Roteiro Homilético – Solenidade de São Pedro e São Paulo

RITOS INICIAIS

 

ANTÍFONA DE ENTRADA: Estes são os Apóstolos, que durante a sua vida na terra plantaram a Igreja com o seu sangue. Beberam o cálice do Senhor e tornaram-se amigos de Deus.

 

Diz-se o Glória.

 

Introdução ao espírito da Celebração

 

Celebramos a Solenidade litúrgica dos Apóstolos S. Pedro e S. Paulo; S. Pedro, escolhido por Cristo para seu primeiro Vigário na Terra, e S. Paulo, escolhido para ser o grande Apóstolo das Gentes. Ambos deram a vida pelo seu Senhor através do mais belo testemunho, o testemunho do martírio. Aprendamos com eles a ser fiéis discípulos de Jesus Cristo.

 

ORAÇÃO COLECTA: Senhor, que nos encheis de santa alegria na solenidade dos apóstolos São Pedro e São Paulo, concedei à vossa Igreja que se mantenha sempre fiel à doutrina daqueles que foram o fundamento da sua fé. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

 

LITURGIA DA PALAVRA

 

Primeira Leitura

 

Monição: O livro dos Actos dos Apóstolos fala-nos do fervor e da fidelidade dos primeiros cristãos e do seu amor à Igreja e aos seus chefes. Aprendamos com eles e oremos continuamente pela pessoa e intenções do Santo Padre, Sucessor de S. Pedro e Vigário de Cristo na Terra.

 

Actos dos Apóstolos 12, 1-11

1Naqueles dias, o rei Herodes começou a perseguir alguns membros da Igreja. 2Mandou matar à espada Tiago, irmão de João, 3e, vendo que tal procedimento agradava aos judeus, mandou prender também Pedro. Era nos dias dos Ázimos. 4Mandou-o prender e meter na cadeia, entregando-o à guarda de quatro piquetes de quatro soldados cada um, com a intenção de o fazer comparecer perante o povo, depois das festas da Páscoa. Enquanto 5Pedro era guardado na prisão, a Igreja orava instantemente a Deus por ele. 6Na noite anterior ao dia em que Herodes pensava fazê-lo comparecer, Pedro dormia entre dois soldados, preso a duas correntes, enquanto as sentinelas, à porta, guardavam a prisão. 7De repente, apareceu o Anjo do Senhor e uma luz iluminou a cela da cadeia. 8O Anjo acordou Pedro, tocando-lhe no ombro, e disse-lhe: «Levanta-te depressa». E as correntes caíram-lhe das mãos. Então o Anjo disse-lhe: «Põe o cinto e calça as sandálias». Ele assim fez. Depois acrescentou: «Envolve-te no teu manto e segue-me». 9Pedro saiu e foi-o seguindo, sem perceber a realidade do que estava a acontecer por meio do Anjo julgava que era uma visão. 10Depois de atravessarem o primeiro e o segundo posto da guarda, chegaram à porta de ferro, que dá para a cidade, e a porta abriu-se por si mesma diante deles. Saíram, avançando por uma rua, e subitamente o Anjo desapareceu. 11Então Pedro, voltando a si, exclamou: «Agora sei realmente que o Senhor enviou o seu Anjo e me libertou das mãos de Herodes e de toda a expectativa do povo judeu».

 

1-2 «Herodes»: é Herodes Agripa I, o terceiro monarca do mesmo nome a ser nomeado no NT; era filho da Aristóbulo e sobrinho de Herodes Antipas (o que mandara matar o Baptista) e neto de Herodes, o Grande (o da construção do Templo e da matança dos inocentes). Depois de uma vida libertina em Roma, obteve o favor de Calígula, vindo a poder usar o título de rei dum território quase tão grande como o do avô, apresentando-se muito zeloso da religiosidade judaica. «Tiago» é o filho de Zebedeu e Salomé, irmão do Apóstolo João evangelista. O seu martírio deve ter sido um ano ou dois após a tomada de posse de Herodes, a qual se deu no ano 41.

