Roteiro Homilético – III Domingo do Advento – Ano C

RITOS INICIAIS

 

Filip 4, 4.5

ANTÍFONA DE ENTRADA: Alegrai-vos sempre no Senhor. Exultai de alegria: o Senhor está perto.

 

Não se diz o Glória.

 

Introdução ao espírito da Celebração

 

O pessimismo é uma espécie de miopia: a pessoa vê apenas o que é material e não conta com todo o mundo sobrenatural: Deus, a Santíssima Virgem, os Anjos e Santos que estão já na bem-aventurança.

Invade os corações quando, humanamente, parece que não há mais possibilidades e torna-nos profundamente negativos ao falar de tudo: da saúde, transportes, da comodidade das casas, dos meios de comunicação social. Às vezes nem a própria Igreja escapa a esta visão pessimista.

Esquecemos que todas as coisas deste mundo são zeros, e nada valem se não lhes colocarmos no princípio do número a unidade – Deus.

A Liturgia deste 3.º Domingo do Advento é um convite solene e insistente à verdadeira alegria.

Acolhamos este convite a cultivemos a saudável alegria, porque agrada a Deus.

 

ACTO PENITENCIAL

 

(Tempo de silêncio. Apresentamos, como alternativa, elementos para o esquema C)

 

•   Senhor Jesus: perdoai os nossos muitos pensamentos pessimistas,

muitas vezes fruto da nossa falta de fé e de verdadeira esperança.

Senhor, tende piedade de nós!

 

     Senhor, tende piedade de nós!

 

•   Cristo, ajudai-nos a combater todas as apreciações pessimistas

que a nada conduzem e nos roubam a sã alegria e o optimismo.

Cristo, tende piedade de nós!

 

     Cristo, tende piedade de nós!

 

•   Perdoai-nos as atitudes de desânimo que não ajudam a resolver

os muitos problemas com que as pessoas se debatem na vida.

Senhor, tende piedade de nós!

 

     Senhor, tende piedade de nós!

 

Deus todo poderoso tenha compaixão de nós,

perdoe os nossos pecados e nos conduza à vida eterna.

 

ORAÇÃO COLECTA: Deus de infinita bondade, que vedes o vosso povo esperar fielmente o Natal do Senhor, fazei-nos chegar às solenidades da nossa salvação e celebrá-las com renovada alegria. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

 

LITURGIA DA PALAVRA

 

Primeira Leitura

 

Monição: O profeta Sofonias anuncia-nos que, no início, no meio e no fim desse «caminho de conversão», espera-nos o Deus que nos ama.

O seu amor não só perdoa as nossas faltas, mas provoca a conversão, transforma-nos e renova-nos. Daí o convite à alegria: Deus está no meio de nós, ama-nos e, apesar dos nossos descaminhos, insiste em nos amar.

 

Sofonias 3, 14-18a

14Clama jubilosamente, filha de Sião; solta brados de alegria, Israel. Exulta, rejubila de todo o coração, filha de Jerusalém. 15O Senhor revogou a sentença que te condenava, afastou os teus inimigos. O Senhor, Rei de Israel, está no meio de ti e já não temerás nenhum mal. 16Naquele dia, dir-se-á a Jerusalém: «Não temas, Sião, não desfaleçam as tuas mãos. 17O Senhor teu Deus está no meio de ti, como poderoso salvador. Por causa de ti, Ele enche-Se de júbilo, renova-te com o seu amor, exulta de alegria por tua causa, 18acomo nos dias de festa».

 

Magnífico hino de júbilo a Sião, um cântico de esperança de salvação dirigido ao «resto» (cf. v. 13) que pela sua fidelidade sobreviverá às tremendas calamidades que o profeta anuncia. Uma leitura cristã (lectio divina) do belíssimo texto enquadra-se às mil maravilhas nesta quadra litúrgica; por um lado, condiz com o tom de alegria deste Domingo, por outro, faz pensar nas palavras de Gabriel à Virgem Maria (cf. Lc 1, 28.30.48); daí que condiz bem com este texto a tradução da saudação angélica «avé!» por «alegra-te!».

«Filha de Sião», «Filha de Jerusalém», forma poética de se dirigir aos habitantes da cidade, e mesmo a todos os israelitas (como aqui sucede). A Igreja é o novo «Israel de Deus», «o monte Sião» (cf. Gal 4, 26; 6, 16; Hbr 12, 22; Apoc 14, 1; 21).

