Roteiro Homilético – XII Domingo do Tempo Comum – Ano B

RITOS INICIAIS

 

Salmo 27, 8-9

ANTÍFONA DE ENTRADA: O Senhor é a força do seu povo, o baluarte salvador do seu Ungido. Salvai o vosso povo, Senhor, abençoai a vossa herança, sede o seu pastor e guia através dos tempos.

 

Introdução ao espírito da Celebração

 

Quando pensamos nos acontecimentos deste mundo, dos países, das famílias, por vezes ficamos com a sensação de nos encontrarmos perante uma desordem generalizada, um caos enorme.

Os opressores e os astutos parecem predominar sobre os que se comportam bem. Diante desta realidade viramo-nos para Deus e às vezes acusámo-l’O de estar ausente da nossa história.

A liturgia deste domingo mostra-nos que em Jesus reside a força de Deus e os pormenores do Evangelho vão-nos revelar a aplicação concreta à nossa vida quotidiana. A convicção de que Cristo está sempre no meio de nós é razão para o optimismo que deve presidir à fé de cada cristão.

Pensemos nas muitas vezes que a nossa fé vacilou e peçamos perdão ao Senhor.

 

ORAÇÃO COLECTA: Senhor, fazei-nos viver a cada instante no temor e no amor do vosso Santo nome, porque nunca a vossa providência abandona aqueles que formais solidamente no vosso amor. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

 

LITURGIA DA PALAVRA

 

Primeira Leitura

 

Monição: Esta leitura contém a resposta de Deus às perguntas angustiosas de Job e ensina-nos a superar a tentação do desânimo e o desespero, descobrindo na própria solidão e fraqueza, a presença reconfortante de Deus.

 

Job 38, 1.8-11

1O Senhor respondeu a Job do meio da tempestade, dizendo: 8«Quem encerrou o mar entre dois batentes, quando ele irrompeu do seio do abismo, 9quando Eu o revesti de neblina e o envolvi com uma nuvem sombria, 10quando lhe fixei limites e lhe tranquei portas e ferrolhos? 11E disse-lhe: ‘Chegarás até aqui e não irás mais além, aqui se quebrará a altivez das tuas vagas’».

 

A leitura é um pequenino extracto da parte final do livro de Job, em que Deus é apresentado, não a desvendar o mistério do sofrimento do inocente, mas apelando a que o sofredor inocente eleve o seu espírito para Deus, contemple as maravilhas da natureza e reconheça humildemente a soberania absoluta de Deus e a sua admirável sabedoria: Deus sabe mais e os seus desígnios, que são sempre justos, ultrapassam a nossa pobre compreensão e os nossos acanhados pontos de vista. A leitura foi escolhida em função do Evangelho de hoje, em que Jesus é apresentado como Deus, pois, como nesta passagem do livro de Job, Ele é o Senhor do mar, dominando o seu assombroso poder, «a altivez das sua vagas» (v. 11). Já S. Gregório Magno, nos Comentários Morais ao livro de Job, relacionava este texto com o do Evangelho em que Jesus acalma a tempestade.

 

Salmo Responsorial     

Sl 106 (107), 23-24.25-26.28-29.30-31 (R. 1b)

 

Monição: O salmo de meditação é um hino de louvor à bondade de Deus que na Sua providência acompanha os homens nas suas dificuldades.

 

Refrão:         DAI GRAÇAS AO SENHOR,

                      PORQUE É ETERNA A SUA MISERICÓRDIA.

 

Ou:                CANTAI AO SENHOR, PORQUE É ETERNO O SEU AMOR.

 

Os que se fizeram ao mar em seus navios,

a fim de labutar na imensidão das águas,

esses viram os prodígios do Senhor

e as suas maravilhas no alto mar.

 

À sua palavra, soprou um vento de tempestade,

que fez encapelar as ondas:

subiam até aos céus, desciam até ao abismo,

lutavam entre a vida e a morte.

 

Na sua angústia invocaram o Senhor

e Ele salvou-os da aflição.

Transformou o temporal em brisa suave

e as ondas do mar amainaram.

 

Alegraram-se ao vê-las acalmadas,

e Ele conduziu-os ao porto desejado.

