Homilia de D. Anselmo Chagas de Paiva, OSB – XVII Domingo do Tempo Comum – Ano C

A oração do Pai nosso

Lc 11,1-13

 

Caros irmãos e irmãs,

 

O Evangelho deste domingo nos apresenta Jesus recolhido em oração.  Ele tinha o costume de passar noites e noites em oração; horas e horas em intimidade com o Senhor.  Em todos os momentos da vida Jesus estava rezando. Ele fazia da sua vida uma oração e da oração a sua vida.  Este exemplo de Cristo despertou em um dos seus discípulos o desejo de aprender a rezar como ele, por isto lhe disse: “Senhor, ensina-nos a orar” (Lc 11,1), e Jesus respondeu: “Quando orardes, dizei: Pai Nosso…”.  E ensinou a eles a oração do Pai Nosso (cf. Lc 11, 2-4).

 

A Oração do Pai nosso é a mais bela de todas as orações, sendo rezada milhões de vezes por dia pelos cristãos, em toda a terra, às vezes até de maneira muito espontânea, em certos momentos de dor ou de alegria coletiva.  É também o mais profundo itinerário daquilo que significa a oração, pois nos faz começar invocando Deus como nosso Pai. É a intimidade que deve existir entre filho e Pai; e entre Pai e filho.  Deus é Pai de todos nós, por isto a oração está no plural, para indicar que toda oração deve ser para todos.

 

Uma das maiores graças que recebemos pelo sacramento do batismo, está no fato de podermos tratar Deus como Pai.  Quando chamamos a Deus de “nosso Pai”, precisamos lembrar de que devemos ter um comportamento de filhos de Deus.  Podemos invocar a Deus como “Pai” porque, pelo batismo, somos incorporados e adotados como filhos de Deus.  Jesus nos ensina a chamar Deus de Pai e a recorrer a Ele como filhos. Em Deus vemos um pai cheio de bondade e amor.

 

Na oração do Pai Nosso, pedimos inicialmente que o nome de Deus seja santificado e que seu reino venha até nós.  Começamos pedindo aquilo que deve estar acima de tudo, dominando nossos afetos e aspirações.  Pedimos que o nome de Deus seja conhecido, honrado e amado por todos.  Desejamos que o nome de Deus seja conhecido como santo e seja glorificado.   E pedimos que o nome de Deus seja santificado pelas nossas alegrias, nossos sofrimentos, nosso trabalho, nossas orações e por toda a nossa vida.

 

A oração tem início com um louvor a Deus.  O objetivo da oração é elevar nosso pensamento para o alto, e de desprender-nos da materialidade das coisas do tempo, que muitas vezes podem nos impedir de rezar bem.  Após esta inovação a Deus como Pai, seguem os pedidos.  Os sete pedidos da Oração do Pai Nosso, normalmente são divididos em duas partes, na primeira parte pedimos pelo que é eterno e na segunda, pelo que é transitório.

 

O número sete na Sagrada Escritura significa a plenitude, plenitude de tudo aquilo que o homem precisa. Então, esta oração é fundamental para o cristão, pois contém aquilo que precisamos para nossa vida, para a experiência da nossa fé em Deus e os pedidos em nosso benefício: o pão de cada dia, o perdão dos nossos pecados, a libertação das tentações e de todo o mal.

 

Pedimos que Deus perdoe as nossas ofensas, porque também nós perdoamos uns aos outros.  E o ideal do perdão nos é apresentado por Jesus: “Vai primeiro reconciliar-te com teu irmão” (Mt 5,24). E agora Jesus nos manda dizer que queremos ser perdoados, pois nós também perdoamos.  A nossa sorte está em nossas mãos: como perdoamos, assim também nos será perdoado. A oração do Pai Nosso nos ensina a dizer: “Assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”.   Este “como” indica que o perdão que podemos receber de Deus está condicionado ao perdão que também nós devemos oferecer ao irmão que errou contra nós.  O próprio Cristo também nos exorta: “Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros ‘como’ eu vos amei” (Lc 13,34).  É a unidade do perdão mútuo que torna possível a reconciliação, tendo como exemplo o próprio Cristo, que na cruz perdoou os seus adversários (cf. Lc 26,34).