«Sião» (etimologicamente lugar seco) era a cidadela da capital, Jerusalém. Inicialmente designava a fortaleza conquistada por David aos jebuseus, a colina oriental de Jerusalém (Ofel), que começou a ser chamada «cidade de David», para onde este transladou a arca da aliança. Quando Salomão construiu o Templo, a Norte de Sião, e para lá levou a arca, também se começou a dar a esse lugar o nome de Sião. Depois veio a designar o conjunto da cidade de Jerusalém, ou todos os seus habitantes e mesmo todo o povo de Israel. Na tradição cristã, veio a dar-se uma confusão acerca da localização topográfica do monte Sião, ao situá-lo no Cenáculo, na colina ocidental da cidade alta. Esta confusão parece ter origem em que o Cenáculo foi considerado a sede da primitiva Igreja de Jerusalém, o novo «monte Sião», segundo Hbr 12, 22 e Apoc 14, 1. A Arqueologia esclarece estes locais.

 

Salmo Responsorial

Is 12, 2-3.4bcd.5-6 (R. 6)

 

Monição: O profeta Isaías entoa um hino de louvor acção e graças ao nosso Deus. No centro deste texto está a salvação prometida pelo Senhor e realizada em Cristo Jesus.

O Altíssimo espera agora que nos decidamos a um trabalho sério pela santidade pessoal que nos está prometida.

 

Refrão:         EXULTAI DE ALEGRIA,

                      PORQUE É GRANDE NO MEIO DE VÓS O SANTO DE ISRAEL.

 

Ou:                POVO DO SENHOR, EXULTA E CANTA DE ALEGRIA.

 

Deus é o meu Salvador,

Tenho confiança e nada temo.

O Senhor é a minha força e o meu louvor.

Ele é a minha salvação.

 

Tirareis água com alegria das fontes da salvação.

Agradecei ao Senhor, invocai o seu nome;

anunciai aos povos a grandeza das suas obras,

proclamai a todos que o seu nome é santo.

 

Cantai ao Senhor, porque Ele fez maravilhas,

anunciai-as em toda a terra.

Entoai cânticos de alegria, habitantes de Sião,

porque é grande no meio de vós o Santo de Israel.

 

Segunda Leitura

 

Monição: S. Paulo, na Formosíssima carta aos fiéis de Filipos, anima-nos a vivermos em alegria continua e dá-nos a razão para isso: o Senhor está próximo.

Não somos néscios que vivem alheios aos problemas reais que afligem todas as pessoas, mas confiamos filialmente no Senhor nosso Deus.

 

Filipenses 4, 4-7

Irmãos: 4Alegrai-vos sempre no Senhor. Novamente vos digo: alegrai-vos. 5Seja de todos conhecida a vossa bondade. O Senhor está próximo. 6Não vos inquieteis com coisa alguma; mas em todas as circunstâncias, apresentai os vossos pedidos diante de Deus, com orações, súplicas e acções de graças. 7E a paz de Deus, que está acima de toda a inteligência, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus.

 

A carta é um escrito da prisão, num tom muito familiar e predominantemente exortatório, incitando a perseverar na vida cristã, apresentada como um desporto sobrenatural (3, 13-16). Ela tem aqui o «seu ponto culminante» (H. Schlier).

«Alegrai-vos sempre no Senhor». A alegria é uma nota típica desta epístola (cf. 1, 3.18.25; 2, 2.17.18.28-29; 3, 1; 4, 1.10) e da vida do cristão. É uma virtude para viver «sempre», pois não tem o seu fundamento em nada de efémero, mas «no Senhor», na certeza de que Deus é Pai providente, que «está próximo» – «no meio de ti» (cf. 1ª leitura); é uma alegria sobrenatural. A leitura, que fornece o mote do canto de entrada, deu origem à designação deste 3.º Domingo do Advento como Domingo Gaudete, com manifestações de alegria pela proximidade da vinda de Cristo: flores no altar, paramentos cor de rosa…

 

Aclamação ao Evangelho          

  Is 61, 1 (cf. Lc 4, 18)

 

Monição: A mensagem de Jesus Cristo é radicalmente libertadora, libertando-nos das muitas escravidões que o pecado cria em nós.

Alegremo-nos com esta certeza que nos dá fé, e aclamemos o Evangelho da nossa salvação.

