Homilia do D. Henrique Soares da Costa – VIII Domingo do Tempo Comum – Ano A

Is 49,14-15

Sl 61

1Cor 4,1-5

Mt 6,24-34

 

“Olhai os pássaros dos céus; olhai os lírios dos campos! Não vos preocupeis com o dia de amanhã: vosso Pai sabe do que tendes necessidade”.

 

Amados em Cristo, as Palavras que hoje o Senhor Jesus nos dirige no Evangelho, sem dúvida são belíssimas; palavras tantas vezes ouvidas e repetidas, palavras que nós romanceamos como algo bonito e doce… Mas, serão palavras reais, dignas de serem levadas a sério no concreto do mundo, na crueza da dura e inclemente realidade? A questão é importantíssima, caríssimos irmãos no Senhor, porque se as palavras do nosso Divino Mestre forem belas, mas irreais, poéticas, mas inúteis, então, o Evangelho não nos serve de luz, e caminho, de critério para a vida! Palavras belas que não tenham consistência real seriam palavras inúteis e mentirosas, como tantas que escutamos nos dias atuais, tão fartos de comunicação! Ora, longe do Senhor Nosso a mentira, longe do nosso Salvador e inutilidade do dizer! Pelo contrário, ele mesmo avisa: “Sereis julgados por cada palavra inútil que disserdes!” (Mt 12,36)

 

Sendo assim, o que Jesus nos quer dizer hoje, sobre a Montanha? Que significam suas palavras? Eis: o Senhor nos quer exortar, caríssimos, fazendo-nos compreender que o discípulo seu, o cristão, deve ter como opção fundamental da vida, como eixo da existência unicamente o Reinado de Deus: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo!” – é esta a frase central do Evangelho deste hoje! Procurai que o Pai do céu seja o vosso tudo, deixai que o Senhor Deus seja o alicerce, o eixo, o indicador do vosso caminho na vida! E aí, tudo o mais vai se tornando relativo, tudo o mais vai sendo encarado e vivenciado com liberdade, com serenidade, com sabedoria! O Senhor nos pede que deixemos Deus ser Deus na nossa vida e na vida do mundo; todo o resto deve ser avaliado e vivenciado a partir daí. É a partir desta realidade, deste modo de viver, que nossa vida se arruma, nossa coração se aquieta e tudo quanto nos acontece toma um novo sentido! Somente poderemos compreender a nossa realidade e as realidades do mundo, se estivermos firmes na verdadeira Realidade, que é Deus!

 

Mas como é possível, concretamente, chegar a uma confiança tão verdadeira e real em Deus, a ponto de entregar-lhe de efetivamente a direção de nossa vida. – Sim, porque cantamos “toma tu a direção”, mas como é difícil entregar de verdade a direção a Deus! Caríssimos meus, o cristão somente confiará no Senhor e o amará a ponto de caminhar na sua estrada e entregar-lhe a sua vida concreta, se tiver intimidade com ele! Intimidade amorosa que experimente Deus como um amigo, como alguém que nos ama e nos é mais presente que uma mãe: “Acaso pode a mulher esquecer-se do filho pequeno, a ponto de não ter pena do fruto de seu ventre? Se ela se esquecer, eu, porém, não me esquecerei de ti!” Quando tivermos tal intimidade com o Senhor, a ponto de irmos experimentando a verdade dessas palavras, então seremos verdadeiramente capazes de confiar nele! Somente confiamos num amigo íntimo; somente apostamos a vida em quem amamos de fato! Se formos amigos de Deus, se o amarmos realmente, então nele confiaremos, a ponto de colocar nossos pés nos seus passos! Este o exemplo que vemos São Paulo nos dar na segunda leitura de hoje: ele não quer ser outra coisa que um simples servidor de Cristo. Ora, porque ama o seu Senhor, porque deseja somente servi-lo, é livre em relação a si próprio e em relação aos outros: “Quem me julga é o Senhor!” Quanta liberdade, quanta serenidade, quanta felicidade para quem vive assim!

 

Meus caros, fomos feitos para viver na amizade com o Senhor e somente equilibraremos nosso vida e sossegaremos nosso coração vivendo nesta amizade! O mundo atual, este, que nos cerca, é tão complexo e estressante! Pensemos no que encontraremos nesta semana que hoje começa: os desafios no trabalho, os aperreios das finanças, as tensões na família, a competição na profissão, a busca da realização afetiva, a procura de um lugar na sociedade… Ninguém escapa de tais batalhas! Mas, como me coloco ante estas realidades? Qual o eixo que orienta tudo o mais? Em outras palavras, mais dramáticas: Quem é o Senhor da minha vida? Onde está o centro de minhas preocupações, o critério fundamental, o valor absoluto, que dirige, unifica e dá sentido a todas as minhas escolhas, às minhas ações, palavras e reações? Só se pode servir a um Senhor: “Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro!” Em outras palavras: não podeis ter a Deus como alicerce de vossa existência se tudo fazeis pensando simplesmente em dar-vos bem neste mundo! Quem é o teu Senhor? Quem é, realmente, o critério último e a absoluto da minha existência? A resposta não é tão simples, pois “onde está o vosso tesouro, aí estará o vosso coração” (Mt 6,21).

 

Não podemos, caríssimos, fugir desta questão, pois um dia nossa vida será colocada diante do tribunal de Cristo; teremos de prestar contas da nossa existência! Um Dia – naquele Dia tremendo, Dia de Cristo -, os projetos do nosso coração serão colocados às claras na luz do nosso Salvador! “Então, cada um receberá de Deus o louvor que tiver merecido”. Aprendamos, pois, a confiar no Senhor, que jamais se esquece de nós! Deixemos que ele seja uma Presença na nossa vida! Que possamos dizer com toda a realidade as palavras do Salmista na Missa de hoje: “Só em Deus a minha alma tem repouso! Só ele é meu rochedo e salvação, a fortaleza onde encontro segurança! O meu refúgio e rocha firme é o Senhor!” Amados em Cristo, a vida é preciosa demais para ser empregada em futilidades, para não ser realmente levada a sério! Cuidado! Seja o Senhor o fundamento da nossa existência, seja ele o critério de nossas decisões, seja ele a luz e o alento de nossas lutas. Aí poderemos experimentar a verdade das palavras o Salmo 17: “O Senhor se tornou o meu apoio, libertou-me da angústia e me salvou porque me ama!”

 

D. Henrique Soares

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