Palavras do Papa no final da Via Sacra, no Coliseu (Semana Santa 2008)

«A Cruz nos torna irmãos e irmãs»

Palavras que Bento XVI dirigiu na noite de Sexta-Feira Santa ao final da Via-Sacra, que presidiu no Coliseu de Roma.

Queridos irmãos e irmãs:

Também nesse ano percorremos o caminho da cruz, a Via-Sacra, voltando a evocar com fé as etapas da paixão de Cristo. Nossos olhos voltaram a contemplar os sofrimentos e a angústia que nosso Redentor teve de suportar na hora da grande dor, que supôs o cume de sua missão terrena. Jesus morre na cruz e jaz no sepulcro. O dia da Sexta-Feira Santa, tão impregnado de tristeza humana e de religioso silêncio, se encerra no silêncio da meditação e da oração. Ao voltar para casa, também nós, como quem assistiu ao sacrifício de Jesus, batemos no peito, evocando o que aconteceu. É possível permanecer indiferentes perante a morte do Senhor, do Filho de Deus? Por nós, por nossa salvação, Ele se fez homem, para poder sofrer e morrer.

Irmãos e irmãs: dirijamos hoje a Cristo nossos olhares, com freqüência distraídos por dissipados e efêmeros interesses terrenos. Detenhamo-nos a contemplar sua cruz. A cruz, manancial de vida e escola de justiça e de paz, é patrimônio universal de perdão e de misericórdia. É prova permanente de um amor oblativo e infinito que levou Deus a fazer-se homem, vulnerável como nós, até morrer crucificado.

Através do caminho doloroso da cruz, os homens de todas as épocas, reconciliados e redimidos pelo sangue de Cristo, se converteram em amigos de Deus, filhos do Pai celestial. «Amigo», assim chama Jesus a Judas e lhe dirige o último e dramático chamado à conversão. «Amigo», chama a cada um de nós, porque é autêntico amigo de todos nós. Infelizmente, nem sempre conseguimos perceber a profundidade deste amor sem fronteiras que Deus tem por nós. Para Ele não há diferença de raça e cultura. Jesus morreu para libertar à antiga humanidade da ignorância de Deus, do círculo de ódio e violência, da escravidão do pecado. A cruz nos torna irmãos e irmãs.

Mas perguntemo-nos, neste momento, o que fizemos com este dom, o que fizemos com a revelação do rosto de Deus em Cristo, com a revelação do amor de Deus que vence o ódio. Tantos, também em nossa época, não conhecem a Deus e não podem encontrá-lo no Cristo crucificado. Tantos estão à busca de um amor ou de uma liberdade que exclui Deus. Tantos acreditam não ter necessidade de Deus.

Queridos amigos: após ter vivido juntos a paixão de Jesus, deixemos que nesta noite seu sacrifício na cruz nos interpele. Permitamos-lhe que ponha em crise nossas certezas humanas. Abramos o coração. Jesus é a verdade que nos faz livres para amar. Não tenhamos medo: ao morrer, o Senhor destruiu o pecado e salvou os pecadores, ou seja, todos nós. O apóstolo Pedro escreve: «sobre o madeiro levou nossos pecados em seu corpo, a fim de que, mortos para nossos pecados, vivêssemos para a justiça» (I Pedro 2, 24). Esta é a verdade da Sexta-Feira Santa: na cruz, o Redentor nos fez filhos adotivos de Deus, que nos criou à sua imagem e semelhança. Permaneçamos, portanto, em adoração ante a cruz.

Cristo, dai-nos a paz que buscamos, a alegria que desejamos, o amor que preenche nosso coração sedento de infinito. Esta é nossa oração nesta noite, Jesus, Filho de Deus, morto por nós na cruz e ressuscitado no terceiro dia. Amém.

[Tradução: Élison Santos e José Caetano. Revisão: Aline Banchieri. © Copyright 2008 – Libreria Editrice Vaticana]

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