 

ALELUIA

 

O Espírito do Senhor está sobre mim: enviou-me a anunciar a boa nova aos pobres.

 

 

Evangelho

 

São Lucas 3, 10-18

Naquele tempo, 10as multidões perguntavam a João Baptista: «Que devemos fazer?» 11Ele respondia-lhes: «Quem tiver duas túnicas reparta com quem não tem nenhuma; e quem tiver mantimentos faça o mesmo». 12Vieram também alguns publicanos para serem baptizados e disseram: «Mestre, que devemos fazer?» 13João respondeu-lhes: «Não exijais nada além do que vos foi prescrito». 14Perguntavam-lhe também os soldados: «E nós, que devemos fazer?» Ele respondeu-lhes: «Não pratiqueis violência com ninguém nem denuncieis injustamente; e contentai-vos com o vosso soldo». 15Como o povo estava na expectativa e todos pensavam em seus corações se João não seria o Messias, 16ele tomou a palavra e disse a todos: «Eu baptizo-vos com água, mas está a chegar quem é mais forte do que eu, e eu não sou digno de desatar as correias das suas sandálias. Ele baptizar-vos-á com o Espírito Santo e com o fogo. 17Tem na mão a pá para limpar a sua eira e recolherá o trigo no seu celeiro; a palha, porém, queimá-la-á num fogo que não se apaga». 18Assim, com estas e muitas outras exortações, João anunciava ao povo a Boa Nova».

 

Continuamos hoje a ouvir a pregação daquele que veio a preparar os caminhos do Senhor, a sua vinda. A sua pregação tinha provocado uma forte sacudidela nas consciências, por isso temos hoje, num trecho exclusivo de S. Lucas, uma repetida pergunta, muito do seu gosto: «Que devemos fazer?» (vv. 10.12.14; cf. Lc10, 25; 18, 18; Act 2, 37; 22, 10). A conversão (pregada pelo Baptista) leva sempre a atitudes concretas de mudança de vida, vida nova que implica interrogar-se sobre deveres morais que se têm de cumprir, recorrendo a quem possa esclarecer a nossa consciência, uma vez que para actuar bem não basta actuar com «consciência certa, ou segura», mas é preciso actuar com «consciência verdadeira» (de acordo com a lei moral objectiva). Nesta formação da consciência para actuar segundo a vontade de Deus, devem-se ter muito em conta os deveres profissionais e do próprio estado, como é o caso aqui dos empregados do fisco (publicanos), dos soldados…

16 «Baptizar-vos-á com o Espírito Santo e com o fogo». Os exegetas, em geral, pensam que João profetiza o Sacramento do Baptismo – que dá o Espírito Santo e que purifica – embora alguns, tendo em conta o contexto – «a pá» de joeirar, «limpar a eira, recolher o trigo, queimar a palha» (cf. Mt 13, 42) – pensem que o Baptista não sai da perspectiva vétero-testamentária e que toma o baptismo em sentido figurado: seria o juízo escatológico anunciado pelos profetas, que o Messias levaria a cabo com a sua vinda no fim dos tempos. João Baptista, numa perspectiva do A.T., uniria a primeira à segunda vinda do Messias, a primeira em que veio como Salvador e a segunda em que virá como Juiz. Uma coisa é certa: João reconhece a insuficiência e o carácter transitório do seu baptismo, que não podia dar o Espírito Santo prometido em abundância para os dias do Messias, nem purificar a fundo as consciências. Por outro lado, na linguagem de Lucas parece haver uma alusão ao Pentecostes (cf. Act 1, 5; 2, 3-4).

 

Sugestões para a homilia

 

• A alegria deste Advento

Qual alegria buscamos?

O fundamento desta alegria

Deus connosco, nossa alegria

• Como conquistar a verdadeira alegria

Desprendimento

Viver a justiça

Construir a paz na humildade

1. A alegria deste Advento

A liturgia reserva o terceiro domingo deste Advento para nos fazer um chamamento à alegria. Pretende ajudar-nos a compreender que não há incompatibilidade entre uma preparação cuidadosa e séria para a vinda do Salvador e a verdadeira alegria de viver. Pelo contrário, teremos alegria na medida em que tomarmos a sério a vocação à santidade recordada com peculiar insistência neste ciclo do Natal.