4-6 «Guarda de 4 piquetes de 4 soldados»: note-se o contraste entre a severidade da segurança e a serenidade de Pedro que dorme; cada piquete correspondia a uma das quatro vigílias da noite; Pedro «dormia entre dois soldados», com uma das mãos atada à mão de um soldado e a outra à do outro, enquanto «a Igreja orava instantemente a Deus por ele» (belo fundamento bíblico da oração assídua pelo Papa).

7-10 A intervenção libertadora do «Anjo do Senhor» já tinha sido assinalada em semelhante circunstância (cf. Act 5, 18-19); esta está na linha da fé da Igreja na protecção dos anjos da guarda, conforme lembra o Catecismo da Igreja Católica, nº 336: «Desde a infância até à morte, a vida humana é acompanhada pela sua assistência e intercessão…».

 

Salmo Responsorial

 Sl 33 (34), 2-3.4-5.6-7.8-9 (R. 5b)

 

Monição: A exemplo dos Apóstolos, depositemos toda a nossa confiança em Jesus Cristo, que nos liberta de todos os temores e nos concede continuamente a sua paz.

 

Refrão:         O SENHOR LIBERTOU-ME DE TODA A ANSIEDADE.

 

A toda a hora bendirei o Senhor,

o seu louvor estará sempre na minha boca.

A minha alma gloria-se no Senhor:

escutem e alegrem-se os humildes.

 

Enaltecei comigo ao Senhor

e exaltemos juntos o seu nome.

Procurei o Senhor e Ele atendeu-me,

libertou-me de toda a ansiedade.

 

Voltai-vos para Ele e ficareis radiantes,

o vosso rosto não se cobrirá de vergonha.

Este pobre clamou e o Senhor o ouviu,

salvou-o de todas as angústias.

 

O Anjo do Senhor protege os que O temem

e defende-os dos perigos.

Saboreai e vede como o Senhor é bom:

feliz o homem que n’Ele se refugia.

 

Segunda Leitura

 

Monição: S. Paulo sente chegado o seu fim e escreve ao seu fiel colaborador e sucessor na missão apostólica, cheio de confiança no prémio que o Senhor, justo Juiz, lhe dará no dia de juízo.

 

Timóteo 4, 6-8.17-18

Caríssimo: 6Eu já estou oferecido em libação e o tempo da minha partida está iminente. 7Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. 8E agora já me está preparada a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me há-de dar naquele dia e não só a mim, mas a todos aqueles que tiverem esperado com amor a sua vinda. 17O Senhor esteve a meu lado e deu-me força, para que, por meu intermédio, a mensagem do Evangelho fosse plenamente proclamada e todos os pagãos a ouvissem e eu fui libertado da boca do leão. 18O Senhor me livrará de todo o mal e me dará a salvação no seu reino celeste. Glória a Ele pelos séculos dos séculos. Amen.

 

A leitura é um extracto da parte final da Carta, em que o Paulo, pressentindo a morte iminente, faz como que um balanço da sua vida toda devotada à causa da Boa Nova. Consideramos o escrito dotado de autenticidade criticamente segura, não obstante uma certa tendência negativa mesmo entre diversos autores católicos. De facto aqui, como noutros pontos das Cartas Pastorais, observam-se pormenores biográficos de tal maneira vivos, concretos e coerentes, que não se podem atribuir a um falsário. Há quem pense na intervenção dum secretário diferente dos habituais, que muito bem poderia ter sido o seu discípulo e companheiro (cf. v. 11) no segundo cativeiro romano, Lucas (Spicq).

6-7 «Já estou oferecido em libação», isto é, «sinto que a morte se avizinha»; é uma linguagem que bem pode proceder do costume, referido por Tácito, de se fazerem libações por ocasião da morte de alguém. «Combati o bom combate»: São Paulo sempre gostou de comparar a vida cristã e as lides apostólicas a lutas desportivas, pugilismo, corridas… (cf. Filp 2, 16; 3, 12-14; 1 Cor 9, 24-26; Gal 2, 2); «terminei a minha carreira», à letra, corrida.

