Homilia de D. Anselmo Chagas de Paiva, OSB – XV Domingo do Tempo Comum (Ano A)

A parábola do semeador

Mt 13,1-23

Caros irmãos e irmãs

A Igreja nos convida neste domingo a lançar um olhar para o campo. Jesus dirige-se à multidão com a conhecida parábola do semeador, onde o próprio Jesus se identifica com aquele que semeia, que difunde a boa semente da Palavra de Deus, e constata os vários efeitos que ela alcança, de acordo com o modo de acolher o seu anúncio. Alguns ouvem superficialmente a Palavra, mas não a acolhem; outros a recebem, mas não têm constância e perdem tudo; há ainda aqueles que são dominados pelas preocupações e seduções do mundo; e, finalmente, aqueles que ouvem de modo receptivo, como o terreno bom e então a Palavra produz fruto em abundância.

As parábolas têm, primeiramente, um sentido didático: Jesus falava do Reino com imagens tiradas da natureza e das situações da vida diária do povo. Era fácil compreender, era acessível aos simples.  Mas, por serem simples e cheias de figuras, as parábolas somente poderiam ser compreendidas por quem tivesse um coração humilde e bom.

O quadro apresentado no texto supõe as técnicas agrícolas usadas na Palestina de então: primeiro, o agricultor lançava a semente à terra; depois, é que passava a arar o terreno. Assim, compreende-se porque uma parte da semente caiu à beira do caminho, outra em lugares pedregosos onde não havia muita terra e outra entre os espinhos. Isto acontecia porque a semeadura não era feita depois que a terra estava preparada, mas antes.

As diferenças do terreno significam, nesta comparação, as diferentes formas como é acolhida a semente. Mas o que é significativo no texto é o número surpreendente de frutos que a semente lançada na “boa terra” produz: trinta, sessenta, cem por um.  Dizem que cinquenta por um é o máximo, nas melhores terras, mas a parábola coloca-se acima das estatísticas.  Levando em conta que, na época, uma colheita de sete por um era considerada farta, os trinta, sessenta e cem, por um deviam parecer aos ouvintes de Jesus algo de surpreendente, de exagerado. Um grande milagre.

E o verdadeiro protagonista desta parábola é precisamente a semente, que produz frutos, em conformidade com o terreno onde ela caiu. Os primeiros três terrenos são improdutivos: ao longo da estrada a semente é comida pelos pássaros; no terreno pedregoso, os rebentos secam-se imediatamente porque não têm raízes; no meio dos arbustos a semente é sufocada pelos espinhos. E no terreno fértil, e somente neste terreno, a semente germina e produz frutos.

Jesus não se limitou a apresentar a parábola; também a explicou aos seus discípulos. A semente que caiu ao longo do caminho indica quantos ouvem o anúncio do Reino de Deus, mas não o acolhem; assim, sobrevém o Maligno e a leva embora. Com efeito, o maligno não quer que a semente do Evangelho germine no coração dos homens. Esta é a primeira comparação.

O segundo caso consiste na semente que caiu no meio das pedras: ela representa as pessoas que escutam a palavra de Deus e que a acolhem imediatamente, mas de modo superficial, porque não têm raízes e são inconstantes; e quanto se apresentam as dificuldades e as tribulações, estas pessoas deixam-se abater repentinamente.  É quando o homem se fecha à Palavra de Deus e, consequentemente, esta Palavra de Deus torna-se ineficaz.

O terceiro caso é o da semente que caiu entre os arbustos: Jesus explica que se refere às pessoas que ouvem a palavra, mas por causa das preocupações mundanas e da sedução da riqueza, é sufocada. Finalmente, a semente que caiu no terreno fértil representa quantos escutam a palavra, aqueles que a acolhem, cultivam e compreendem, e ela dá fruto. 

Jesus mesmo explica o sentido da parábola: a semente é a Palavra de Deus que é lançada nos nossos corações e é sempre fecunda.  Cada o dia Jesus continua semeando. Quando aceitamos a Palavra de Deus e deixamos que ela entre na nossa vida, certamente ela irá germinar, crescer e dará frutos.  Jesus nos diz que as sementes, que caíram à beira do caminho, em meio às pedras e em meio aos espinhos não deram fruto. Pode acontecer isto, também com cada um de nós. Podemos ser como as sementes que caíram à beira do caminho: escutamos o Senhor, mas na nossa vida não muda nada, continuamos no mesmo erro, nada altera.

Também pode acontecer de sermos como aquele terreno pedregoso: acolhemos Jesus com entusiasmo, mas somos inconstantes; diante das dificuldades, não temos a coragem de ir contra a corrente. Também podemos ser como aquele terreno com espinhos: o mundo acaba sufocando em nós as Palavras do Senhor. 

Todos nós, no fundo, queremos ser um terreno bom, onde a Palavra de Deus possa dar muitos frutos.  Se o semeador é Jesus e a semente é a Palavra, o terreno somos nós. E aqui está a nossa responsabilidade: tornar o nosso coração uma terra boa!  Nós seremos o terreno bom na medida em que tivermos a capacidade de nos deixar transformar pelo Evangelho, de adequar a ele nosso modo de pensar, de julgar os valores; numa palavra, de nos converter.

O Apóstolo Pedro certa vez disse a Jesus: “Tu tens palavras de vida eterna” (Jo 6,69). Como de fato, também nós devemos estar sempre convictos de que “Nem só de pão vive o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4,4). A parábola do semeador e da semente nos faz um alerta sobre a importância de ouvirmos a palavra de Jesus e colocar em prática os seus ensinamentos. E que possamos ser como aquele “terreno bom” para darmos muitos frutos. Sejamos também semeadores incansáveis da paz, do perdão e da esperança.  O acolhimento do Evangelho não depende nem da semente, nem de quem semeia; mas depende da qualidade da terra.

Esta parábola deve tocar a cada um de nós e nos fazer recordar que somos o terreno onde o Senhor lança todos os dias a semente da sua Palavra e do seu amor. E podemos perguntar: Com que disposição estamos acolhendo a Palavra de Deus?  Ela está fazendo efeito em nós?  Também não podemos esquecer que, de certo modo, também somos semeadores. Deus lança sementes boas, e também aqui podemos interrogar-nos: Que tipo de semente sai do nosso coração e da nossa boca? As nossas palavras podem fazer muito bem, mas também podem fazer mal. Podem curar e podem ferir. Podem animar e podem deprimir. 

A Virgem de Nazaré soube ser o terreno bom onde a semente da Palavra de Deus foi acolhida e guardada em seu coração (cf. Lc 2,19).  Com o seu exemplo, peçamos também a ela que nos ensine a acolher a Palavra em nosso coração, em nossa vida; e que possamos cultivá-la e a fazer frutificar em nós e nos outros. Terreno bom foram também os apóstolos e os discípulos de Jesus, que acolheram a Palavra e a pregaram ao mundo e, em muitos casos, irrigaram a terra com o próprio sangue.  Podemos também lembrar de muitos Santos que souberam fazer da Palavra de Deus, uma luz para os seus caminhos.  Lembremos ainda de São Bento, que ao longo da sua vida fez da Palavra de Deus uma escuta profunda e perseverante.  Seguindo estes exemplos, saibamos ser a terra boa, onde a semente da Palavra do Senhor possa produzir muitos e muitos frutos.  Assim seja. 

 

Anselmo Chagas de Paiva, OSB
Mosteiro de São Bento/RJ

Facebook
Twitter
LinkedIn

Biblioteca Presbíteros