 

a) Qual alegria buscamos? «Clama jubilosamente, filha de Sião; solta brados de alegria, Israel. Exulta, rejubila de todo o coração, filha de Jerusalém

Aquando da «Primavera de Praga» de 1968, em que a União Soviética fez acordar dos sonhos de liberdade a juventude da Checoslováquia com uma invasão militar brutal, usaram os patriotas, como último recurso, uma arma: trocar as placas de sinalização, voltando-as ao contrário. Deste modo, o avanço do exército soviético sobre a capital deste povo escravizado demorou mais algum tempo.

O Inimigo do homem usa esta arma para nos desorientar, voltando em sentido errado as placas de sinalização que indicam o caminho da felicidade e alegria.

Caricaturiza-se o cristianismo como a religião de pessoas de condição humilde, idosas e desiludidas da vida, ao mesmo tempo que se aponta a Lei de Deus como uma escravidão para o homem. (Quando a TV transmite reportagens dos peregrinos de Fátima insiste frequentemente nesta imagem).

Deste modo, se consegue que muitas pessoas procurem a alegria por caminhos que as leva à escravidão e à tristeza – a sensualidade o poder e a riqueza – ao mesmo tempo que manifestam uma rebelião contra as verdades da fé.

Havemos de procurar a verdadeira alegria que é a paz com Deus, connosco próprios e com os irmãos, e que só do Céu nos vem.

«A alegria que deves ter não é aquela que poderíamos chamar fisiológica, de animal sadio, mas uma outra, sobrenatural, que procede de abandonar tudo e de te abandonares a ti mesmo nos braços carinhosos do nosso Pai-Deus.» (S. JOSEMARIA ESCRIVÁ, Caminho, n.º 659).

E logo vem a pergunta que nos ajuda a um exame de consciência: «Não há alegria? – Então pensa: há um obstáculo entre Deus e eu. – Quase sempre acertarás.» (IDEM, ibidem, n.º 662).

 

b) O fundamento desta alegria. «O Senhor, Rei de Israel, está no meio de ti e já não temerás nenhum mal

A alegria que devemos buscar fundamenta-se na nossa filiação divina. O Senhor libertou-me. Compete-me agora aceitar jubilosamente este dom que Ele me oferece.

O filho pródigo é um exemplo claro de como devemos procurar esta alegria. O filho mais novo da Parábola procurou-a na libertinagem dos sentidos, começando por se afastar da casa paterna. Mas à medida que o tempo passa, ele começa a perceber que só tem duas alternativas: regressar aos braços do Pai ou morrer de fome, de tristeza e no abandono.

A esta certeza da fé há-de juntar-se – para que a alegria se torne efectiva – um esforço pessoal generoso para corresponder ao Amor do Pai. A filiação divina foi-nos dada sem qualquer merecimento da nossa parte; o esforço generoso é confiado a cada um de nós.

Neste sentido, podemos dizer que a alegria está dentro de nós, porque é a presença misteriosa do Senhor que a torna possível.

À medida que se arrebata Deus do coração das pessoas, vai-se eclipsando a tristeza, porque, sem Ele, não há verdadeira alegria possível.

Ela deve ser reconquistada diariamente num esforço pela conversão pessoal, indispensável para que nos aproximemos d’Ele.

O apelo à alegria tem como alicerce esta certeza da fé: Deus ama-nos e reside no meio de nós com uma proposta de salvação e de felicidade para todos os que O acolhem. Esta verdade provoca uma imensa alegria no coração dos crentes.

Damos sempre – na família, no trabalho e na convivência social – testemunho dessa alegria? Ou deixamo-nos levar por um tom pessimista ao falar das dificuldades com que nos enfrentamos?

Será que as nossas comunidades – a família, a paróquia, o mudo de trabalho em que nos movemos –são espaços onde se nota a alegria pelo amor e pela presença de Deus?

 

c) Trabalhemos pela verdadeira alegria. «’Por causa de ti, Ele enche-Se de júbilo, renova-te com o seu amor, exulta de alegria por tua causa, como nos dias de festa’

Procuremos acabar com os falsos mitos de que a fidelidade a Deus nos afasta da verdadeira alegria e felicidade. Quem nos apregoa isto vê as placas de sinalização em sentido contrário. Em vez de nos aproximar, afastar-nos íamos cada vez mais dela.