Graças ao Senhor pela sua misericórdia,

pelos seus prodígios em favor dos homens.

 

Segunda Leitura

 

Monição: S. Paulo convida-nos a entrar num novo estilo de vida como consequência da nossa inserção no mistério de Cristo Ressuscitado.

 

2 Coríntios 5, 14-17

Irmãos: 14O amor de Cristo nos impele, ao pensarmos que um só morreu por todos e que todos, portanto, morreram. 15Cristo morreu por todos, para que os vivos deixem de viver para si próprios, mas vivam para Aquele que morreu e ressuscitou por eles. 16Assim, daqui em diante, já não conhecemos ninguém segundo a carne. Ainda que tenhamos conhecido a Cristo segundo a carne, agora já não O conhecemos assim. 17Se alguém está em Cristo, é uma nova criatura. As coisas antigas passaram: tudo foi renovado.

 

Estes poucos versículos aparecem num contexto em que S. Paulo, face aos seus detractores, trata de justificar o seu comportamento honrado e coerente para com os fiéis de Corinto (vv. 11-13). A leitura é mais uma das impressionantes sínteses paulinas da essência da vida cristã. «O amor de Cristo», quer se entenda como o que Ele nos tem ou como o que nós Lhe devemos, é o que impele o Apóstolo no seu actuar. A morte de Cristo por nós não pode deixar ninguém indiferente.

14 «Todos, portanto, morreram». Pela nossa união a Cristo, pelo Baptismo (cf. Rom 6), também nós participarmos misticamente da Morte de Cristo, associando-nos a ela, como membros que somos de Cristo; daqui deriva S. Paulo a necessidade de morrer para o pecado, já que Cristo, morreu pelo pecado.

16 «Já O não conhecemos assim»: S. Paulo, que outrora conheceu a Cristo «segundo a carne», isto é, segundo os preconceitos da gente da sua raça sem fé, agora já tem dele um novo e perfeito conhecimento, a partir da graça da fé.

17 «É uma nova criatura». O Baptismo operou no cristão mudança tão radical que se pode falar duma nova criação, um novo ser a partir do nada e de menos que nada, do pecado. «As coisas antigas passaram», isto é, o pecado, o erro, os preconceitos, as ideias puramente humanas, etc.

 

Aclamação ao Evangelho          

  Lc 7, 16

 

Monição: A actividade libertadora de Jesus é a grande «visita» de Deus que vem salvar o Seu povo. Essa visita é a manifestação do amor compassivo, que atende os mais pobres e necessitados.

 

ALELUIA

 

Apareceu entre nós um grande profeta: Deus visitou o seu povo.

 

 

Evangelho

 

São Marcos 4, 35-41

35Naquele dia, ao cair da tarde, Jesus disse aos seus discípulos: «Passemos à outra margem do lago». 36Eles deixaram a multidão e levaram Jesus consigo na barca em que estava sentado. Iam com Ele outras embarcações. 37Levantou-se então uma grande tormenta e as ondas eram tão altas que enchiam a barca de água. 38Jesus, à popa, dormia com a cabeça numa almofada. 39Eles acordaram-no e disseram: «Mestre, não Te importas que pereçamos?» Jesus levantou-Se, falou ao vento imperiosamente e disse ao mar: «Cala-te e está quieto». O vento cessou e fez-se grande bonança. 40Depois disse aos discípulos: «Porque estais tão assustados? Ainda não tendes fé?» 41Eles ficaram cheios de temor e diziam uns para os outros: «Quem é este homem, que até o vento e o mar Lhe obedecem?»

 

Continuamos com o Evangelista do ano, numa secção do seu Evangelho que conta uma série de milagres e a actividade de Jesus na Galileia. Para começar, temos o milagre da tempestade acalmada, que tem servido para aplicações pertinentes à vida da Igreja e também à vida de cada fiel. Na barca agitada pela fúria das ondas vê-se uma imagem da Igreja avançando por meio de grandes perigos, que ameaçam afogá-la: as perseguições, as heresias, os escândalos dos seus filhos… Jesus adormecido aparece como o silêncio de Deus, que não parece prestar atenção aos seus filhos em perigo. No grito dos Apóstolos, que na barca despertam a Jesus, está uma imagem da oração dos fiéis, mais expressiva em Mateus, que não emprega o apelativo usado pelos Apóstolos – «Mestre» (v. 39) – mas o título de «Senhor»: «Senhor, salva-nos que perecemos!» (cf. Mt 8, 25); esta era a forma como os cristãos já então invocavam a Jesus. Mas o Senhor vela sempre pela sua Igreja, por isso tem actualidade a sua suave advertência: «Porque estais tão assustados? Ainda não tendes fé?» (v. 40).

