Homilia do Mons. José Maria – XI Domingo do Tempo Comum (Ano C)

Virtudes que Salvam

O evangelho do XI Domingo (Lc. 7, 36-8, 3) apresenta Jesus que foi convidado para almoçar na casa de Simão.

Quando estavam à mesa, entra uma mulher e vai diretamente a Cristo. Era uma mulher pecadora que havia na cidade. Tudo indica que ela já conhecia o Senhor, provavelmente ficara impressionada em alguma outra ocasião com as suas palavras ou com algum gesto da sua misericórdia. Hoje, grande dia, decide-se a ter um encontro pessoal com Ele. São visíveis os sinais de arrependimento e contrição: levou um vaso de alabastro de perfume, pôs-se atrás de Jesus, junto aos seus pés, chorando, e começou a banhá-los com lágrimas, e enxugava-os com os cabelos da sua cabeça, e os beijava e os ungia com o perfume. Sabemos o que se passava no seu íntimo pelas palavras que o Senhor disse: Amou muito! Mostrou que professava por Jesus uma veneração sem limites. Esqueceu-se dos outros e de si mesma; só Cristo é que lhe importava.

A fé e a humildade salvaram aquela mulher! Diz São Gregório Magno que “aquela mulher nos representou a todos os que, depois de termos pecado, nos voltamos de todo o coração para o Senhor e a imitamos no pranto da penitência”. A contrição faz com que nos esqueçamos de nós mesmos e nos aproximemos novamente de Deus; e é também demonstração de um amor profundo, que atrai a misericórdia divina sobre as nossas vidas. Os nossos piores defeitos e faltas, ainda que sejam muitos e freqüentes, não nos devem desanimar enquanto formos humildes e quisermos voltar arrependidos.

Que Deus nos faça cada vez mais ambiciosos por sermos santos, que nunca desanimemos na luta pela santidade, por alcançar o Amor de Deus. Ensinava São Josemaria Escrivá: “Neste torneio de amor, não nos devem entristecer as nossas quedas, nem mesmo as quedas graves, se recorremos a Deus com dor e bom propósito, mediante o Sacramento da Penitência (Confissão). Jesus Cristo não só se comove com a inocência e a fidelidade de João, como se enternece com o arrependimento de Pedro depois da queda. Jesus compreende a nossa debilidade e atrai-nos a si como que por um plano inclinado, desejando que saibamos insistir no esforço de subir um pouco, dia após dia. Procura-nos como procurou os discípulos de Emaús, indo ao seu encontro; como procurou Tomé e lhe mostrou as chagas abertas nas mãos e no lado, fazendo com que as tocasse com os seus dedos. Jesus Cristo está sempre à espera de que voltemos para Ele, precisamente porque conhece a nossa fraqueza” (É Cristo que passa, nº. 75).

Simão foi deselegante com Jesus! Não foi hospitaleiro. Não lhe ofereceu água para lavar os pés; não lhe deu o ósculo da paz; não lhe ungiu a cabeça com perfume. A mulher, no entanto, fez muito mais: lavou-lhe os pés, enxugou-os com os seus cabelos e não parava de beijá-los.

Simão não se deu conta das suas faltas, como também não é consciente de que, senão cometeu mais pecados e mais graves, foi pela misericórdia divina, que o preservou do mal. Comenta Santo Agostinho: “Ama pouco aquele que é perdoado em pouco. Tu, que dizes não ter cometido muitos pecados, por que não os cometeste? Sem dúvida porque Deus te conduziu pela mão. Não há nenhum pecado cometido por um homem que não possa ser cometido para outro, se Deus, que fez o homem, não o sustenta com a sua mão”.

Não podemos esquecer a realidade das nossas faltas, nem atribuí-las ao ambiente, às circunstâncias que nos rodeiam, ou admiti-las como algo inevitável, desculpando-nos e fugindo da responsabilidade. Se assim comportássemos, fecharíamos as portas ao perdão e ao reencontro verdadeiro com Deus, tal como aconteceu com o fariseu. Diz São João Crisóstomo: “Mais que o próprio pecado, o que irrita e ofende a Deus é que os pecadores não sintam dor alguma dos seus pecados”. E não pode haver dor se nos desculpamos das nossas fraquezas. Pelo contrário, façamos um sincero e profundo exame de consciência, sem nos limitarmos a aceitar genericamente que somos pecadores. “Não podemos ficar na superfície do mal; é preciso chegar à sua raiz, às causas, à verdade mais profunda da consciência” (Cardeal Wojtyla). Jesus conhece bem o nosso coração e deseja limpá-lo e purificá-lo.

Peçamos ao Senhor a graça da virtude da sinceridade! A sinceridade é salvadora! A verdade vos fará livres, disse Jesus. O engano, a simulação e a mentira, pelo contrário, levam à separação do Senhor e à esterilidade nos frutos da caridade.

A raiz da falta de sinceridade é a soberba. Esta impede o homem de submeter-se a Deus, de saber o que Ele lhe pede, e torna-lhe ainda mais difícil reconhecer que atuou mal e retificar. Chega-se à cegueira espiritual. Necessitamos de uma atitude humilde, como a da mulher pecadora, para crescermos no conhecimento próprio com a sinceridade e assim confessarmos os nossos pecados.

A humildade permite-nos ver a grande dívida que temos com o Senhor e sentir a radicalidade da nossa insuficiência pessoal, levando-nos a pedir perdão a Deus muitas vezes ao dia pelas coisas que não vão bem na nossa vida. Se formos sinceros conosco próprios não seremos juízes dos defeitos daqueles com quem convivemos!

A caridade e a humildade ensinam-nos a ver nas faltas e pecados dos outros a nossa própria condição fraca e desvalida, e ajudam-nos a unir-nos de coração à dor de todo o pecador que se arrepende, porque também nós cairíamos em faltas iguais ou piores se a misericórdia de Deus não nos sustentasse.

Peçamos à Virgem Maria que alcance de Deus, para nós, as virtudes da humildade e da sinceridade!

Mons. José Maria Pereira

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