Desterremos do nosso coração visões pessimistas e negativas que nos levam a ver tudo escuro, num beco sem saída. Deus ama-nos e colabora generosamente no nosso esforço para melhorar espiritualmente.

Deixemos que transpareça na nossa conversa um sadio optimismo, que brota da nossa fé. Nada nos pode acontecer sem que Deus o permita, porque Ele é o Senhor do universo; e Ele não o permitirá se isso não puder resultar num bem para nós, porque é o melhor dos pais.

Evitemos as apreciações pessimistas que tornam o ambiente irrespirável e nos deixam desmotivados para a construção de um mundo novo.

Entremos em contacto connosco mesmos e com Deus pela oração, quando o dia amanhecer para nós toldado de nuvens de tristeza e pessimismo.

«Para dar remédio à tua tristeza, pedes-me um conselho. – Vou dar-te uma receita que vem de boa mão – do Apóstolo Tiago: – ‘Trista turaliquis vestrum?’ estás triste, meu filho? — ‘Oret’ Faz oração! Experimenta e verás.» (S. JOSEMARIA ESCRIVÁ, Caminho, n.º 663).

2. Como conquistar a verdadeira alegria

João Baptista, exercendo a sua missão de Precursor de Jesus, faz ouvir a sua voz às multidões que o procuram. Havia – como hoje – nas pessoas uma grande inquietação à procura das certezas que são o fundamento da verdadeira alegria. É neste contexto que se situam as respostas que vai dando.

Também nós devemos fazer a mesma pergunta que os ouvintes de João: «Que devemos fazer?» Acolhamos as chamadas de atenção que ele faz para cada um de nós, pela palavra e pelo exemplo da sua vida penitente e desprendida.

 

a) Desprendimento. «Quem tiver duas túnicas reparta com quem não tem nenhuma; e quem tiver mantimentos faça o mesmo

Deus colocou à nossa disposição muitos bens para nos ajudarem nesta caminhada para o Céu.

Mas não podemos esquecer que se trata apenas de meios e não do fim da nossa vida. Sem este cuidado, de senhores dos bens tornamo-nos escravos, perdendo a liberdade de filhos de Deus e a verdadeira alegria.

O que faz o Precursor é proclamar o caminho da verdadeira alegria e convidar-nos a segui-lo.

Os bens que temos à nossa disposição aparecem sempre dons de Deus e, portanto, somos apenas administradores deles de tal modo que um dia prestaremos contas da nossa administração.

As desigualdades chocantes, a indiferença que nos leva a fechar o coração aos gritos de quem vive abaixo do limiar da dignidade humana, o egoísmo que nos impede de partilhar com quem nada tem, são obstáculos intransponíveis que impedem o Senhor de nascer no meio de nós. As nossas comunidades e nós próprios damos testemunho desta partilha que é sinal do Reino proposto por Jesus?

Há muitas coisas que não utilizamos e que nunca nos farão falta. Porque não dá-las, tornando-as úteis para outros?

Este desprendimento abrange também o que somos e o que podemos fazer pelos outros. Seria uma visão egoísta da vida se pensássemos apenas nos interesses pessoais.

Também pode haver escravidão no esbanjamento dos bens, na comida, nos meios de transporte e na apresentação. A virtude aparece sempre de mãos dadas com a austeridade de vida.

 

b) Viver a justiça. «Não pratiqueis violência com ninguém nem denuncieis injustamente; e contentai-vos com o vosso soldo.».

A ambição dos bens materiais leva rapidamente à injustiça, gerando para nós uma nova escravidão.

A verdadeira alegria alimenta-se também de um religioso respeito pelos direitos dos outros.

São muitas as tentações que nos assaltam neste campo: não cumprir os contratos, não pagar as dívidas, enganar as pessoas menos experimentadas nos negócios, passar à frente dos outros roubando-lhes a possibilidade de emprego, não respeitando as filas de espera nos transportes, no atendimento, etc.

«Não exerçais violência sobre ninguém»… E os actos de violência, que tantas vezes atingem inocentes e derramam sangue ou, ao menos, provocam sofrimento e injustiça?

E os actos gratuitos de terrorismo, ainda que sejam mascarados de luta pela libertação?

E a exploração de quem trabalha, a recusa de um salário justo, ou a exploração de imigrantes estrangeiros?