17 «A mensagem… fosse proclamada a todos…» Pensa-se haver aqui uma referência a algum testemunho público nalguma audiência do tribunal perante grande multidão. «Fui libertado da boca do leão», o que não significa forçosamente que estivesse para ser lançado às feras, mas simplesmente o adiamento da condenação à pena capital, talvez para se proceder a melhor estudo da causa, em face do surpreendente testemunho do heróico pregador do Evangelho, que teria deixado os seus juízes perplexos…

 

Aclamação ao Evangelho

Mt 16, 18

 

Monição: No Evangelho de hoje vem narrada a promessa de Jesus Cristo de fundar a sua Igreja sobre a rocha que é Pedro; as portas do inferno nada poderão contra ela. Louvemos o Senhor, cantando o Aleluia.

 

ALELUIA

Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja

e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.

 

 

Evangelho

 

São Mateus 16, 13-19

Naquele tempo, 13Jesus foi para os lados de Cesareia de Filipe e perguntou aos seus discípulos: «Quem dizem os homens que é o Filho do homem?». 14Eles responderam: «Uns dizem que é João Baptista, outros que é Elias, outros que é Jeremias ou algum dos profetas». Jesus perguntou: 15«E vós, quem dizeis que Eu sou?».16Então, Simão Pedro tomou a palavra e disse: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo». 17Jesus respondeu-lhe: «Feliz de ti, Simão, filho de Jonas, porque não foram a carne e o sangue que to revelaram, mas sim meu Pai que está nos Céus. 18Também Eu te digo: Tu és Pedro sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. 19Dar-te-ei as chaves do reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos Céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos Céus».

 

O texto da leitura consta de duas partes distintas, mas intimamente ligadas: a confissão de fé de Pedro (vv. 13-16), comum a Marcos 8, 27-30 e a Lucas 9, 18-21 (cf. Jo 6, 67-71), e a promessa feita a Pedro (vv. 17-19), exclusiva de Mateus (cf. Jo 21, 15, 23).

13 «Cesareia de Filipe» era a cidade construída por Filipe, filho de Herodes, o Grande, em honra do César romano, nas faldas do Monte Hermon, a uns 40 quilómetros a Nordeste do Lago de Genesaré.

13-17 «Quem dizem os homens… E vós, quem dizeis que Eu sou?» É uma pergunta que, em face de Jesus – uma pessoa tão singular, surpreendente e apaixonante –, não pode deixar de ser feita em todos os tempos. As respostas podem ser variadas e até contraditórias, mas só uma é a certa, a resposta de Pedro, a resposta esclarecida da fé, resposta que Jesus aprova: «Feliz de ti, Simão» (v. 17). «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo» (v. 16): Messias é a forma hebraica da palavra do texto original grego, Cristo, que quer dizer ungido (os reis eram ungidos com azeite na cabeça ao serem investidos). Jesus é o Rei (ungido) anunciado pelos Profetas e esperado pelo povo. Quando se diz Jesus Cristo é como confessar a mesma fé de Pedro, reconhecer que Jesus é o Cristo, isto é, o Messias, mas num sentido mais denso e profundo, a saber, o Filho de Deus, num sentido que ultrapassa o corrente e que só o dom divino da fé pode fazer descobrir, segundo as palavras de Jesus a Pedro: «Não foram a carne e o sangue que to revelaram» (v. 17). A fé de Pedro, como a nossa, não pode proceder dum mero raciocínio humano, da sagacidade natural, mas da luz, da certeza e da firmeza, que procede da revelação de Deus. «A carne e o sangue» é uma forma semítica de designar o homem enquanto ser débil e exposto ao erro e ao pecado.

