Homilia do Mons. José Maria – III Domingo de Páscoa – Ano B

Testemunhas de Cristo

Testemunhar Cristo 

Hoje, no terceiro Domingo da Páscoa, encontramos Jesus ressuscitado que se apresenta no meio dos discípulos (Lc 24, 36), os quais, dominados pelo espanto e cheios de temor, julgavam ver um espírito (Lc 24, 37). Escreve Romano Guardini: “O Senhor mudou. Já não vive como antes. A sua existência… a sua vida inteira, o destino atravessado, a sua Paixão e a sua Morte. Tudo é realidade. Ainda que mudada, é sempre realidade tangível”. Visto que a Ressurreição não cancela os sinais da Crucifixão, Jesus mostra aos Apóstolos as mãos e os pés. E para os convencer, pede até algo para comer. Então os discípulos “deram-lhe um pedaço de peixe assado; e, tomando-o, comeu diante deles” (Lc 24, 42-43). São Gregório Magno comenta que “o peixe assado nada mais é do que a Paixão de Jesus, Mediador entre Deus e os homens. Com efeito, Ele dignou-se esconder-se nas águas do gênero humano, aceitou ser apertado com o laço estreito da nossa morte e foi como que posto no fogo pelas dores que sofreu no momento da Paixão”.

São Lucas (Lc 24, 35-48) narra como os dois discípulos de Emaús, depois de O terem reconhecido “ao partir o pão”, se dirigiram cheios de alegria a Jerusalém para informar os outros de quanto tinha acontecido. E precisamente quando estavam a falar, o próprio Senhor fez – se presente mostrando as mãos e os pés com os sinais da Paixão. Diante da admiração incrédula dos Apóstolos, Jesus pediu peixe assado e comeu – o diante deles. Cristo vai ao encontro deles para fortalecer-lhes a fé e dizer-lhes: “Vós sois as testemunhas destas coisas.” (Lc 24, 45-48). O Salvador garante – nos a sua Presença Real, entre nós, por meio da Palavra e da Eucaristia. Por conseguinte, assim como os discípulos de Emaús reconheceram Jesus ao partir o Pão (Lc 24, 35), também nós encontramos o Senhor na Celebração Eucarística. Explica São Tomás de Aquino que “é necessário reconhecer segundo a fé católica, que Cristo está inteiramente Presente neste Sacramento, (…) porque a divindade deixou o corpo que adquiriu” (S. Tomás, lll, q. 76, a. 1).

A Eucaristia, o lugar privilegiado no qual a Igreja reconhece “o Autor da Vida” ( At 3, 15 ), é “a Fração do Pão”, como é chamada nos Atos dos Apóstolos. Nela, mediante a fé, entramos em comunhão com Cristo, que é “altar, vítima e sacerdote” e está no meio de nós. Reunimo – nos em volta d’Ele para fazer memória de suas palavras e dos acontecimentos contidos na Escritura; revivemos a sua Paixão, Morte e Ressurreição. Celebrando a Eucaristia comunicamos com Cristo, vítima de expiação, e d’Ele obtemos perdão e vida. O que seria a nossa vida de cristãos sem a Eucaristia? A Eucaristia é a herança perpétua e viva que o Senhor nos deixou no Sacramento do seu Corpo e do seu Sague, que devemos constantemente reconsiderar e aprofundar para que, como afirmava o Papa, agora São Paulo Vl, possa “imprimir a sua inexaurível eficácia sobre todos os dias da nossa vida mortal”.

Jesus aponta a MISSÃO: “Sereis minhas testemunhas”.

Esta missão impossível é aquilo que vemos realizar-se no trecho bíblico de At 3, 13-19. Na manhã de Pentecostes, Pedro diz ao povo de Jerusalém: Matastes o Príncipe da Vida, mas Deus o ressuscitou dentre os mortos: disso nós somos testemunhas […]. Arrependei-vos, portanto, convertei-vos, para que vossos pecados sejam apagados. Embora tendo ficado poucos e sozinhos, com o encargo de pregar o Evangelho em todo o mundo (Mc 16,15), os Apóstolos não desanimam; sabiam que sua missão era uma só: dar testemunho do que tinham ouvido e visto cumprir-se em Jesus de Nazaré; o resto o teria feito Ele mesmo agindo junto com eles e confirmando Sua Palavra com os prodígios (At 1,22). A esse Jesus Deus ressuscitou, e disso nós todos somos testemunhas (At 2,32; 5,15; 10, 40). Nós vimos a Vida e lhe damos testemunho (1Jo 1,2).

