Homilia do Mons. José Maria – V Domingo da Quaresma – Ano B

Onde, Quando, Como Encontrar Jesus?

A Quaresma caminha para o seu fim.

No Evangelho (Jo 12,20-33), Jesus mostra que desejam vê-Lo: É o caminho da Cruz, o caminho da obediência a Deus, o caminho da semente lançada à terra, que não fica só, mas, morrendo, produz muito fruto. É chegada a hora de Jesus. Trata-se de sua Paixão e Ressurreição, pela qual Ele se lança totalmente no plano do Pai e realiza plenamente sua vontade.

Um grupo de gregos (os estrangeiros à raça judaica), que estavam em Jerusalém para celebrar a Páscoa, pedem: “Queremos ver Jesus!,” isto é, conhecê-Lo em profundidade. Não se dirigem diretamente a Jesus; mas, aos discípulos. Servem-se de dois mediadores: Felipe e André…

No pedido destes anônimos gregos, podemos ver a sede que existe no coração de cada homem de ver e de conhecer Cristo; e a resposta de Jesus orienta – nos para o Mistério da Páscoa, manifestação gloriosa da sua missão salvífica. “Chegou a hora – declara Ele – em que será glorificado o Filho do Homem” (Jo 12, 23). Sim! Está para chegar a hora da glorificação do Filho do Homem, mas isso obrigará a passagem dolorosa através da Paixão e da Morte na Cruz. De fato, só assim se realizará o plano divino da salvação que é para todos, judeus e pagãos. Com efeito, todos são convidados a fazer parte do único povo da Aliança nova e definitiva. Nesta luz, compreendemos, também, a solene proclamação com que termina o trecho evangélico: “E quando Eu for elevado da terra, atrairei todos a mim” (Jo 12, 32), como também o comentário do Evangelista: “Assim falava para indicar de que morte deveria morrer” (Jo 12, 33). A Cruz: a altura do amor é a altura de Jesus e a esta altura Ele atrai a todos.

Diz Jesus: “Se o grão de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá ele só; mas se morrer, produzirá muito fruto” (Jo 12, 24). Compara- se a Si mesmo com um “grão de trigo que se desfaz, para produzir muito fruto para todos”, segundo uma eficaz expressão de Santo Atanásio; e só mediante a morte, a cruz, Cristo produz muito fruto por todos os séculos.  A fecundidade da vida manifesta – se na morte. Jesus vai morrer e nascerá a Igreja…

Para conhecer Jesus, devem morrer as seguranças humanas, o apego à própria vida é à sabedoria humana (que os gregos valorizavam tanto).

Deve morrer tudo o que nos afasta do projeto de Jesus, que veio para que todos tenham vida em abundância.

O caminho para ver Jesus é a Cruz: “Quando Eu for elevado da terra (na Cruz), atrairei todos a Mim”.  Várias vezes disse Jesus: “Se alguém quiser servir – Me, siga – Me”. Não há alternativa para o cristão que quiser realizar a própria vocação. É a “lei” da Cruz descrita com a imagem do grão de trigo que morre para germinar a vida nova; é a “lógica” da Cruz recordada também no Evangelho de hoje: “Quem ama a própria vida, perdê-la-á, e quem aborrece a própria vida neste mundo, conserva-la-á para a vida eterna”. “Aborrecer” a própria vida é uma expressão semítica forte e paradoxal, que ressalta bem a totalidade radical que deve distinguir quem segue Cristo e se põe, por amor a Ele, ao serviço dos irmãos: perde a vida e assim a encontra. Não existe outro caminho para experimentar a alegria e a verdadeira fecundidade do Amor: o caminho do dar-se, do doar – se, do perder-se para se encontrar. É o caminho para todo o discipulado…

“Queremos ver Jesus!.” Esse pedido dos gregos é uma linda proposta de vida para todos nós. É anseio de todos nós. Todos queremos ver Jesus! O Doc. de Aparecida lembra – nos que “o início do Cristianismo é um encontro de fé com a pessoa de Jesus Cristo” (DA 243). E “a própria natureza do cristianismo consiste em reconhecer a presença de Jesus Cristo e segui-Lo” (244). Seguir Cristo: este é o segredo! Acompanhá-Lo tão de perto, que vivamos com Ele, como os primeiros Doze; tão de perto, que com Ele nos identifiquemos: se não colocarmos obstáculos à graça, não tardaremos a afirmar que nos revestimos de Nosso Senhor Jesus Cristo (Rm 13,14). Diz São Josemaria Escrivá: “Neste esforço por nos identificarmos com Cristo, costumo falar de quatro degraus: procurá-Lo, encontrá-Lo, conhecê-Lo, amá-Lo. Talvez vos pareça que estais na primeira etapa… Procurai-O com fome, procurai-O em vós mesmos com todas as vossas forças! Se o fazeis com este empenho, atrevo-me garantir que já O encontrastes e que já começastes a conhecê-Lo e a amá-Lo e a ter a vossa conversa nos céus” (Amigos de Deus, 299-300).