18 «Tu és Pedro». É significativo que o texto grego não tenha conservado a palavra aramaica «kêphá», aliás usada noutras passagens do N. T. sem ser traduzida, como é habitual com os patronímicos. Aqui o evangelista teve o cuidado de usar o nome correntemente dado ao Apóstolo Simão: Pedro. É expressivo o trocadilho, com efeitoPedro é a pedra sobre a qual assenta a solidez de toda a Igreja do Senhor. Note-se que o apelido de Pedro = Pedra não existia na época, nem em aramaico (Kêphá), nem em grego (Pétros), nem em latim (Petrus), uma circunstância que reforça o seu significado e originalidade. Além disso, este apelido também não era apto para caracterizar o temperamento ou o carácter do Apóstolo, pois aquilo que distingue a sua personalidade não é precisamente a dureza ou firmeza da pedra, mas antes a debilidade, mobilidade e até inconstância (cf. Mt 14, 28-31; 26, 33-35.69-75; Gal 2, 11-14). Se Jesus assim o chama, é em razão da função ou cargo em que há-de investi-lo.

«Edificarei a minha Igreja». Jesus, ao dizer a minha, significa que tem intenção de fundar algo de novo, uma nova comunidade de Yahwéh. «Ekklêsía» é a tradução grega corrente dos LXX para a designação hebraica da Comunidade de (qehal) Yahwéh, isto é, «o povo escolhido de Deus reunido para o culto de Yahwéh» (cf. Dt 23, 2-4.9). Não é, portanto, a Igreja uma seita dentro do judaísmo, é uma realidade nova e independente. «Jesus pôde dizer minha, porque Ele a salva, Ele a adquire com o seu sangue, Ele a convoca, Ele realiza nela a presença divina, a aliança, o sacrifício». «As portas do inferno não prevalecerão». Esta linguagem tipicamente bíblica (Is 38, 10; Sab 16, 13; cf. Job 38, 17; Salm 9, 14) é uma sinédoque com que se designa a parte pelo todo. Inferno tanto pode designar a destruição e a morte (xeol=inferi=os infernos), como Satanás e os poderes hostis a Deus. Também hoje não é difícil ver como estes poderes hostis à verdadeira Igreja de Cristo mais uma vez se assanharam contra o Papa…

19 «Dar-te-ei as chaves do reino dos Céus». Os poderes conferidos a Pedro não são para ele vir a exercer no Céu, mas aqui neste mundo, onde a Igreja, o Reino de Deus em começo e em construção, tem de ser edificada. No judaísmo e no Antigo Testamento (cf. Is 22, 22), lidar com as chaves é uma atribuição de quem representa o próprio dono, significa administrar a casa. Ligar-desligar quer dizer tomar decisões com tal autoridade e poder supremo, que serão consideradas válidas por Deus, «nos Céus». É de notar que Jesus diz a todos os Apóstolos esta mesma frase (Mt 18, 18), mas sem que seja tirada qualquer força à autoridade suprema de Pedro, a quem é dado um especial poder de «ligar e desligar» na Igreja, enquanto pedra fundamental e pastor supremo a ser investido após a Ressurreição (Jo 21, 15-17). Este primado de Pedro sobre toda a Igreja – que hoje se designa por ministério petrino – não é conferido apenas à pessoa de Pedro, mas a todos os seus sucessores; com efeito Jesus fala a Pedro na qualidade de chefe duma edificação estável e perene, a Igreja; se o edifício é perene também o será a pedra fundamental. Como recorda o Catecismo da Igreja Católica, nº 882, «o Papa, Bispo de Roma e sucessor de S. Pedro, «é princípio perpétuo e visível, e fundamento da unidade que liga, entre si, todos os bispos com a multidão dos fiéis» (LG 23). Em virtude do seu cargo de vigário de Cristo e pastor de toda a Igreja, o Pontífice romano tem sobre a mesma Igreja um poder pleno, supremo e universal, que pode sempre livremente exercer» (LG 22). Este é um dos pontos cruciais do diálogo ecuménico, que terá uma saída feliz quando todos os que se consideram cristãos compreenderem que o carisma petrino, por vontade de Cristo, é o indispensável instrumento de união e unidade na legítima diversidade.