Esse testemunho levou a todos, um depois do outro, ao martírio; no entanto, porém, em poucos decênios se cumpriu aquilo que antes parecia uma missão impossível aos homens a divulgação do Evangelho em todo o mundo, fazendo discípulos todos os povos.

Os Apóstolos não demoraram a descobrir que não estavam sozinhos para dar testemunho de Jesus; outra testemunha, silenciosa, mas irresistível, se unia a eles toda vez que falavam de Jesus, o Espírito Santo: Deste fato nós somos testemunhas, nós e o Espírito Santo, que Deus concedeu a todos aqueles que lhe obedecem (At 5,32). O Espírito da Verdade, que procede do Pai- tinha predito Jesus -, ele dará testemunho de mim. Também vós dareis testemunho (Jo 15,26).

Ser testemunha é conhecer, viver e anunciar a mensagem de amor, que Cristo trouxe.

A Ressurreição de Jesus, no Evangelho, aparece como um fato real, mas assim mesmo os apóstolos não conseguiam acreditar facilmente. O caminho foi longo, difícil, penoso, carregado de dúvidas e incertezas.

A Ressurreição de Cristo é o acontecimento central do Cristianismo, verdade fundamental que se deve reafirmar com vigor em todos os tempos, porque negá-la como se tentou fazer de várias formas, e ainda se continua a fazer, ou transformá-la num acontecimento meramente espiritual, significa banalizar a nossa própria fé. “Mas se Cristo não ressuscitou, vã é a nossa pregação, e vã nossa fé” (1 Cor 15, 14).

O caminho espiritual para chegar à fé continua o mesmo.

“Tocai em mim”, diz Jesus. O gesto de tocar nos ensina que o encontro dos discípulos com Jesus ressuscitado foi um fato real e palpável.

Também o Ressuscitado revela o sentido profundo das Escrituras.

Cada um de nós, a comunidade, deve reunir-se com Jesus ressuscitado para escutar a Palavra, que sempre ilumina a nossa vida e nos ajuda a descobrir os caminhos de Deus na história…

Os discípulos recebem a MISSÃO de serem testemunhas de tudo isso…

A raiz da Missão é o Encontro com o Ressuscitado e a compreensão das Escrituras.

Cristo continua precisando, ainda hoje, de testemunhas…

O Concílio Vaticano II fala dos bispos e sacerdotes como “testemunhas de Cristo e do Evangelho” (LG, 21.25).

Porém, referindo-se aos leigos diz que eles também são testemunhas da Ressurreição de Cristo. “Cada leigo deve ser diante do mundo uma testemunha da Ressurreição e da vida de Jesus, um sinal do Deus vivo” (LG 38).

Todos somos chamados a ser testemunhas da presença do Ressuscitado, através de nossas palavras e ações.

Cristo, ainda hoje, continua nos lembrando: “Vocês também devem ser minhas testemunhas!”

   Nos dias seguintes à Ressurreição do Senhor, os Apóstolos permaneceram reunidos entre si, confortados pela presença de Maria, e depois da Ascensão perseveraram juntamente com Ela, em oração, esperando Pentecostes. Nossa Senhora foi para eles Mãe e Mestra, papel que continua a desempenhar para os cristãos de todos os tempos.

Que a Mãe de Deus nos ajude a escutar com atenção a Palavra do Senhor e a participar dignamente da Mesa do Sacrifício Eucarístico, para nos tornarmos testemunhas da humanidade nova.

Confiemos a Maria as necessidades da Igreja e do mundo inteiro, especialmente neste momento marcado por não poucas sombras.

Que Maria, Rainha do Céu, interceda a Deus Pai por nosso país, pelo mundo inteiro!

Rainha da Paz: Rogai por nós!

 

Mons. José Maria Pereira

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