Homilia do Padre Françoá Costa – XVIII Domingo do Tempo Comum (Ano C)

Avareza

Faz tempo que eu não assisto desenhos animados, mas me lembro ainda da figura do tio Patinhas, esse emblemático personagem que apareceu por primeira vez nos quadrinhos em 1947 e que sempre me pareceu um pouco avarento. Zeloso do seu “rico dinheirinho”, tio Patinhas faz de tudo para aumentar o seu tesouro, utiliza a violência em alguns casos e, no entanto, busca sempre manter um fundo de honestidade. A mansão do tio Patinhas e a sua “piscina” de dinheiro sugerem à minha imaginação um paralelismo com os grandes celeiros do homem rico da parábola de hoje (cfr. Lc 12,16-21).

“Guardai-vos escrupulosamente de toda avareza” (Lc 12,15) – é Jesus quem nos diz. Além do mais, como é curta a alegria dos avaros: “nesta noite ainda exigirão de ti a tua alma” (Lc 12,19). Mas, vejamos: não se trata de ter ou não ter. A avareza é uma atitude, uma disposição má que nos leva a estar demasiado preocupados com os bens materiais, em juntá-los, em não gastá-los, em não partilhar. A avareza vai corroendo a pessoa humana e não a deixa ser feliz já que a um bem material sempre se pode juntar um novo bem, e assim por diante com a consequente preocupação de efetivamente conseguir esse novo objeto. O problema não está nas coisas, de fato as chamamos bens materiais, a avareza é uma atitude da pessoa, algo que está dentro do coração humano, como os outros vícios capitais.

Até parece que os produtos estão gritando nas grandes lojas: “Compra-me! Você necessita de mim! O que você tem já está velho! Sou muito melhor! Compra-me! Compra-me!” E nós, diante desse constante estímulo do “ter”, nos rendemos! O nosso “rico dinheirinho”, ou melhor, o “meu” (dinheiro não se partilha!) dinheiro tem que render cada vez mais, não pode sofrer nenhum prejuízo, e melhor ganhar mais que muito. Consumismo, hedonismo, avareza!

Como é importante praticar o desprendimento dos bens materiais, a generosidade e a magnificência, caso queiramos ver-nos livres da avareza. Um exercício interessantíssimo para começar a vencer a avareza é emprestar com alegria. Como custa! E, no entanto, esse desprendimento momentâneo de um bem material – que depois retornará a nós – pode ser um primeiro caminho de generosidade. Logicamente, não se trata de emprestar o próprio diário a outros para praticar o desprendimento e a generosidade!

A avareza destrói amizades. Conta-se que três amigos que eram assaltantes, na hora de dividir o produto do roubo, pediram que um deles fosse comprar um garrafa de whisky para comemorar o êxito da empresa. Enquanto o companheiro foi comprar a bebida pensou consigo o quê fazer para ficar com todo o dinheiro sem ter que dividi-lo: “- já sei, vou comprar o whisky e coloco veneno dentro, os dois morrem e o dinheiro será todo meu”, pensou decidido a colocar o seu plano em ação. Os outros dois que tinham ficado à espera do amigo que fora comprar o whisky pensaram entre si que seria muito mais interessante dividir o dinheiro entre dois que entre três: daria mais para cada um. Combinaram que quando o outro chegasse o matariam e ficariam com o dinheiro só para os dois. Decididos a executar o plano, assim que chegou o outro amigo com o whisky, mataram-no, e, em seguida, para comemorar um novo êxito… beberam o whisky! Morreram os três! E de quem seria o dinheiro, fruto do roubo e da avareza?

A avareza vai tirando a nossa vitalidade, impede a felicidade e nos faz mesquinhos. Quando notemos que a avareza, a preocupação desmedida por acumular, está tomando conta do nosso coração, reajamos imediatamente: ela corrói por dentro e nos faz infelizes. Está claro que um pai de família tem que se preocupar em garantir um futuro para os seus filhos, um universitário terá que preocupar-se em fazer uma pequena biblioteca pessoal, uma mãe de família terá que guardar as roupas da família para outros que virão, isso não é avareza. Além do mais, não se trata de ter ou não, mas de que haja uma atitude de desapego daquilo que temos… ou não temos!

Pe. Françoá Costa

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