 

Sugestões para a homilia

 

1. S. Pedro e S. Paulo.

2. Amor a Jesus Cristo.

3. Amor à Igreja.

1. S. Pedro e S. Paulo.

Desde o século III que a Igreja une na mesma solenidade os Apóstolos S. Pedro e S. Paulo, as duas grandes colunas da Igreja.

Pedro, pescador da Galileia, irmão de S. André, foi escolhido por Jesus Cristo como chefe dos Doze Apóstolos e constituído por Ele como pedra fundamental da Sua Igreja. Foi o primeiro representante de Cristo na terra. Apesar da sua fragilidade, pela sua grande amizade ao Senhor, foi escolhido para apascentar o rebanho de Jesus Cristo.

Paulo, nascido em Tarso, na Cilícia, duma família judaica, não pertenceu ao número daqueles que, desde o princípio, conviveram com Jesus. Perseguidor dos cristãos, converte-se, pelo ano 36, a caminho de Damasco, tornando-se, desde então, Apóstolo apaixonado de Cristo. Ao longo de 30 anos, anunciará o Senhor Jesus, fundando numerosas Igrejas e consolidando na fé, com as suas Cartas, as jovens cristandades.

Figuras muito diferentes pelo temperamento e pela cultura, viveram, contudo, sempre irmanados pela mesma fé e pelo mesmo amor a Jesus Cristo. S. Pedro, na sua maravilhosa profissão de fé, exclamou: «Tu és Cristo, o Filho de Deus vivo». E, no seu amor pelo Mestre, disse-Lhe: «Senhor, Tu sabes tudo, Tu sabes que eu Te amo». S. Paulo, por seu lado, afirmou: «Eu sei em quem pus a minha confiança», ao mesmo tempo que afirmou, como expressão do seu amor: «Para mim viver é Cristo e morrer é um lucro» (Fil, 1,21)

Depois de ambos terem suportado toda a espécie de perseguições, foram martirizados em Roma, durante a perseguição de Nero, Regando com seu sangue a mesma terra, «plantaram» a Igreja de Deus. Passados dois mil anos, continuam a ser «nossos pais na fé». Honrando a sua memória, em especial a memória de S. Paulo, no Ano Paulino, que hoje termina, lembrando os 2.000 anos do seu nascimento, celebramos o mistério da Igreja fundada sobre os Apóstolos e pedimos, por sua intercessão, perfeita fidelidade aos ensinamentos apostólicos.

2. Amor a Jesus Cristo.

Pedro deixa tudo, família, barco, casa, as redes de pesca, para seguir inteiramente a Cristo. É este amor a Jesus Cristo que lhe dá total confiança no perdão do Mestre, após as suas negações. Após a Ressurreição, ele terá oportunidade para confessar o seu amor a Jesus por três vezes: «Senhor, Tu sabes tudo, Tu sabes que Te amo» (Jo 21, 18). Ele dá, finalmente, a maior prova de amor a Jesus, morrendo crucificado em Roma.

Paulo, no encontro com Cristo no caminho de Damasco, rende-se totalmente e Jesus torna-se a sua razão de ser e o motivo profundo de todo o seu trabalho apostólico: «A vida que agora tenho na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus que me amou e a Si mesmo se entregou por mim» (Gal. 2,20). S. Paulo vive de Cristo e com Cristo: entregando-se a si mesmo, toda a sua glória está na crua de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nas suas Cartas, depois do nome de Deus, que aparece mais de 500 vezes, o nome que é mencionado com mais frequência é o de Cristo (380 vezes). A nossa pertença radical a Cristo deve infundir em nós uma atitude de total confiança e imensa alegria: «Se Deus está por nós, quem contra nós? (Rom. 8, 31); ninguém «poderá separar-nos do amor de Deus que está em Cristo Jesus, Senhor nosso» (Rom. 8, 39); «tudo posso n’Aquele que me conforta» (Fil. 4, 13).

