Homilia do Padre Françoá Costa – XIV Domingo do Tempo Comum – Ano B

Doutrina admirável

 

Se combinarmos, entre quatro pessoas, para ir a São Paulo num carro de passeio, por exemplo, caso nunca tenhamos ido a essa cidade, precisaremos de um bom mapa de estradas e também orientar-nos pelas placas que encontraremos pelo caminho. Se não seguirmos rigorosamente essas indicações, ao invés de chegarmos a São Paulo chegaríamos a qualquer outra cidade, a qual não seria, porém, a nossa meta. O mapa não se manipula, se estuda; poderia representar o esforço pessoal para se chegar ao céu. Quanto às placas, essas estão lá, precisamos simplesmente segui-las. Alguém as colocou lá; nós, docilmente, seguindo-as chegaremos, pelo caminho proposto, à meta. Elas poderiam representar a graça de Deus. Ambas, placas e mapas nos indicam por aonde irmos se quisermos alcançar o objetivo proposto.

 

Para chegarmos ao céu, é importante que lutemos com muito esforço e muita decisão, sem esquecermo-nos que a graça de Deus nos acompanha sempre. Nesse nosso caminho rumo ao céu, uma das grandes graças que nos foi oferecida é o ensinamento de Cristo. Os ensinamentos do Senhor são como boas placas do caminho que, se as seguirmos, chegaremos a bom termo.

 

Escandalizavam-se porque o carpinteiro, o filho de Maria ensinava com autoridade, com sabedoria. Por outro lado, Jesus deixaria realmente uma impressão muito grata, os que o ouviam ficavam admirados. Gosto de imaginar Cristo ensinando, gosto de imaginar-me lá junto dele escutando as suas palavras sapientíssimas, cheias de unção, são as palavras do Filho sobre o seu Pai. Nós também ficamos admirados porque é simplesmente maravilhoso tudo o que o Senhor fala sobre o Pai, seu Pai e nosso Pai, mas… será que ficamos também escandalizados, isto é, será que suas palavras santíssimas são causa de queda para nós?

 

Quando as palavras de Cristo seriam causa de escândalo para nós?

  • Se, ao ler o Evangelho, chego à conclusão que tudo aquilo é impossível para mim, que não posso chegar a metas tão altas, que a santidade é coisa para poucos;
  • Se, ao escutar o Magistério da Igreja ensinando as exigências do amor de Deus, criticamos e não nos dispomos a seguir pelos caminhos que o Senhor deseja e que o Papa e os Bispos em comunhão com ele nos transmitem;
  • Se a humildade, a castidade, se o aproveitamento do tempo, o serviço aos demais me parecem virtudes de gente retrógrada, de gente do passado, pouco desenvolvida e que não acompanha a modernidade.

 

Mas, Jesus já tinha mostrado àqueles homens e muitas vezes nos tem mostrado a origem da sua autoridade: o que ele fala verdadeiramente vem de Deus, ele é o Deus feito homem. No batismo escutara-se a voz do Pai que dizia “Tu és o meu Filho amado; em ti ponho as Minhas complacências” (Mc 1,11); ao começar seu ministério muitos tinham escutado o Senhor com toda a autoridade a dizer-lhes: “Fazei penitência e crede no Evangelho” (Mc 1,15). Também tinham se maravilhado da doutrina do Senhor quando ele certa vez entrara na sinagoga de Cafarnaum e começara a ensinar, tinham visto lá um ensino com autoridade (cf. Mc 1,21-22). Essa autoridade do Senhor também fica patente quando ele expulsa demônios, quando ele cura os enfermos. Diante das maravilhas de Cristo, seus ensinamentos e suas ações, as pessoas ficavam pasmadas e davam glória a Deus: “Nunca vimos coisa assim!” (Mc 2,12). Ainda que nem todos ficassem admirados e a dar glória a Deus, é verdade que muitos tinham essas reações. Nós queremos ser contados entre esses que glorificam a Deus, não entre aqueles para os quais a doutrina de Cristo era motivo de escândalo, de queda. Por quê? Por causa do endurecimento de coração, por causa do comodismo egoísta que não os permitia olhar ao redor de si e para si mesmos de maneira realista.

 

A escolha dos apóstolos deixa claro que o Senhor os queria “para andarem com Ele e para os mandar a pregar” (Mc 3,14). A primeira coisa que o apóstolo cristão precisa fazer é andar com o Senhor, ele precisa ser ao entrar em contato com Cristo, outro Cristo, o mesmo Cristo. É preciso que nos identifiquemos com Cristo também na maneira de expressar-nos, isto é, as nossas palavras irão, pouco a pouco, sendo verdadeiros veículos da doutrina de Cristo explicita e implicitamente: a calma e a paz ao falar, a sinceridade, a humildade ao dirigirmo-nos aos demais, todos esses são traços de uma personalidade que se identificou com Cristo nas suas palavras. É um discípulo que ama o seu Mestre. Não se trata de ser fanático, o fanatismo é um desvio da religiosidade; trata-se de apaixonar-se por Jesus Cristo. Toda a nossa vida cristã em todos os seus aspectos será um desenrolar-se do seguimento de uma Pessoa, a de Jesus. O nosso seguimento de Jesus leva-nos a uma entrega da própria vida, de toda a vida! Se tivéssemos mais vidas, mais felizes estaríamos pela ajuda que prestaríamos ao próprio Deus que quer fazer de nós verdadeira placas de sinalização para que os outros dele se aproximem.

 

Pe. Françoá Costa

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