Ao ser pregado na Cruz, Jesus é o sinal supremo de contradição para todos os homens! “Cristo, Senhor Nosso, foi crucificado e, do alto da Cruz, redimiu o mundo, restabelecendo a paz entre Deus e os homens. Jesus Cristo lembra a todos: “quando Eu for elevado da terra, atrairei todos a Mim” (Jo 12,32), se vós Me puserdes no cume de todas as atividades da terra, cumprindo o dever de cada momento, sendo Meu testemunho naquilo que parece grande e naquilo que parece pequeno, tudo atrairei a Mim. O Meu reino entre vós será uma realidade” (Cristo que Passa, 183). Cada cristão, seguindo Cristo, há de ser uma bandeira hasteada, uma luz colocada no candeeiro: bem unido pela oração e mortificação à Cruz, em cada momento e circunstância da vida, há de manifestar aos homens o amor salvador de Deus Pai.

Os gregos quiseram ver Jesus! Encontraram Filipe e André que os conduziram a Jesus. Tendo visto Jesus, tendo acreditado nEle, Filipe e André guiam outras pessoas para verem Jesus. É a vocação de todos os que queiram seguir a Cristo. Tendo visto Jesus, tendo feito a experiência de Deus em sua vida, tendo-se transformado em semente lançada à terra, os cristãos são chamados a conduzirem outras pessoas a Jesus, para verem – no, para seguirem – no, para viverem da sua vida. Vendo Jesus nos cristãos, essas pessoas também crerão e terão vida em abundância.

“Queremos ver Jesus!”
Mas onde, quando, como encontrá-Lo?

O Documento de Aparecida mostra uns lugares de encontro com Jesus Cristo. Confira os números entre parêntesis:

-“O encontro com Cristo realiza-se na fé recebida e vivida na Igreja”. (246)

– Encontramos Jesus na Sagrada Escritura, lida na Igreja…

É indispensável o conhecimento profundo e vivencial da Palavra de Deus” (347).

-Encontramos Jesus Cristo na Sagrada Liturgia… a Eucaristia é o lugar privilegiado do encontro do Discípulo com Jesus Cristo” (250-251).

A celebração eucarística dominical é uma necessidade interior do cristão, da família cristã e da comunidade paroquial” (252).

-O sacramento da Reconciliação (Confissão) é o encontro com o Cristo que perdoa (254).

– A Oração pessoal e comunitária cultiva a amizade com Cristo (255).

-“Jesus está presente em meio a uma Comunidade viva na fé e no amor fraterno” (256).

-Também o encontramos nos pobres, aflitos e enfermos… (257).

-“Encontramos também na Piedade popular…” (258)

“Queremos ver Jesus” significa acolher a sua pessoa com alegria, por ser o centro e a motivação mais forte da própria existência, e a garantia que não se apaga.

“Queremos ver Jesus”: Aquela Face sofredora que nos próximos dias da Paixão contemplaremos desfigurada por causa de nossos pecados, da indiferença e da ingratidão dos homens. Aquela Face radiante de luz e resplandecente de glória, que brilhará no alvorecer do dia da Páscoa. Fixemos o coração e a mente na Face de Cristo.

Deixemo – nos iluminar pelo seu esplendor, envolver pelo seu fascínio! O amor infinito de Cristo resplandeça em cada uma das nossas atitudes, e se torne a nossa experiência diária. Fixando nele os olhos da fé, tenhamos a coragem de perguntar: “Jesus, que queres que eu faça contigo e para ti?”.

Aprendamos com Santo Agostinho: “Cristo sofreu; morramos para o pecado. Cristo ressuscitou; vivamos para Deus. Cristo passou deste mundo para o Pai; não se separe aqui o nosso coração, mas siga-o nas coisas do alto”.

Queremos ver Jesus. Agora pela fé, e depois na glória. Fé firme que sustente a felicidade interior de conhecer Cristo e pertencer à sua Igreja. Vemos nos Santos, que se entregaram plenamente à causa do Evangelho com entusiasmo e alegria, sem olhar a sacrifícios, incluindo o da própria vida. Viviam uma aposta incondicional por Cristo, de Quem tinham aprendido o que significa verdadeiramente amar até o fim.

Sejamos perseverantes na oração e não paremos de correr para ver Jesus!

 

Mons. José Maria Pereira

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