3. Amor à Igreja.

Esta solenidade de hoje proporciona-nos uma bela oportunidade para meditar no amor à Igreja e ao Papa. Onde está o Papa, aí está Pedro; e onde está Pedro, aí está o Vigário de Cristo, o «Doce Cristo na Terra» (S. Catarina de Sena), aí está a Igreja, esposa de Crista. «Ninguém pode ter Deus como Pai se não tiver a Igreja como Mãe».

Em resposta à profissão de fé de S. Pedro, feita em nome de todos: «Tu és Cristo, o Filho de Deus vivo», Jesus disse-lhe: «Tu és Pedro (isto é rochedo) e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Dar-te-ei as chaves do Reino dos Céus: tudo quanto ligares na terra será ligado no Céu; e tudo quanto desligares na terra será desligado no Céu» (Mt 16, 18-19)

A Igreja, que é uma só, pois Cristo fala no singular «a minha Igreja», está fundada sobre este único alicerce.

S. Paulo, na Carta aos Efésios, lembra-nos que Cristo «amou a Igreja, entregou-se por ela para a santificar, purificando-a no Baptismo da água pela palavra da vida, para a apresentar a si mesmo, como Igreja gloriosa, sem mancha nem ruga, nem qualquer coisa semelhante, mas santa e imaculada» (Ef. 5, 25-27).

O amor à Igreja é consequência da nossa filiação divina: somos filhos de Deus porque Cristo fundou a Igreja que nos fez renascer pela água e pelo Espírito santo para a vida divina. Quais as obrigações de um filho para com sua mãe? Amor, respeito, docilidade, veneração, obediência, carinho e piedade filial.

 

Fala o Santo Padre

 

«Na debilidade dos homens o Senhor manifesta a sua força.»

 

«Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja» (Mt 16, 18). O que diz exactamente o Senhor a Pedro com estas palavras? Que promessa lhe faz com elas e que cargo lhe confia? E que diz a nós ao Bispo de Roma, que está na Cátedra de Pedro, e à Igreja de hoje? […]

No Evangelho de São Mateus que ouvimos há pouco, Pedro faz sua a confissão a Jesus reconhecendo-o como Messias e Filho de Deus. Com base nisto é-lhe conferida a sua tarefa particular mediante três imagens: a da rocha que se torna pedra de fundamento ou pedra angular, a das chaves e a de ligar e desligar. […]

O momento da promessa marca uma viragem decisiva no caminho de Jesus: agora o Senhor encaminha-se para Jerusalém e, pela primeira vez, diz aos discípulos que este caminho para a Cidade Santa é o caminho da Cruz: «A partir desse momento, Jesus Cristo começou a fazer ver aos seus discípulos que tinha de ir a Jerusalém e sofrer muito, da parte dos anciãos, dos sumos sacerdotes e dos doutores da Lei, ser morto e, ao terceiro dia, ressuscitar» (Mt 16, 21).

Os dois aspectos caminham juntos e determinam o lugar interior da Primazia, antes da Igreja em geral: continuamente o Senhor está a caminho da Cruz, da humilhação do servo de Deus sofredor e morto, mas ao mesmo tempo está também sempre a caminho da vastidão do mundo, na qual Ele nos precede como Ressuscitado, para que resplandeça no mundo a luz da sua palavra e a presença do seu amor; está a caminho porque através d’Ele, de Cristo crucificado e ressuscitado, o próprio Deus chegue ao mundo. Neste sentido Pedro, na sua Primeira Carta, qualifica-se como «testemunha dos sofrimentos de Cristo e partícipe da glória que deve manifestar-se» (5, 1).

Para a Igreja a Sexta-Feira Santa e a Páscoa existem sempre juntas; ela é sempre tanto o grão de mostarda como a árvore entre cujos ramos os pássaros do céu fazem o ninho. A Igreja e nela Cristo sofre hoje também. Nela Cristo é sempre escarnecido de novo e atingido; sempre de novo se procura pô-lo fora do mundo. Sempre de novo a pequena barca da Igreja é abalada pelo vento das ideologias, que com as suas águas penetram nela e parecem condená-la a afundar.

