev)» (CIC, 1989).

A conversão exige uma renúncia ao pecado e ao que é incompatível com os ensinamentos de Cristo (é o Anticristo: cf. Leit); e pede um regresso sincero a Deus, com o auxílio da graça.

3ª feira, 8-I: O amor de Deus para connosco.

1 Jo 4, 7-10 / Mc 6, 34-44

Nisto consiste o amor: não fomos nós que amámos a Deus, foi Ele que nos amou e enviou o seu Filho.

O Verbo fez-se carne para que assim pudéssemos conhecer o amor de Deus: «Assim se manifestou o amor de Deus para connosco: Deus enviou ao mundo o seu Filho unigénito, para que vivamos por Ele» (Leit).

E esse amor manifesta-se na compaixão que Ele tem pelos nossos problemas, de ordem espiritual: «começou a instrui-los demoradamente»; e de ordem material: o milagre da multiplicação dos pães e dos peixes. Este milagre prefigura já uma das maiores manifestações de amor: a Eucaristia.

4ª feira, 9-I: Um segredo íntimo de Deus.

1 Jo 4, 11-18 / Mc 4, 35-41

Deus é amor: quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus permanece nele.

S. João afirma que «a própria essência de Deus é o Amor. Ao enviar, na plenitude dos tempos, o seu Filho único e o Espírito do Amor, Deus revela o seu segredo mais íntimo» (CIC, 221).

Este amor será perfeito em nós se amamos o próximo; se tivermos muita confiança em Deus; se não nos deixarmos vencer pelo medo (cf. Leit). Medo tiveram os discípulos, quando apareceu a tempestade: Sou Eu, não temais (Ev). Esta é igualmente uma verdade essencial: Jesus é a nossa segurança.

5ª feira, 10-I: A causa do endurecimento do coração.

1 Jo 4, 19- 5, 4 / Lc 4, 14-22

É este o mandamento que recebemos dele: quem ama a Deus, ame igualmente o seu irmão.

«O amor, como o Corpo de Cristo, é indivisível: nós não podemos amar a Deus, a quem não vemos, se não amarmos o irmão ou a irmã, que vemos (cf. Leit). Recusando perdoar os nossos irmãos ou irmãs, o nosso coração fecha-se, a sua dureza torna-o impermeável ao amor misericordioso do Pai» (CIC, 2840.

Aqui está uma explicação possível do endurecimento do nosso coração: a recusa de compreender, de desculpar os nossos irmãos e, como consequência, a ficar impenetrável às graças de Deus. Melhoremos o nosso relacionamento com aqueles com quem convivemos.

6ª feira, 11-I: O pecado e as doenças.

1 Jo 5, 5-6. 8-13 / Lc 5, 12-16

Jesus estendeu a mão e tocou-lhe, dizendo: Quero, fica curado.

Jesus fica comovido com o sofrimento do leproso (cf. Ev), mas não cura todos os doentes. As curas eram apenas um sinal de uma cura mais radical: a vitória sobre o pecado e a morte: «Na cruz, Cristo tomou sobre si todo o peso do mal e tirou o pecado do mundo, do qual a doença não é mais do que uma consequência» (CIC, 1505).

«E, pela sua paixão e morte na cruz, Cristo deu um novo sentido ao sofrimento: desde então este pode configurar-nos com Ele e unir-nos à sua paixão redentora» (CIC, 1505).

Sábado, 12-I: O pecado mortal e o pecado venial.

1 Jo 5, 14-21 / Jo 3, 22-30

Se alguém vir seu irmão cometer um pecado que não leva à morte… Há um pecado que leva à morte.

«Os pecados devem ser julgados segundo a sua gravidade. A distinção entre pecado mortal e venial já perceptível na Escritura (cf. Leit), impôs-se na Tradição da Igreja. A experiência dos homens corrobora-a» (CIC, 1854).

Sabemos que o mundo inteiro está sob o poder do Maligno (cf. Leit). Por isso, durante toda a nossa vida travaremos um grande combate: «Um duro combate contra os poderes das trevas atravessa toda a história dos homens… Empenhado nesta batalha, o homem vê-se na necessidade de lutar sem descanso para aderir ao bem» (GS, 37).

Celebração e Homilia: Fernando Silva

Nota Exegética: Geraldo Morujão

Homilias Feriais: Nuno Romão

Sugestão Musical: Duarte Nuno Rocha

Fonte: Celebração  Litúrgica

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