38 «Com a cabeça numa almofada». Este episódio evangélico é o único em que os três Sinópticos nos apresentam Jesus a dormir, algo tão humano e tão natural, mas só Marcos fala da almofada; este é um pormenor, que, como tantos outros, empresta ao Evangelho de S. Marcos aquele colorido tão típico; atrás de detalhes como este adivinha-se uma testemunha ocular, o próprio Apóstolo Pedro, de quem Marcos foi discípulo e colaborador directo.

41 «Quem é este homem?» A pergunta dos discípulos é a interrogação que o Evangelista quer que façam os seus leitores e as pessoas de todos os tempos. Não é possível que alguém se depare com a pessoa de Jesus sem se interrogar sobre quem é Ele. Perante Ele não se pode ficar na indiferença. E o Evangelho fornece a chave do mistério da sua pessoa.

 

Sugestões para a homilia

 

A nossa experiência quotidiana

Segundo ouvimos na primeira leitura de hoje Job, ante as calamidades que sofrera, brada ao Senhor e Deus responde-lhe do meio da tempestade recordando-lhe como tinha fixado os limites do mar. Ora, o mar, como já várias vezes o notámos em anteriores comentários, era o símbolo do caos, das trevas e do mal. Deus comunica como subjugou tais forças adversas.

Perante a realidade do mundo de hoje, somos muitas vezes tentados, como Job, a queixar-nos da ausência de Deus nas nossas vidas. Vemos que os opressores, os astutos e os de mau carácter predominam, cometendo injustiças. Por outro lado, sucedem-se desgraças, calamidades, doenças que atingem pessoas inocentes que ficam a sofrer. E interrogámo-nos: onde está Deus nestas ocasiões? Não se terá esquecido dos pobres e indefesos? Quereríamos ter à nossa disposição um Deus que interviesse para transformar a relação de forças que existe no mundo, que Se aliasse com as vítimas das injustiças para vencer e abater quem as comete.

Deus, porém, pede-nos, como fez a Job, uma confiança absoluta no seu amor, para acreditarmos que Ele continua a guiar os acontecimentos da história e da vida, como Pai amoroso de todos os homens.

Assim o vivenciaram os discípulos que eram transportados naquela barca e que sentiram a força enorme que procedia de Jesus para serenar o vento e o mar.

A força que procede de Jesus

Os discípulos que seguiam na barca, símbolo da Igreja, tiveram a sensação de que o Senhor não os ajudava e que apenas podiam contar com as suas próprias capacidades. Todavia, Cristo estava com eles, embora aparentemente a dormir sem se incomodar com a tempestade (símbolo da Sua morte).

Também nós muitas vezes temos a sensação de sermos afectados pelos acontecimentos e pelas contrariedades e que Jesus está adormecido perante os nossos problemas, difamações ou incompreensões. Sentimos que Ele está longe ou ausente. Mas tal não acontece. Ele é um Deus que deixa fazer, permitindo que a cobiça, as contendas, a falsidade e as arbitrariedades se instalem e que as ocorrências sigam o seu trajecto. Depois, quando o mal parece inevitável, Deus mostra que quem vence é sempre Ele.

Os discípulos que seguiam na barca cometeram o erro de apenas se terem lembrado do Mestre quando se viram numa condição desesperada. Acontece o mesmo connosco quando somente perante qualquer adversidade que nos aconteça nós recorremos a Deus para que nos salve, para que interfira milagrosamente, a fim de mudar o curso da história. Será autêntica esta nossa fé?

Quem tem fé em Cristo vive em constante relacionamento com Ele, não O invoca apenas quando as coisas vão mal. Os discípulos foram admoestados como homens de pouca fé, porque apenas ficaram cheios de admiração quando o mar e o vento se acalmaram em obediência a Jesus.