E contudo, precisamente na Igreja sofredora Cristo é vitorioso. Apesar de tudo, a fé n’Ele retoma força sempre de novo. Também hoje o Senhor ordena às águas e demonstra-se o Senhor dos elementos. Ele permanece na sua barca, na barca da Igreja. Assim também no ministério de Pedro se revela, por um lado, a debilidade do que é próprio do homem, mas ao mesmo tempo também a força de Deus: precisamente na debilidade dos homens o Senhor manifesta a sua força; demonstra que é Ele mesmo quem constrói, através de homens débeis, a sua Igreja. […].

Bento XVI, Vaticano, 29 de Junho de 2006

LITURGIA EUCARÍSTICA

 

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS: Fazei, Senhor, que a oração dos santos Apóstolos acompanhe a oferta que trazemos ao vosso altar e nos una intimamente a Vós ao celebrarmos este divino sacrifício. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

 

Prefácio

 

A dupla missão de São Pedro e São Paulo na Igreja

 

V. O Senhor esteja convosco.

R. Ele está no meio de nós.

 

V. Corações ao alto.

R. O nosso coração está em Deus.

 

V. Dêmos graças ao Senhor nosso Deus.

R. É nosso dever, é nossa salvação.

 

Senhor, Pai santo, Deus eterno e omnipotente, é verdadeiramente nosso dever, é nossa salvação dar-Vos graças, sempre e em toda a parte.

Vós nos concedeis a alegria de celebrar hoje a festa dos santos apóstolos Pedro e Paulo: Pedro, que foi o primeiro a confessar a fé em Cristo, e Paulo, que a ilustrou com a sua doutrina; Pedro, que estabeleceu a Igreja nascente entre os filhos de Israel, e Paulo, que anunciou o Evangelho a todos os povos; ambos trabalharam, cada um segundo a sua graça, para formar a única família de Cristo; agora, associados na mesma coroa de glória, recebem do povo fiel a mesma veneração.

Por isso, com todos os Anjos e Santos, proclamamos a vossa glória, cantando numa só voz:

 

Santo, Santo, Santo.

 

Monição da Comunhão

 

Pela Comunhão Eucarística é representada e realizada a unidade dos fiéis que constituem um só Corpo em Jesus Cristo.

Aproximemo-nos com devoção e comamos deste Pão descido do Céu, fonte de unidade e de santidade, e penhor de vida eterna.

 

Mt 16, 16.18

ANTÍFONA DA COMUNHÃO: Disse Pedro a Jesus: Tu és Cristo, o Filho de Deus vivo. Jesus respondeu: Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja.

 

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO: Senhor, que nos alimentastes com este sacramento, concedei-nos a graça de vivermos de tal modo na vossa Igreja que, assíduos à fracção do pão e ao ensino dos Apóstolos, sejamos um só coração e uma só alma, solidamente enraizados no vosso amor. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

 

RITOS FINAIS

 

Monição final

 

Procuremos crescer na unidade da fé, de Vida e de Comunhão, procurando ser sempre fiéis ao ensino e testemunho dos Apóstolos S. Pedro e S. Paulo. Em união com o Santo Padre e com os nossos Bispos, rezemos ao Senhor para que haja um só rebanho e um só Pastor.

 

HOMILIAS FERIAIS

 

13ª SEMANA

 

3ª Feira, 3-VII: Olhos postos no Senhor.

Gen 19, 15-29 / Mt 8, 23-27

Disse-lhes Jesus: Por que estais assustados homens de pouca fé’

Apesar do convívio pessoal com Jesus, para quem nada é impossível, os discípulos pensam mais nas dificuldades, quando aparecem as vagas no lago (cf Ev).