 

Assim adquirem vida as palavras do Senhor sobre o perdão, esse amor que ama até o extremo do amor.  A oração cristã chega até o perdão dos inimigos. O perdão é um ponto alto da oração cristã; o dom da oração não pode ser recebido a não ser num coração em consonância com a compaixão divina. O perdão dá também testemunho de que, em nosso mundo, o amor é mais forte que o pecado. O perdão é a condição fundamental da reconciliação dos filhos de Deus com seu Pai e dos homens entre si (cf. CIgC 2844).

 

Na parte final da oração, pedimos ao Senhor: “Não nos deixeis cair em tentação”.  É um pedido que atinge a raiz do nosso pecado, que é fruto do consentimento na tentação. Pedimos ao nosso Pai que não nos “deixe cair” nas ciladas do inimigo tentador. Nós pedimos que o Senhor não nos deixe enveredar pelos caminhos que conduzem ao pecado. Este pedido implora o Espírito de discernimento e de fortaleza, para que possamos vencer a tentação.

 

Este “não cair em tentação” envolve uma decisão do coração. É a luta contra o mal e neste combate não conseguimos a vitória, a não ser através da oração. Foi pela força da oração que Jesus venceu o tentador no deserto, o que sequenciou até o último combate de sua agonia.  Também somos chamados a seguir este exemplo de Cristo, para isto necessitamos estar sempre em vigilância. Esta vigilância consiste em “guardar o coração”, e Jesus pede ao Pai que “nos guarde em seu nome” (cf. CIgC, n. 2863).

 

Isto nos faz lembrar uma significativa oração pronunciada pelo sacerdote no decorrer da Santa Missa, logo após a oração do Pai Nosso: “Livrai-nos de todos os males, ó Pai, e dai-nos hoje a vossa paz. Ajudados por vossa misericórdia, sejamos sempre livres do pecado e protegidos de todos os perigos, enquanto, vivendo a esperança, aguardamos a vinda do Cristo Salvador”.  Com isto temos o último pedido: “Mas livrai-nos do mal”. O cristão pede a Deus, com a Igreja, que manifeste a vitória sobre tudo aquilo que nos impede de viver dignamente a nossa união com Ele.

 

Com isto, podemos observar que a oração do Pai Nosso acolhe e expressa também as necessidades humanas, materiais e espirituais. E precisamente por causa das necessidades e das dificuldades de cada dia, Jesus exorta com vigor: “Portanto, eu vos digo: pedi e recebereis; procurai e encontrareis; batei e vos será aberto” (Lc 11,9-10). Não é um pedir para satisfazer as próprias vontades, mas para manter viva a amizade com Deus.

 

Para demonstrar a eficácia da oração perseverante é que Jesus nos apresenta também, no final do Evangelho, uma pequena parábola, para nos ensinar que uma oração bem feita sempre será ouvida.  Nesta parábola Jesus nos fala em pedra e pão, peixe, serpente, ovo e escorpião.  Quer Ele nos ensinar que, se o que pedimos é bom, é útil à nossa salvação, se pedimos com fé e perseverança, Deus nos concederá.

 

Com isto Jesus nos ensina duas importantes lições, que devem dominar nossas orações: a perseverança e a confiança.  De noite, não é fácil atender ao amigo inoportuno.  No entanto, o pedido perseverante e confiante consegue tudo.  Jesus também quer nos ensinar que, mesmo depois de “fechada a porta”, a oração será atendida, pois sua eficácia é importante.

 

A oração do Pai Nosso é realmente um compêndio de todo o Evangelho.  É a mais perfeita das orações. Nela, não só pedimos tudo quanto podemos desejar corretamente, mas ainda, segundo a ordem em que convém desejá-lo. De modo que esta oração não só nos ensina a pedir, mas ordena também todos os nossos afetos (cf. CIgC 2763).

 

Peçamos também nós ao Senhor com a mesma consciência do discípulo do Evangelho: “Mestre, ensina-nos a rezar”, para que, através da oração, possa ser cumprida a vontade de Deus em cada um de nós.  Assim seja.

 

 

Anselmo Chagas de Paiva, OSB

Mosteiro de São Bento/RJ

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