Homilia do Padre Françoá Costa da Missa do Dia do Natal | Ano C

Encarnação, Nascimento e Adoração

Missa do dia do Natal – C – Is 52,7-10; Sl 97; Hb 1,1-6; Jo 1,1-18

O prólogo do quarto Evangelho (Jo 1,1-18) pode ter sido um poema utilizado no contexto litúrgico da Igreja primitiva e que o Apóstolo teria adaptado para o seu texto . O fato é que o prólogo começa na eternidade de Deus, vai aproximando-se pouco a pouco da nossa realidade até assumir a nossa humanidade e dilatar a graça que existe em Jesus Cristo, Verbo de Deus encarnado, sobre toda a humanidade. Como acontecimentos principais que aparecem no prólogo podem apreciar-se: 1) a divindade e eternidade do Verbo; 2) a Encarnação do Verbo e a Sua manifestação como homem; 3) a intervenção do Verbo na criação e na obra salvífica da humanidade; 4) o comportamento diverso dos homens diante da vinda do Salvador: uns aceitam-No com fé e outros rejeitam-No; 5) por último, João Batista é a testemunha da presença do Verbo no mundo.

Entre as figuras de Jesus Cristo no Novo Testamento, Moisés é mencionado explicitamente no versículo 17: “a lei foi dada por Moisés, a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo”. A Lei era figura, a graça é a realidade; Moisés era a figura, Jesus Cristo é a realidade. Essa afirmação se encontra claramente noutra passagem do Novo Testamento: “A lei se nos tornou pedagogo encarregado de levar-nos a Cristo, para sermos justificados pela fé. Mas depois que veio a fé já não dependemos do pedagogo” (Gl 3,24-25).

“Ninguém jamais viu Deus. O Filho único, que está no seio do Pai, foi quem o revelou” (v. 18). Tudo o que existia antes da vinda do Filho de Deus que se encarnou para a nossa salvação (v. 14), era sombra, aparência. Os Padres da Igreja, apoiados nessa maneira intra-testamentária de ver as coisas, utilizaram frequentemente, de maneira velada ou não, do mito da caverna de Platão, já que explicava muito bem a relação entre imagem e realidade. Todas as realidades do Antigo Testamento, diante de Jesus enquanto homem, aparecem como “typós” (figura) do “Christus venturus”, do Filho de Deus que deveria vir segundo a carne de Adão.

O texto sagrado chama Verbo ao Filho de Deus. Uma analogia ou comparação com as coisas humanas pode ajudar-nos a compreender a noção de “Verbo” ou “Palavra”: assim como um homem ao conhecer-se forma na sua mente uma imagem de si mesmo, assim Deus Pai ao conhecer-Se gera o Verbo Eterno. Este Verbo de Deus é um e único, não pode existir outro porque n’Ele se exprime toda a essência de Deus. Por isso o Evangelho não Lhe chama simplesmente “Verbo”, mas “o Verbo”. Do Verbo afirmam-se três verdades: que é eterno, que é diferente do Pai, e que é Deus .

Aquilo que João contara-nos no seu prólogo, Paulo fê-lo no hino de Fl 2, no qual se diz que o Verbo é preexistente, que tomou a condição de servo, sofreu, morreu e ressuscitou. Trata-se de um resumo do mistério de Jesus Cristo . Poderíamos até mesmo dizer que enquanto João nos apresenta a primeira parte da cristologia, mais centrada no mistério da encarnação, Paulo nos oferece a segunda, centrada na soteriologia, no mistério da nossa salvação. Cristologia e soteriologia são duas caras de uma mesma moeda, Jesus Cristo em sua dupla dimensão: ser e agir.

O Apóstolo Paulo parte da divindade de Cristo (“sendo igual a Deus”, v. 6), fala do seu “esvaziamento” (“a si mesmo esvaziou-se”, v. 7) ao fazer-se um de nós e ao sofrer e morrer por obediência e amor ao seu Pai. A causa (v. 9) – isto, é por causa dos sofrimentos de Jesus Cristo – nos fala dos méritos infinitos de Jesus Cristo: ele ressuscitou por seu próprio poder porque é Deus, mas também mereceu de seu Pai a glória que recebeu.

O v. 10 fala-nos do poder do Nome de Jesus. De fato, o “Nome” era um dos títulos de Jesus Cristo entre os cristãos dos séculos I e II.  O “Nome” (schem) de Deus aparece como sinônimo do mesmo Deus enquanto que se manifesta (cf. Ex 23,21; Tb 8,5). A partir dos dados do Antigo Testamento se desenvolverá uma teologia do Nome que, reelaborada em ambientes judaicos, ajudará na distinção: o “Nome” é uma Pessoa distinta do Pai. Várias passagens do Novo Testamento identificam o “Nome” com Jesus Cristo (cf. At 5,41; At 1,2). O Nome é aquele que está composto por todas as letras: já que contém a totalidade dos seres, deve ter também a totalidade das letras, que se designam pelo Α e pelo Ω, cujos valores numéricos são “1” e “800”, respectivamente; somados, resultam “801”. Cristo, Alfa e Ômega, contém tudo. Para melhor expressar essa ideia da totalidade e identificá-lo como sendo o Alfa e o Ômega, alguns cristãos dos primeiros séculos chamaram-no “Pomba”, referindo-se àquela que desceu sobre Jesus no momento do Batismo. Pomba, em grego περιστερά (“peristerá”), tem também o valor numérico 801 ao somar cada um dos números ocultos na palavra : 80+5+100+10+200+300+5+100+1= 801. É evidente o perigo de, nesta teoria, considerar Jesus como um mero homem divinizado no momento do Batismo  e, contudo, o mais importante não é que a realidade seja vista neste prisma, mas quer-se fazer notar a importância que se deu ao “Nome”.

Em todo caso, “no nome de Jesus se dobre todo joelho nos céus, na terra e nos infernos” (Fl 2,10). Fl 2,11 termina com a confissão que toda língua deve fazer para conseguir a salvação: Jesus Cristo é Senhor, isto é, ele é Adonai como o Pai é Adonai.

E, como todos sabem, quando Papai Noel ficou sabendo que o cartunista alemão Thomas Nast ia dar-lhe, em 1886, um novo visual com aquela roupagem vermelha e detalhes brancos, ficou tão feliz que decidiu visitar o Menino Jesus e mostrar-lhe a roupa com as cores que, de fato, tinham algo que ver com o Natal. O bom velhinho pensou que Jesus ficaria feliz com o vermelho que simbolizaria o martírio de Jesus pela salvação do mundo, o branco da pureza de vida que o Redentor pediria a todos os mortais e o preto do cinturão que representaria, na opinião do mesmo Santa Claus, o tom de renuncia que o seguimento ao Senhor provocaria nos seus discípulos. Papai Noel estava decidido então a visitar o Divino Menino, mas sabia também que o nascimento tinha acontecido há dezoito séculos. O que fazer? Não podia entrar na caravana dos Reis Magos. Porém decidiu visitar os presépios das igrejas e imaginou-se bem perto do Rei Jesus. Quis então oferecer-lhe um presente. Quis também ser representado num presépio que ele mesmo mandou construir na sua casa, na qual ele, Papai Noel, se encontrava ajoelhado aos pés do Menino Jesus. Ajoelhe-se você também e adore ao Deus Menino.

Padre Françoá Costa
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