Os publicanos eram aqueles que extorquiam dinheiro de modo duvidoso, despojando os mais pobres e enriquecendo de forma ilícita. Que dizer dos modernos esquemas imorais (às vezes conformes com a lei civil, mas imorais) de enriquecimento rápido? Que dizer da corrupção, do branqueamento de dinheiro sujo, da fuga aos impostos, das taxas exageradas cobradas por certos serviços, das falcatruas?

E as prepotências que se cometem nos tribunais, nas repartições públicas, na própria casa e, tantas vezes, nas recepções das nossas igrejas? Neste quadro, é possível acolher Jesus?

Será possível prejudicar conscientemente um irmão ou a comunidade inteira e acolher «o Senhor que vem», fonte da verdadeira alegria?

É fácil cair na tentação de utilizar os nossos conhecimentos, os nossos «trunfos» de influência, de conhecimentos, de dinheiro, para com eles oprimir os outros.

 

c) Construir a paz na humildade. «E a paz de Deus, que está acima de toda a inteligência, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus

João Baptista é um semeador de paz e alegria nos corações das pessoas que o vão escutar no deserto da Judeia.

Dá um testemunho eloquente de humildade apresentando-se, não como o Messias, mas como a voz dele, o seu arauto.

Veste humildemente e reduz as suas necessidades de consumo ao mais elementar, valendo-se dos produtos que encontra á sua volta: gafanhotos e mel silvestre.

Volta a dar testemunho de humildade quando é procurado por Jesus, para ser baptizado por ele… Porque não se considera digno de lhe desatar as correias das sandálias.

Aos publicanos, odiados cobradores de impostos, que exorbitavam no cumprimento de um dever, exigindo mais do que estava estabelecido e usando métodos ilícitos, S. João Baptista adverte: «Não pratiqueis violência com ninguém nem denuncieis injustamente; e contentai-vos com o vosso soldo».

É muito perigosa a tentação de cada um se julgar superior aos outros e exigir aquilo a que não tem direito, servindo-se das armas que tem à mão: mais conhecimentos do que os outros, maior quantidade de bens e mais influência social.

A paz e a alegria têm de ser construídas na verdade e na caridade.

Jesus Cristo dá-nos, em cada celebração do Domingo, na qual se renova o sacrifício da Nova lei, o exemplo de construir a paz imolando-se por nós.

Com Maria construiremos a paz, imolando-nos pelos nossos irmãos, numa doação generosa de todos os momentos.

 

Fala o Santo Padre

 

Neste terceiro Domingo de Advento a liturgia convida-nos à alegria do espírito. Fá-lo com a célebre antífona que retoma uma exortação do apóstolo Paulo: «Gaudete in Domino», «Alegrai-vos sempre no Senhor… o Senhor está próximo» (cf. Fl 4, 4.5). Também a primeira Leitura bíblica da Missa é um convite à alegria. O profeta Sofonias, no final do século VII a.C., dirige-se à cidade de Jerusalém e à sua população com estas palavras: «Rejubila, filha de Sião, solta gritos de alegria, povo de Israel! / … O Senhor, teu Deus, está no meio de ti como poderoso Salvador!» (Sf 3, 14.17).

O próprio Deus é representado com sentimentos análogos. Diz o Profeta: «Ele exulta de alegria por tua causa, pelo seu amor te renovará. / Ele dança e grita de alegria por tua causa, como nos dias de festa» (Sf 3, 17-18a). Esta promessa realizou-se plenamente no mistério do Natal, que celebraremos daqui a uma semana, e que pede para ser renovado no «hoje» da nossa vida e da história.

A alegria que a liturgia desperta nos corações dos cristãos, não está reservada só a nós; é um anúncio profético destinado à humanidade inteira, de modo particular aos mais pobres, neste caso aos mais pobres de alegria! Pensemos nos nossos irmãos e irmãs que, especialmente no Médio Oriente, em algumas zonas da África e noutras partes do mundo vivem o drama da guerra: que alegria podem viver? Como será o Natal deles?

Pensemos em tantos doentes e pessoas sozinhas que, além de serem provadas no físico, também o são no ânimo, porque com frequência se sentem abandonadas: como partilhar com eles a alegria sem faltar de respeito ao seu sofrimento? Mas pensemos também nos que especialmente jovens perderam o sentido da verdadeira alegria, e a procuram em vão onde é impossível encontrá-la: na corrida exasperada para a auto-afirmação e o sucesso, nos falsos divertimentos, no consumismo, nos momentos de êxtase, nos paraísos artificiais da droga e de qualquer forma de alienação.