Se Jesus comprova possuir tal força, significa que Ele é o Senhor, por isso eles sentiram esse temor (no sentido bíblico do termo = admiração respeitosa) de quem Lhe reconhece a capacidade de dominar todos os poderes que ameaçam a vida.

O cristão tem de saber viver esta fé optimista em Jesus.

Razão de ser optimista

Esse optimismo advém da certeza de que Cristo está sempre presente no meio de nós, conforme prometeu. S. Paulo refere isto na segunda leitura de hoje cuja ideia central é a de que o amor de Cristo o levou a ser capaz de morrer por todos nós. Este Seu gesto, diz-nos S. Paulo, deve conduzir os seus discípulos a segui-l’O pelo mesmo caminho, como nova criação que não deve olhar para trás, para as falhas cometidas, para a vida passada. É indispensável sempre olhar para a frente e deixar-se guiar pela esperança da Sua presença constante na nossa vida.

Que o Senhor nos auxilie a ter tal aptidão.

 

 

Oração Universal

 

     Oremos a Deus nosso Pai,

para que atenda as preces

que Lhe dirigimos neste dia,

pela intercessão de Seu amado Filho

Jesus Cristo, presente no meio de nós,

dizendo:

 

     Senhor, vinde em nosso auxílio.

 

1.  Pelo Santo Padre, Bispos, Presbíteros e Diáconos,

para que nas suas actividades apostólicas

sejam guiados pelo optimismo

e pela esperança,

oremos ao Senhor.

 

2.  Para que cessam as guerras, as discórdias, a violência

e todos se reconheçam como irmãos,

filhos do mesmo Deus nosso Pai.

oremos irmãos.

Para que nos oriente nas dificuldades e perigos,

a fim de que não se abale a nossa fé,

oremos irmãos.

 

3.  Por todos nós aqui presentes,

para que sintamos

a presença constante de Jesus Cristo

em todas as nossas actividades,

oremos irmãos.

 

4.  Para que todas as nossas falhas

sejam ultrapassadas

pelo desejo de amarmos,

a Deus e aos irmãos,

com toda a generosidade,

oremos irmãos.

 

5.  Por todos os nossos irmãos já falecidos,

que amaram o Senhor servindo o próximo,

para que Ele os receba na glória do Seu Reino,

oremos irmãos.

 

Senhor,

Deus misericordioso e omnipotente,

que por intermédio de Jesus

nos ensinastes a viver

 na generosidade para com os irmãos,

ajudai-nos a crescer na unidade e no amor.

Por nosso Senhor Jesus Cristo…

 

 

LITURGIA EUCARÍSTICA

 

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS: Por este sacrifício de reconciliação e de louvor, purificai, Senhor, os nossos corações, para que se tornem uma oblação agradável a vossos olhos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

SANTO

 

Monição da Comunhão

 

Que a comunhão do vosso Corpo e Sangue nos fortifique no empenhamento de seguir Jesus Cristo. Que o Senhor se torne presente na nossa vida, numa perspectiva de fé e de amor, a fim de sermos para os nossos irmãos fonte de esperança optimista em todas as dificuldades do dia-a-dia.

 

Salmo 144, 15

ANTÍFONA DA COMUNHÃO: Os olhos de todos esperam em Vós, Senhor, e a seu tempo lhes dais o alimento.

 

Ou

Jo 10, 11.15

Eu sou o Bom Pastor e dou a vida pelas minhas ovelhas, diz o Senhor.

 

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO: Senhor, que nos renovastes pela comunhão do Corpo e do Sangue de Cristo, fazei que a participação nestes mistérios nos alcance a plenitude da redenção. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

 

RITOS FINAIS

 

Monição final

 

Apoiados na reflexão deste domingo, tenhamos o optimismo e a firme esperança de acreditar que o Senhor não permitirá que o mal triunfe. Ele prometeu estar sempre connosco para nos ajudar a vencer todas as forças adversas: solidão, cansaço, fraqueza, desânimo ou abatimento.

Saiamos desta celebração certos de desfrutar da paz e da companhia permanente de Nosso Senhor Jesus Cristo.

 

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