Homilia do Pe. André Luís Buchmann de Andrade

“Esta palavra é dura. Quem consegue escutá-la?” (Jo 6, 60)

“’É por isso que vos disse: ninguém pode vir a mim a não ser que lhe seja concedido pelo Pai’” (Jo 6, 65).

Idéias principais: Não podemos escolher só o que é agradável. Temos de seguir o Cristo inteiro.  O Evangelho não pode ser um peso para o cristão.

I. Não podemos escolher só o que é agradável.

Hoje em dia é comum que muitas pessoas pensem que o Evangelho deve ser adaptado aos costumes, aos povos, às necessidades das pessoas, ao modus vivendi da sociedade atual. Isso pode e deve ser assim no tocante à inculturação. Inculturar o Evangelho é torná-lo inteligível através dos valores locais e hodiernos que podem ser enobrecidos e elevados com o cristianismo. Mas há realidades que precisam ser adaptadas e adequadas ao Evangelho e não o contrário. Pensemos na poligamia, na bigamia, no adultério, no aborto, só para citar os exemplos mais gritantes.

Não podemos escolher apenas o que seja fácil e que apeteça ao gosto atual para ser vivido em nosso tempo com a desculpa de que as pessoas já não consigam viver certos temas.

Por exemplo, se hoje muitos casais se divorciam, não podemos dizer que a Igreja tenha de deixar de defender o Sacramento do Matrimônio; se hoje muitos abortos são feitos, não podemos pensar que, por causa desta prática, ele tenha deixado de ser pecado.

A verdade não se dá por estatística. A verdade não se dá pela maioria ou por votação. A verdade é objetiva.

A verdade nem sempre é agradável e prazerosa. Temos de aceitar a verdade quando ela é fácil, mas também quando é espinhosa.

II. Temos de seguir o Cristo completo.

Muitas pessoas corriam à procura do Senhor para buscar curas ou porque sabiam de Sua fama de multiplicador de pães, todavia, diante de um tema mais exigente, davam meia-volta e deixavam de buscá-Lo.

O trecho do Evangelho da Santa Missa de hoje nos dá exemplo desta conduta dos seguidores de Jesus por conveniência.

Enquanto Jesus, Nosso Senhor, multiplicava os pães, as multidões acorriam ao Seu encontro. Quando começou a ensinar que Ele era o Pão da Vida e a tratar a respeito da Eucaristia que era o oferecimento de Sua carne e de Seu sangue para a vida do mundo, então, os super-interessados passaram a desinteressar-se de segui-Lo: “Esta palavra é dura. Quem poderá escutá-la?”

O seguimento a Cristo ou existe ou não existe. Ou somos discípulos do Cristo completamente ou não o somos.

É claro que a cada dia aprendemos mais a segui-Lo. Porém o que não podemos fazer é escolher apenas a parte mais fácil.

O Senhor disse que tanto o caminho quanto a porta são estreitos.

Isso não significa que o cristão seja uma pessoa triste ou amarga por fazer somente coisas ruins de serem aceitas e a contragosto. De maneira alguma. O cristão deve, com alegria, espalhar, por este mundo, o bom perfume de Cristo, mesmo quando isso lhe custar.

III. O Evangelho não pode ser um peso.

Vivemos num tempo em que há muita dificuldade em seguir o Evangelho em alguns pontos.

Há pessoas que nem sabem o que significa a palavra castidade e nem imaginam que seja uma virtude, e virtude importante para a salvação do cristão. O Evangelho traz a importante afirmação do Senhor, nas Bem-aventuranças, a este respeito, de que os puros verão a Deus.

Há outras que pensam que o adultério não seja pecado. E o Evangelho ensina que aquele que pensa em cometer adultério já o cometeu em seu coração.

Outros, ainda, pensam que desviar dinheiro, verbas ou enganar os outros seja uma coisa lícita, permitida. Não roubar, não levantar falso testemunho, tudo faz parte da lista dos Dez Mandamentos e Jesus, no Evangelho, afirma que não veio para abolir a Lei e os Profetas, mas para dar-lhes pleno cumprimento.

Tentemos, hoje ainda, tirar uns minutinhos para a nossa reflexão pessoal e procuremos saber quais exigências de Cristo são difíceis para nós de serem observadas. Para uns poderá ser o perdão de que o próximo tanto necessita; para outros será a vivência da castidade; para outros, ainda, será a honestidade nos negócios.

Conta-se que um homem sempre reclamava de sua cruz, pois a achava muitíssimo pesada. Quando morreu e encontrou-se com Jesus, justo Juiz, a primeira coisa que fez foi reclamar do peso da cruz que carregou a vida toda na terra. E Jesus, que além de justo é sábio, disse àquele recém-chegado: “vamos até o depósito de cruzes e lá você me dirá que tamanho e qual o tipo de cruz seria adequado para ter carregado todos estes anos na terra”. O homem ficou contente com a proposta e chegando num grande armazém tratou de ir experimentando cruzes de vários materiais e tamanhos. Foi descartando as primeiras, porque não era possível carregá-las, pois pesavam sobremaneira. Depois experimentou umas muito levinhas e disse que aquelas não eram como a sua que foi muito pesada. E assim foi fazendo até que viu uma cruz que combinava bem com sua altura e parecia-lhe suportável. Escolheu-a, provou-a e, sem titubear, afirmou: “Esta teria sido a cruz ideal para eu ter carregado na terra!” E qual não foi sua surpresa quando escutou as seguintes palavras do Divino Mestre: “Pois foi justamente esta a sua cruz na terra!”

Deus não nos dá nunca uma cruz cujo peso nós não suportamos carregar. E se em algum momento fraquejamos, Ele nos ajuda com Seu ombro amigo.

Peçamos a Maria Santíssima que interceda por nós, a fim de que acreditemos que o peso do Senhor é leve e o Seu jugo é suave, para que nunca sejamos tentados a dizer: “Esta palavra é dura. Quem poderá escutá-la?”

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo”!

 

Pe. André Luís Buchmann de Andrade

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