Se temos Jesus mais presente no nosso dia, manter-nos-emos mais firmes no nosso caminho. Se deixarmos de olhar para Ele, assustar-nos-emos com as dificuldades. A mulher de Lot não confiou no pedido do Anjo do Senhor e olhou para trás, transformando-se numa estátua de sal (cf Leit). Vivamos o nosso dia com os olhos postos no Senhor, especialmente nos Sacrários das igrejas.

 

4ª Feira,4-VII: Atrair a atenção de Deus.

Gen 21, 5. 8-20 / Mt 8, 28-34

Quando o viram, suplicaram-lhe que se retirasse do seu território.

Os Gadarenos rejeitaram a presença de Jesus no seu território por Ele ter libertado 2 possessos em troca de uma vara de porcos (cf Ev). Não souberam apreciar a riqueza de ter Deus junto deles, preferindo um bem material, e Jesus afastou-se.

Pelo contrário, Deus comove-se quando lhe suplicamos a sua ajuda e vem em nosso auxílio. Assim aconteceu com Agar: «Não quero ver morrer o meu pequeno», e com os gritos da criança, que atraíram a atenção do Anjo do Senhor (cf Leit). Peçamos aqueles bens que agradam a Deus e Ele nos ajudará.

 

5ª Feira, 5-VII: A fé e a generosidade.

Gen 22, 1-19 / Mt 9, 1-8

Toma o teu filho, o teu único filho, que tanto amas, Isaac, e vai à terra de Moriá. Aí o hás-de oferecer em holocausto.

A Prece Eucarística I recorda a oblação de Isaac, filho de Abraão: «dignai-vos aceitar esta oferenda, como aceitastes o sacrifício de Abraão, nosso pai na fé». Neste sacrifício de Isaac está um anúncio do sacrifício de Jesus, que leva a sua cruz às costas até ao Calvário.

Por falta de fé, os escribas acusam Jesus de blasfémia, por perdoar os pecados (cf Ev). Mas Jesus louva a fé dos que transportaram o paralítico: «Confiança meu filho, os teus pecados são-te perdoados» (Ev). Aumentemos a nossa fé sempre que participarmos no sacrifício da Missa e na recepção do sacramento da Penitência.

 

6ª Feira, 6-VII: S. Tomé: Cristo presente na Eucaristia.

Ef 2, 19-22 / Jo 20, 24-29

Disse a Tomé: Chega aqui o dedo e vê as minhas mãos, aproxima a tua mão e mete-a no meu lado.

Tomé teve a sorte de encontrar Jesus Ressuscitado e poder afirmar que estava vivo. Todos O podemos encontrar, porque Jesus está presente, vive e actua na sua Igreja: Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre.

Ele esta presente na Sagrada Escritura, na Eucaristia, nas acções litúrgicas da Igreja. Como Tomé façamos um acto de fé nesta presença de Cristo: Meu Senhor e meu Deus. Tomé construiu a sua fé apoiado no Senhor: «fostes edificados sobre o alicerce dos Apóstolos…que tem Cristo como pedra angular» (Leit).

 

Sábado, 7-VII: Bons recipientes para boa doutrina.

Gen 27, 11-5. 15-29 / Mt 9, 14-17

Mas deita-se vinho novo em odres novos, e ambas as coisas se conservam.

A vinda de Cristo à terra e a sua mensagem são como vinho novo, exigindo um recipiente novo (cf Ev). A Igreja recebe esta mensagem e está atenta para que o vinho bom não se estrague, isto é, que as verdades da fé e moral não se alterem ao sabor das modas. O aroma desta mensagem é «como o aroma dum campo que o Senhor abençoou» (Leit).

A nossa alma será como o odre novo, que acolhe a boa doutrina, a conserva e a põe em prática. E deverá ter sentido crítico quanto às doutrinas que alguns meios de comunicação social semeiam em abundância.

 

 

 

 

 

 

Celebração e Homilia:       ALFREDO MELO

Nota Exegética:   GERALDO MORUJÃO

Homilias Feriais: NUNO ROMÃO

Sugestão Musical:               DUARTE NUNO ROCHA

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