Não podemos não confrontar a liturgia de hoje e o seu «Alegrai-vos!» com estas dramáticas realidades. Como nos tempos do profeta Sofonias, é precisamente a quem está na prova, aos «feridos da vida e órfãos da alegria» que se dirige de modo privilegiado a Palavra do Senhor. O convite à alegria não é uma mensagem alienante, nem um paliativo estéril, mas, ao contrário, é profecia de salvação, apelo a um resgate que parte da renovação interior.

Para transformar o mundo, Deus escolheu uma humilde jovem de uma aldeia da Galileia, Maria de Nazaré, e interpelou-a com esta saudação: «Alegra-te, ó cheia de graça, o Senhor está contigo».

Encontra-se naquelas palavras o segredo autêntico do Natal. Deus repete-as à Igreja, a cada um de nós: Alegra-te, o Senhor está próximo! Com a ajuda de Maria, ofereçamo-nos, com humildade e coragem, para que o mundo acolha Cristo, que é a nascente da verdadeira alegria. […]

Bento XVI, Vaticano, 17 de Dezembro de 2006

 LITURGIA EUCARÍSTICA

 

INTRODUÇÃO À LITURGIA EUCARÍSTICA

 

A autêntica alegria brilha no rosto de uma Pessoa, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem: Jesus Cristo.

Na Liturgia da Palavra acaba de nos ensinar como encontrá-la na vida de cada dia. Agora, na Liturgia Eucarística, vai alimentar as nossas forças para esta caminhada. Pelo ministério do sacerdote, vai transubstanciar o pão e o vinho que levámos ao altar no Seu Corpo e Sangue.

 

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS: Fazei, Senhor, que a oblação deste sacrifício se renove sempre na vossa Igreja, de modo que a celebração do mistério por Vós instituído realize em nós plenamente a obra da salvação. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

Prefácio do Advento I: p. 453 [586-698] ou II p. 455 [588-700]

 

SANTO

 

Saudação da Paz

 

A paz é inseparável da alegria, no coração de cada pessoa. Deus quer-nos felizes na terra, como Seus filhos e irmãos uns dos outros.

Estaremos dispostos a acolher com generosidade este convite divino para que nos reconciliemos de tal modo que não haja mais na terra, senão uma só família – a dos filhos de Deus?

 

Saudai-vos na paz de Cristo!

 

Monição da Comunhão

 

A paz e a alegria exigem de nós um esforço contínuo, uma luta sem tréguas contra tudo o que nos escraviza.

Conhecendo a nossa condição de fragilidade o Senhor preparou para nós o maná do Céu que é Ele mesmo, o Seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade, tão realmente e perfeitamente como está no Céu.

Examinemo-nos diligentemente e avivemos a nossa fé, para O recebermos com pureza, amor e devoção.

cf. Is 35, 4

ANTÍFONA DA COMUNHÃO: Dizei aos desanimados: Tende coragem e não temais. Eis o nosso Deus que vem salvar-nos.

 

 

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO: Concedei, Senhor, pela vossa bondade, que este divino sacramento nos livre do pecado e nos prepare para as festas que se aproximam. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

 

RITOS FINAIS

 

Monição final

 

Sejamos em todos os caminhos do mundo semeadores de paz e de alegria. Levemos ao coração de todos a mensagem de que Deus nos ama e a todos quer ver felizes.

E ajudemos os nossos irmãos a preparar uma alegria eterna no Céu com uma vida generosa na terra.

 

HOMILIAS FERIAIS

 

3ª SEMANA

 

2ª Feira, 17-XII: Cristo, luz do mundo.

Num 24, 2-7. 15-17 / Mt 21, 23-27

Balaão: Eu vejo, mas não para já e avisto, mas não de perto: um Astro sai de Jacob e um ceptro se ergue de Israel.

Balaão, inspirado pelo Espírito de Deus, profetiza o aparecimento de um Astro (Leit), que representa a estrela vista pelos Magos e que os conduziu até Belém (CIC, 528). Estes começaram por ver uma estrela e acabaram por ver o próprio Sol da justiça.

Quando Jesus foi apresentado no Templo foi reconhecido como o Messias esperado, como a luz das nações e a glória de Israel. Por Ele ser a luz do mundo é que tem o direito de ensinar (Ev).

