Homilia do Mons. José Maria – Dedicação da Basílica do Latrão

Unidade com o Papa

No dia 9 de novembro, a Igreja celebra a festa, o aniversário, da dedicação da Basílica de Latrão, a Catedral do Papa, Bispo de Roma, chamada “a primeira entre todas as Igrejas; ou seja, a Igreja-mãe de Roma”. Surgiu no século IV e é dedicada ao divino Salvador. Foi levantada, em Roma, pelo imperador Constantino. A festa é celebrada em toda a Igreja como o sinal de unidade com o Papa. Após a paz constantiniana se tornou a moradia do Papa. Numerosos e importantes concílios ecumênicos tiveram lugar nela. A dedicação daquela Basílica marcou a passagem e a saída da assembleia cristã, do interior das catacumbas para o esplendor das basílicas.

Nossa atenção não fica presa apenas na evocação do fato; na dedicação da Basílica Lateranense, cada comunidade cristã da Igreja Latina recorda e celebra a dedicação da própria igreja, pequena ou grande que seja. Mais: nós temos hoje a ocasião para nos perguntar sobre o significado mesmo da Igreja- edifício na qual nos reunimos cada domingo; consideremos, enfim, “o mistério do templo”.

O que representa para a liturgia e para a espiritualidade cristã a dedicação de uma igreja e a existência mesma da igreja, considerando lugar de culto?

O templo sempre foi considerado entre os judeus como lugar de uma particular presença de Deus. No deserto, Deus manifestava-se na Tenda do encontro, onde Moisés falava com o Senhor, como se fala com um amigo; nesses instantes, a coluna de nuvem –sinal da presença divina- descia e detinha-se à entrada da Tenda (Ex 33,7-11). Era o lugar onde estará presente o meu Nome, o Ser infinito e inefável, para escutar e atender os seus fiéis. Quando Salomão construiu o Templo de Jerusalém, pronunciou estas palavras na festa da sua dedicação:” É possível que Deus habite verdadeiramente sobre a Terra? Porque se o céu e os céus dos céus não te podem conter, quanto menos esta casa que eu edifiquei! Mas atende Senhor meu Deus, à oração do Teu servo e às suas súplicas; ouve o hino e a oração que o teu servo faz hoje na Tua presença, para que os teus olhos estejam abertos noite e dia sobre esta casa, da qual disseste: “O meu nome estará nela”, Israel, em tudo o que te pedirem neste lugar; sim, tu a ouvirás do lugar da tua morada no céu…” (1Rs 8,27-30).

O templo, ensina São João Paulo II, “é casa de Deus e vossa. Apreciai-o, pois, como lugar de encontro com o Pai comum” (Homilia, Madri, 3/11/1982). A igreja-edifício representa e significa a Igreja- assembleia, formada pelas pedras vivas que são os cristãos, consagrados a Deus pelo Batismo.

As Igrejas são o lugar de reunião dos membros do novo Povo de Deus, que se congregam para rezar juntos. Mas são sobretudo o lugar em que encontramos Jesus, real e substancialmente presente na Sagrada Eucaristia; está presente com a sua Divindade e com a sua Santíssima Humanidade, com o seu Corpo e a sua Alma. “Ali nos vê e nos ouve, e nos socorre como socorria aqueles que chegavam, necessitados, de todas as cidade e aldeias” (Mc 6,32). Temos, pois, de ir à igreja com toda a reverência, já que não há nada mais respeitável do que a casa do Senhor: Que respeito devem inspirarmos as nossas Igrejas, onde se oferece o sacrifício do Céu e da terra, o Sangue de um Deus feito homem?

Somos sempre conscientes de que Jesus é nosso Hóspede aqui na terra, de que necessita das nossas atenções? Examinemos hoje se, ao entrarmos numa Igreja, nos dirigimos imediatamente a Jesus no Sacrário, se nos comportarmos com a consciência de estarmos num lugar onde Deus habita de modo particular, se as nossas genuflexões diante de Jesus Sacramentado são um verdadeiro ato de fé, se nos alegramos sempre que passamos por uma Igreja, onde Cristo se encontra realmente presente. “Não te alegras quando descobres no Teu caminho habitual, pelas ruas da cidade, outro Sacrário?” (São Josemaria Escrivá, Caminho, 270). E continuamos os nossos afazeres com mais alegria e paz.

Na oração do Prefácio a Igreja canta: “Vós quisestes habitar esta casa de oração para nos tornarmos, pelo auxílio da vossa graça, o templo do Espírito Santo, irradiando o brilho de uma vida santa. Assim, santificando-a sem cessar, conduzis para a vossa glória a Igreja, Esposa de Cristo e mãe exultante de inúmeros filhos, simbolizada pelos templos visíveis.” (1Cor 3, 16-17)

Possa a celebração de hoje despertar em nós este anseio pela casa do Senhor, fazendo-nos compreender seu profundo significado, animando-vos a nos encontrar nela no final de uma semana de trabalho passada em nossas casas, na escola, na fábrica ou no exercício de qualquer outra profissão!

A Igreja deve ser o sinal do amor mútuo entre aqueles que partem o mesmo pão. Para quem não crê ainda, este deveria ser o “chamado” mais forte para entrar na Igreja.

 Mons. Jose Maria Pereira

Facebook
Twitter
LinkedIn

Biblioteca Presbíteros