Homilia do Padre Françoá Costa – XIX Domingo do Tempo Comum (Ano C)

Preocupações

“Não temais, pequeno rebanho” (Lc 12,32). É entranhável a maneira como o Senhor Jesus nos trata! Diante das dificuldades, das provas e de todo tipo de tribulação, Deus quer que confiemos nele. Que não nos “pré-ocupemos”, ou seja, que não nos ocupemos dos problemas antes mesmo que eles apareçam. Isso seria perder demasiada energia. Sempre teremos dificuldades, mas é preciso afrontá-las com sentido cristão: confiando totalmente em Deus e colocando todos os meios que estão à nossa disposição para vencê-las.

Também à hora de esforçar-nos por vencer as dificuldades, não podemos fazer como aquele senhor, um pai de família, que fumava muito e que, ao chegar a casa contou a seguinte noticia: “acabo de ler numa revista um artigo terrível sobre os males que causa o fumo, tanto é assim que eu já fiz um propósito”. A filha, animada com a notícia, interveio: “Que bom, pai, puxa vida, que alegria o senhor nos dá! E qual é a sua resolução? Parar de fumar?”. Resposta do pai: “Não. Vou parar de ler!” Não dá a impressão que também nós, muitas vezes, em lugar de querermos vencer um problema na vida espiritual, o promovemos? Isso talvez seja devido a algum apego oculto ao pecado.

O equilíbrio entre ter sanas ocupações e não preocupar-se é como estar numa corda bamba. É verdade: um pai de família tem que se “preocupar” em que não falte nada à sua família, mas não preocupar-se caso falte em algum momento; o jovem estudante tem que fazer de tudo para não reprovar determinada matéria, mas… caso reprove… Fazer o quê? Não preocupar-se e estudar mais. Um empresário sempre terá que verificar como vão as finanças, se pode fazer novos investimentos, se pode contratar novos funcionários, mas, ao mesmo tempo, saber entregar tudo nas mãos de Deus que cuida de todos.

Uma pessoa que confia em Deus sabe que todos os acontecimentos obedecem a uns desígnios aprovados ou pelo menos permitidos por parte do seu Pai do céu e que, por tanto, tudo acabará bem. Nós já encontramos o nosso tesouro, já vendemos tudo o que possuímos por esse tesouro e não necessitamos tesouros de poder, de glórias humanas, de faustos vazios, de dinheiros amontoados, o nosso é “um tesouro inesgotável nos céus, aonde não chega o ladrão e a traça não o destrói” (Lc 12,33). Aí está o nosso coração!

“Não andeis preocupados com a vossa vida, pelo que haveis de comer; nem com o vosso corpo, pelo que haveis de vestir. A vida vale mais do que o sustento e o corpo mais do que as vestes” (Lc 12,22-23). Com essas palavras, Jesus nos ensina a ter uma escala de valores: a vida vale mais! E em primeiro lugar, a vida da graça, da oração, dos sacramentos. Quantas preocupações por trabalhar mais, ganhar mais dinheiro e, ao mesmo tempo, quantos esquecimentos da Missa dominical, da oração, da família, dos filhos, dos amigos, do lazer! Poder-se-ia acabar rico e infeliz. Diante das diferentes facetas da existência, ocupar-se somente de uma – a de alimentar o próprio corpo e ganhar mais e mais dinheiro – nos faz profundamente empobrecidos. Preocupar-se tanto e ocupar-se de tão pouco? Qual é a ordem dos nossos valores? Quem ocupa o primeiro lugar na nossa vida? Deus, o dinheiro, os problemas?

Pe. Françoá Costa

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