 

3ª Feira, 18-XII: Confiança plena em Deus.

Sof 3, 1-2. 9-13 / Mt 21, 28-32

Ai da cidade rebelde e impura! Não escutou nenhum apelo, nem aceitou qualquer aviso. Não teve confiança no Senhor.

O profeta Isaías transmite esta lamentação do Senhor: Não é escutado nem têm confiança n’Ele (Leit). Aconteceu o mesmo com os sacerdotes e anciãos do povo que não deram crédito a João Baptista. Pelo contrário, os publicanos e as mulheres de má vida receberam o baptismo de penitência (Ev).

Jesus aproxima-se de nós. Como o vamos receber: aceitamos a sua palavra? Procuramos o arrependimento (a conversão), acompanhado das obras correspondentes? (parábola do Ev).

 

4ª Feira, 19-XII: Os frutos abundantes da vinda do Messias.

Is 45, 6-8. 18. 21-25 / Lc 7, 19-23

Ó céus, mandai o orvalho lá do alto, e as nuvens derramem a justiça; abra-se a terra, floresça a salvação.

Trata-se de uma profecia claramente messiânica (Leit), tal como o Salmo: «Ó céus, dai-nos o justo, como orvalho».

O Senhor dará o que é bom: o orvalho, a justiça; e a nossa terra (cada um de nós) dará o seu fruto (S. Resp.). A vinda do Messias é um sinal de grande esperança, dada a abundância de frutos: os cegos vêem, os coxos andam (Ev). E o orvalho divino derramar-se-á igualmente sobre a nossa alma, enchendo-a de graças.

 

5ª Feira, 20-XII: O nome de Jesus.

Gen 49, 2. 8-10 / Mt 1, 1-17

(Jacob): O ceptro não há-de fugir a Judá, até que venha Aquele que lhe tem direito e a quem os povos hão-de obedecer.

Jacob anuncia aos seus filhos a vinda do Messias (Leit). E é precisamente da sua descendência que foi gerado «José, esposo de Maria, do qual nasceu Jesus» (Ev).

nome de Jesus quer dizer ‘Deus salva’. A Ele devemos recorrer muitas vezes: «Que o teu nome, Jesus esteja sempre no fundo do meu coração e ao alcance das minhas mãos, a fim de que todos os meus afectos e as minhas acções a ti sejam dirigidas» (S. Bernardo).

 

6ª Feira, 21-XII: José, testemunha silenciosa.

Jer 23, 5-8 / Mt 1, 18-24

Dias virão em que farei surgir para David um rebento justo. Será um verdadeiro rei e agirá com sabedoria.

Jeremias anuncia a vinda do Salvador, como descendente messiânico de David (Leit). É a José, filho de David, que receberá a mensagem do Anjo, que lhe comunica o nascimento de Jesus (Ev).

S. José é uma ‘testemunha silenciosa’ (João Paulo II), que vai meditando em todos acontecimentos que rodearam o nascimento de Jesus, pelo que é um verdadeiro ‘Mestre’ da vida espiritual. Além disso, ao conhecer os planos de Deus (Ev), integra-se plenamente neles. Procuremos imitá-lo.

 

Sábado, 22-XII: Programa de preparação para o Natal.

Jz 13, 2-7. 24-25 / Lc 1, 5-25

O Anjo do Senhor apareceu a essa mulher e disse-lhe: És estéril e não tens tido filhos, mas hás-de conceber e terás um filho.

Uma mulher estéril, esposa de Manoá, recebe a visita do Anjo do Senhor, que lhe anuncia o nascimento de um filho, Sansão (Leit). O mesmo acontecerá com Isabel, esposa de Zacarias, que deu à luz João Baptista (Ev).

João Baptista foi enviado a fim de preparar os caminhos do Senhor: «A assembleia deve preparar-se para o encontro com o Senhor, ser ‘um povo bem disposto’ (Ev). A graça do Espírito Santo procura despertar a fé, a conversão do coração e a adesão à vontade do Pai» (CIC, 1098). Aqui temos um bom programa de preparação.

 

 

 

 

 

 

Celebração e Homilia:          FERNANDO SILVA

Nota Exegética:                     GERALDO MORUJÃO

Homilias Feriais:                   NUNO ROMÃO

Sugestão Musical:                 DUARTE NUNO ROCHA

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